Revista Controle & Instrumentação Edição nº 240 2018
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A evolução das unidades de medida e do Sistema
Internacional de Unidades está ligado ao caráter
do ser humano, de padronizar e criar instrumentos
para esta ação – processo fundamental para o desenvolvimento,
e avanços científicos e tecnológicos. O Sistema
Internacional de Unidades é um sistema dinâmico, já que
existe um trabalho constante dos órgãos que fazem parte
do sistema, na averiguação das possibilidades de mudança
nas definições das unidades de base, que implicarão
em maior exatidão das mesmas.
E as unidades de medida passarão por uma nova
mudança: algumas unidades básicas de medida que conhecemos
serão definidas por propriedades constantes
da natureza, como a velocidade da luz, por exemplo, e
não por um valor determinado arbitrariamente por um
grupo de cientistas. As novas unidades serão baseadas na
compreensão moderna da física, incluindo leis da mecânica
quântica e a teoria da relatividade de Einstein. A
única coisa que pode ameaçar as novas definições do sistema
de medidas seria descobrirmos que as constantes da
natureza, como velocidade da luz e constante de Planck,
variam no Universo. Os profissionais que estudam a
medição das grandezas propuseram redefinir as unidades
de medida de massa (quilograma), da corrente elétrica
(ampères), a quantidade de substância (mol) e de temperatura
(Kelvin) com base no valor fixo de constantes da
natureza, de maneira que não possam variar mais. Então,
o Comitê Internacional de Pesos e Medidas propôs novas
definições formais para as unidades base do SI. |
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“As mudanças no SI irão mexer na base da metrologia,
alterando a forma como se referenciam determinadas
grandezas de base. Os benefícios são níveis de incerteza sensivelmente menores, maior capacidade de reprodução
da grandeza física, associada a menores custos, ainda que
os mesmos continuem altos. No caso do quilograma padrão,
ainda hoje, dependemos do grande K (nome dado
ao padrão de 1kg, feito de uma liga de 90% Platina e 10
% Irídio, que fica acondicionado no BIPM na Suíça), para
poder verificar outros padrões de referência pelo mundo.
Isso traz custos altíssimos, além de dificuldades
técnicas. Então, poder replicar valores de
referência através de constantes físicas vai eliminar
essas barreiras e manter a rastreabilidade
e confiabilidade das medições”, afirma Welington Silva, Gerente de Metrologia da
NOVUS, para quem é uma ótima oportunidade
para semear a cultura da metrologia,
que não é uma tarefa fácil.
“Nem mesmo existe uma estrutura de ensino
que promova a formação de profissionais nessa área.
Por ser uma matéria transversal, técnicos, tecnólogos e
engenheiros têm certo grau de contato nas bancas acadêmicas,
mas carecemos de especialistas na área. Isso acaba
por dificultar a popularização de termos mais corretos, e
o inadequado ainda reina no dia-a-dia. Ainda iremos conviver
por um tempo com pessoas citando a temperatura
do dia seguinte no telejornal em graus ‘centígrados’,
ou o frentista oferecendo a ‘calibração’ dos pneus,” diz
Wellington. |
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“O que está acontecendo é que a Conferência Geral
sobre Pesos e Medidas (CGPM) vai redefinir quatro unidades
de medida básicas: o quilo, o ampère, o Kelvin e o mol.
Essa redefinição visa a relacionar essas unidades a constantes
fundamentais, e não a padrões arbitrários; portanto, o
que se busca é estabelecer referências reproduzíveis para
essas unidades. Embora a imprecisão atual na reprodução
dos padrões arbitrários seja imperceptível
nas atividades do dia-a-dia, essa redefinição tem
impacto significativo nas pesquisas científicas,
que exigem um elevado nível de precisão em
seus cálculos. Mas, no que tange às normas e
boas práticas, exceto aquelas que fazem referência
ao padrão a ser utilizado para essas
quatro unidades, não existe necessidade de alterações”,
conta João Bassa, da ISA. |
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“Fora do ambiente metrológico, poucos perceberão
as mudanças e, mais do que isso, todo o cuidado será
tomando para que, no dia-a-dia, as medições
com definições anteriores continuem
válidas, levando-se em conta
suas incertezas. Quem ganha na
qualidade da medição é a ciência e
a indústria que use tecnologia
de ponta, como, por
exemplo, em medições
de caracterização física
e química de nanomateriais”,
conta Cesar Cassiolato,
presidente da Vivace.
“A padronização técnica e a metrologia
vêm apresentando caráter a cada dia mais
estratégico, em diferentes aspectos da indústria.
Toda mudança envolvendo tecnologia, por menor que seja, acompanha um custo específico. Mas, em
se tratando de indústria, vejo a metrologia e padronização
técnica e de processos como ferramentas para o aumento
da qualidade, performance, competitividade, inovação e
redução de custos” afirma Cassiolato. |
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Os usuários poderão obter rastreabilidade
ao SI, valendo-se das mesmas fontes atuais
(Institutos Nacionais de Metrologia e laboratórios
acreditados), e comparações internacionais vão assegurar
sua consistência. Por exemplo, o valor da constante
de Planck será fixado para assegurar que não haja mudanças
no quilograma: as incertezas oferecidas pelos INMs a
seus clientes de calibração não serão afetadas.
Cassiolato ressalta que, no caso do Ampère e outras
unidades elétricas, as mudanças exigirão atualizações dos
valores de padrões, de suas constantes em softwares de
calibração e mesmo reavaliação de incertezas padrões. A
proposta é que o Ampère continue a ser a unidade de
base da grandeza intensidade de corrente elétrica, mas
seu valor será estabelecido fixando o valor numérico da
carga elementar, exatamente igual 1,602176565 × 10E-
19, quando expresso na unidade SI para carga elétrica
A×s, que é igual a Coulomb (C).
A redefinição do Kelvin, baseado na constante de
Boltzmann, não terá efeito imediato na medição de temperatura
ou na rastreabilidade dessas medições, e passará
despercebida no dia-a-dia para a maioria dos usuários.
O Kelvin continuará a ser a unidade de temperatura termodinâmica,
mas seu valor será estabelecido fixando o
valor numérico da constante de Boltzmann, exatamente
igual a 1,3806488 ×10E-23, quando expresso em unidades
do SI. O mesmo acontece com a redefinição do Mol
que, sendo redefinido de acordo com uma quantidade
específica de entidades, tipicamente átomos ou moléculas,
poderá ter a rastreabilidade estabelecida por meio
de técnicas já existentes, incluindo o uso de medição de
massa, juntamente com tabelas de pesos atômicos e a
constante de massa molar (que continuará sendo
aproximadamente 1 g/mol). Os pesos atômicos
não serão afetados pela mudança. A variação
na incerteza será tão pequena que não vai
requerer mudança nas medições. |
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“As mudanças nas definições das grandezas do Sistema
Internacional de Unidades (SI) causam impacto na realização
prática dessas grandezas por institutos nacionais
de metrologia, causando pouco impacto em laboratórios
acreditados e laboratórios de chão-de-fábrica,;no entanto,
a concepção da cadeia de rastreabilidade sofre algumas
alterações. Devido às correlações que existem entre as
teorias fundamentais da Física, as constantes
fundamentais utilizadas para as definições
das unidades do SI possuem correlação
entre si, e a padronização da
grandeza tempo e frequência passa
a ser necessária para dar suporte à
realização de seis das sete unidades
do SI”, ressalta Luiz Vicente Gomes
Tarelho, Pesquisador e Tecnologista
em Metrologia e Qualidade, Divisão de
Metrologia em Tecnologia da Informação
e Telecomunicações, Instituto Nacional de Me- trologia,
Qualidade e Tecnologia – Inmetro. |
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“Em nossos processos, ainda não identificamos nenhum
impacto nos sistemas de medição, seja nas atividades de calibração
ou nas ações operacionais, porém, será importante
um trabalho de alinhamento com os envolvidos com essas
grandezas para que não surjam dúvidas no futuro. Até o momento,
não creio que as validações dos sistemas nos laboratórios
de desenvolvimento passarão por revisões em procedimentos.
Vale lembrar que, para qualquer mudança, um
sistema robusto de gerenciamento sempre se faz necessário
– neste caso, não deve ser diferente; precisamos de um trabalho
assertivo para alinhamento sobre práticas e mudanças
que possam surgir, com todo o time envolvido. O que reforça
a necessidade de investimento em pessoas com treinamentos
específicos”, frisou Paulo César de Souza Ramos, da Engenharia
de Manutenção e Instrumentação da Oxiteno.
“As mudanças geram impacto, globalmente. As questões
que envolvem a metrologia devem ser padronizadas,
para que não existam divergências regionais prejudiciais
ao desempenho da calibração e qualidade dos resultados
das medições. Ressaltando que toda mudança deve
ser realizada de maneira controlada e amparada pelo
Sistema de Gestão. Sem dúvida, essas mudanças são
impactantes, e deve-se revisar o Sistema de Gestão da
Calibração, assim como qualquer outro Sistema de Gestão
da Qualidade, na ocorrência de mudanças. Sempre com
foco na qualidade dos resultados das calibrações. E garantir
muito treinamento a todos os envolvidos em ações metrológicas.
A começar pelos Órgãos Reguladores, que são os
que mais devem difundir e cobrar para que as melhores
práticas sejam implementadas e utilizadas. Toda mudança
requer tempo, treinamento e muito trabalho, para que os
objetivos sejam alcançados. Muitas vezes, não somente o
retrabalho é danoso, também as perdas que podem ocorrer
são significativas. É por isso que as mudanças
devem ser realizadas de maneira
controlada,” Ivan Canever, Diretor
da Inca Consultoria |
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Luis Vicente explica: “Por
exemplo, para a grandeza massa,
a definição do quilograma deixa
de ser baseada num artefato materializado,
o Protótipo Internacional
do Quilograma, e passa a ser realizada
com a medição da constante de Planck,
com uso de uma Balança de Kibble, ou com uso de uma
esfera de silício. As calibrações realizadas com uso dos
pesos-padrão passarão a ter um adicional na planilha de
incerteza, devido à mudança da padronização. Outro
exemplo é a reprodução das grandezas elétricas tensão
e resistência, dependentes das constantes de Josephson
e von Klitzing, que passarão a ter valores sem incerteza,
devido ao estabelecimento da constante de Planck e
do valor da carga elementar do elétron como constantes
fundamentais. Essa alteração pode levar à necessidade de
ajustes nos valores de padrões de tensão e resistência usados
nos laboratórios de calibração e ensaios, e mudança
nas planilhas de incerteza dos serviços de calibração”.
As novas definições entrarão em vigor em maio de
2019, e há necessidade de ações de divulgação para garantir
um maior entendimento sobre o assunto, para que
a indústria possa se adaptar e respeitar as novas recomendações.
O uso da rede de serviços de calibração e ensaio
dos laboratórios acreditados pela CGCRE ou dos laboratórios
primários do Inmetro já é uma prática da indústria,
e a adaptação desses laboratórios acreditados às novas
definições automaticamente traria maior adesão do sistema
produtivo ao novo SI. |
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“De fato, as medições feitas pelas definições anteriores
devem continuar sendo válidas e nós não devemos
sentir maiores impactos. Eles deverão aparecer mais fortemente
nos laboratórios de metrologia e em empresas de
uso intensivo de alta tecnologia. Com o passar do tempo,
isso deve se refletir em medidas mais confiáveis em todos
os instrumentos da empresa, conforme eles forem sendo
calibrados e ajustados com base nas novas referências.
Penso que, mesmo que a atualização não seja entendida
em seu todo, ela vai ser respeitada, porque os laboratórios
de metrologia vão utilizá-la e isso vai
fazer com que o instrumento retorne para as
empresas calibrado, ajustado e validado com
base nas novas definições”, comenta a engenheira
MSc. Tânia Mara Pereira Marques,
da USDO – Unidade de Serviço de Desenvolvimento
Operacional da Sanepar. |
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Segundo equipe da Usiminas, o impacto
maior dessa atualização será para as empresas
parceiras que fazem calibrações externas dos padrões.
E podem acontecer pequenas mudanças, se necessário,
nos valores encontrados nos padrões da empresa.
“Sempre passamos por auditorias internas, externas e de
clientes. Seguimos às normas e também obedecemos ao
VIM – (vocabulário internacional de metrologia). Adaptações
geralmente são rápidas, pois, fizemos um desenvolvimento
no SAP e temos total acesso para modificações e ou
melhorias no que tange nossas atividades”. |
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Metrologia 4.0
Estamos vivendo a quarta revolução industrial, que já
está transformando a forma como vivemos, trabalhamos
e nos relacionamos. Essa revolução promove uma grande
perturbação em todas as áreas, e só é possível graças aos
recentes desenvolvimentos no campo da metrologia.
Até a metade da década de 1950, as empresas administravam
todas as suas informações em registros impressos,
e também era via papel que essas informações fluíam.
Cada vez mais, as informações organizacionais e o fluxo
de informações entre os principais atores dos negócios
foram sendo computadorizados. As empresas investem
em sistemas de informação para atingir a excelência operacional
(produtividade, eficiência e agilidade); desenvolver
novos produtos e serviços; estreitar o relacionamento
com o cliente e atendê-lo melhor; melhorar a tomada de
decisão (em termos de exatidão e velocidade); promover
a vantagem competitiva; assegurar a sobrevivência.
“Entendo que, em pela quarta revolução industrial,
temos de partir para sistemas digitais. Impressos,
somente em casos extremos. E, ainda que nas
empresas se tenham definidos, pela alta direção,
responsáveis técnicos pela administração
do sistema, e responsável pela inserção
dos dados dos instrumentos locais, norteadas
por critérios técnicos e de comprometimento
com os objetivos do sistema. Seria ideal
utilizar um sistema de assinatura eletrônica
para validar as ações definidas pelo sistema, assim
como garantir que todas as solicitações sejam autorizadas,
somente quando realizadas através do sistema. Devese,
ainda, garantir que a base de dados do sistema esteja
sempre atualizada em relação a atualizações das normas
e procedimentos, que servirão de base para a elaboração
das especificações técnicas e bases de dados para análise
crítica. Uma condição muito importante para a garantia
da integridade das informações na base de dados é que
todas as intervenções rotineiras sejam realizadas por meio
de senha, e que todo o histórico seja mantido, sem possibilidade
de ser apagado. Nenhum instrumento, após ser
inserido no sistema, pode ser apagado e possibilidades de
alterações na base de dados dos instrumentos devem ser
definidas. A palavra-chave, aqui, é conectividade. Entre o
sistema de calibração, calibradores, sistemas de gestão e
fábricas inteligentes”, afirma Cassiolato.
O monitoramento de fenômenos físicos remotos e
seu controle é possível graças aos desenvolvimentos de
novos sensores, técnicas de aquisição, melhores sistemas
de aquisição de dados, e assim por diante. O advento da
Indústria 4.0 e o impacto da Internet das Coisas na melhoria
dos processos industriais fortalecem as metodologias
de medição e inspeção, para que possam acompanhar
essa revolução que emerge.
Tania entende a Metrologia 4.0 como “uma evolução
tecnológica natural da metrologia, que modifica a forma de trabalho, trazendo a inspeção e o controle de qualidade
do laboratório para serem realizadas mais próximas no
chão-de-fábrica, onde as medições passarão a ser feitas,
cada vez mais, sem a necessidade de interferência humana,
e os processos vão se autocorrigir, com base nessas
medições automatizadas, garantindo maior eficiência nos
processos”.
Como ciência das medições e suas aplicações, a adequação
da metrologia às necessidades da Indústria 4.0
traz uma maior informatização nos processos industriais
associados às tecnologias de automação.
“As medições realizadas para controle de processos
industriais ou de manufatura, cada vez mais, devem permitir
uma virtualização do ambiente de produção, com
uma descentralização das informações. Uma preocupação
importante da metrologia está relacionada a padronizações
que possuam interoperabilidade e compatibilidade,
facilitando o uso dessas características no ambiente produtivo.
Na Dmtic estamos criando um serviço da calibração
remota de padrões de frequência com uso de satélites,
para auxiliar no desenvolvimento das soluções de internet
das coisas para a indústria 4.0, dando confiabilidade para
a sincronização das redes que fazem parte do ambiente
produtivo e administrativo”, conta Luis Vicente.
A automação das medições dos sensores usados
numa linha de produção permite calibrações e validações
online, com redução do tempo de parada e maior praticidade
para a gestão da qualidade do processo. Segundo a
designação da ITU – União Internacional de Telecomunicações,
dentro da perspectiva de camadas para sensores/
dispositivos, rede, aplicações e segurança da informação,
a automação das medições e calibrações facilita o atendimento
aos requisitos de operação de cada uma dessas
camadas. |
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“Vários prestadores de serviços precisam utilizar novas
tecnologias para reduzir custo, ganhar competitividade,
sem comprometer a qualidade das atividades de calibração.
Entendemos que a Metrologia 4.0 trará a elevação
do hardware e software aliados ao
capital humano, tornando a calibração
mais confiável e produtiva
na instrumentação e,
consequentemente, dentro
da indústria. Auxiliará os times
para a melhora contínua dos
controles de processo e análise
crítica”, lembra Newton Bastos,
Gerente de Contas da Presys Instrumentos
e Sistemas Ltda.
“Trabalhamos fortemente para que a Usiminas esteja
inserida na indústria 4.0. Possuímos, atualmente, alguns
equipamentos de medição de espessura nas linhas de produção,
que já trazem um nível de inteligência que propiciará
a evolução para uma plataforma machine learning,
simulação digital e calibração automática. Confiabilidade
no processo, agilidade e armazenamento das informações,
possibilitando rastreabilidade, são as principais vantagens;
dependência de comunicação fulltime com o servidor
para realizar a comparação entre objeto e padrão, ausência
de supervisão técnica são as desvantagens mais claras,”
conta a equipe da Usiminas, que trabalha com servidores
internos – por isso, trabalhar com dados em nuvens seria
um grande desafio a ser superado. “Além da segurança da
informação e os softwares voltados para proteção dos dados,
imprescindíveis para essa superação, teríamos grandes
volumes de dados para análise, e a integridade desses
dados precisa estar garantida”. |
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Tania Marques concorda: “Levar os dados para a nuvem
é simples de dizer, mas nada simples de fazer. Existem
integrações de software e hardware que precisam ser
feitas desde o ponto da interface de comunicação com o
sensor, para levar os dados passando por estruturas de redes
de comunicação de dados, de curta e de longa distância,
além da necessária integração com servidores e bases
de dados. A integridade dos dados de medição precisa ser
garantida ao longo de toda essa estrutura de integrações.
Além disso, jogar os dados para a nuvem requer implementação
de cyber security, garantindo que os dados de
medição não sejam acessados ou modificados por partes
não interessadas. É preciso ter a rastreabilidade, saber por
onde os dados de medição passaram, ao longo de toda a
estrutura de comunicação até chegar na nuvem e no ponto
final onde os dados serão utilizados”. |
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Com a tecnologia digital, e sensores inteligentes com alto nível de conectividade, a otimização dos processos
de calibração pode proporcionar ganhos ainda
não conseguidos na indústria com metodologias convencionais.
Comunicação sem fio, dados em tempo
real, dados em nuvem, maior reprodutibilidade nos
processos, emissão de relatórios online de forma automática,
gerenciamento de ativos, avaliação de tendências
dos valores medidos, e antecipação às possíveis
falhas, melhores técnicas de medição, mais confiáveis
e automáticas, permitindo a rastreabilidade e monitoramento
dessas medições remotamente por meio de
diversos sensores distribuídos ao longo da planta industrial.
“Um pacote composto por inteligência artificial, contenção
de vulnerabilidades, testes de penetração, gestão
da informação e protocolos de segurança da informação,
são elementos que devem fazer parte da rotina e
compor a pesquisa de usuários interessados
em usar um serviço de nuvem”, comenta
Wellington. |
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Silvia Martins, da Five Consulting,
pontua que, quando nos referimos à Indústria
4.0, imediatamente nos lembramos de
otimização envolvendo automação, troca
de dados, internet das coisas, computação
em nuvem, etc. “A Metrologia 4.0, assim como
a Validação 4.0, vem da possibilidade de utilizamos
troca de dados, automação e computação em nuvem
para melhorar os nossos processos”. |
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Mas, ainda que esteja crescendo uso de sistemas
de gerenciamento de calibração de instrumentos,
que oferece confiabilidade, segurança, conformidade
e produtividade, ainda é comum que os sistemas tenham
a alimentação dos dados, feita de maneira manual,
gerando riscos de erros. “A captura automática
dos dados é fundamental para a integridade do processo
de calibração, pois, evita o erro de transcrição e
agiliza o processo, trazendo maior performance para a
área. E a computação em nuvem é fundamental para a
mobilidade e gestão dos dados e atividades. Com os dados
em nuvem, é possível, por exemplo, checar sensores
e instrumentos pendentes de calibração através de
dashboards, com representações gráficas que auxiliam
o gestor a priorizar as tarefas do time, e a planejar as
próximas calibrações com a devida antecedência, baseado
na análise de dados críticos do processo. Para tanto,
é importante que seja realizada a qualificação do fornecedor
do software, normalmente no modelo SaaS”,
defende Silvia.
“Acho que o ganho maior com a metrologia 4.0 é o
sistema de gestão, no qual se reduz a subjetividade humana
nas ações metrológicas. Acredito que a calibração automática
seja uma tendência irreversível, até mesmo por
uma questão de competividade. Lembrando que temos
ainda um grande passo a ser dado, que é a capacitação
profissional”, comenta Cassiolato. |
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“Acreditamos que as pessoas são os protagonistas da
indústria 4.0. Equipamentos mais inteligentes não irão tirar
o poder de decisão das pessoas, nem isentá-las
das responsabilidades, mas vão ajudar na tomada
de decisões, com informações em tempo
real, de forma mais simplificada, facilitando o
processo de melhoria contínua. As máquinas
continuarão a ter um papel de subordinação
em relação às pessoas”, ressaltam Guilherme
Brack e Marcio Tiene, da Cenari Automação.
Se o protagonismo ainda é do ser humano,
eles caminham a passos largos para uma automação
completa em alguns setores. “Se é verdade que,
em algumas aplicações, temos como realizar monitoramento
e registro de medições em tempo real, armazenar
dados em nuvem e cibersegurança, ainda carecemos de
interoperabilidade entre os diversos fabricantes de equipamentos,
pois, não há uma definição clara sobre quais
os protocolos de comunicação serão ‘a bola da vez’ para
o mercado (falo aqui de escolha entre LoRa e Sigfox, entre
outros). A falta dessa integração impossibilita o melhor
uso de ferramentas de dados, como big data e Analytics, o
que leva o usuário ainda a recorrer a metodologias básicas
de estudos de tendência e linearidade para definir intervalos
entre calibrações, por exemplo. Se observarmos sob
o aspecto da metrologia analítica, a tarefa é ainda maior:
nem sempre teremos todos os padrões de um laboratório
fornecidos pelo mesmo fabricante, isso sem falar quando
necessitamos trabalhar com MRC (material de referência
certificado). Então, aumenta a responsabilidade da equipe
responsável”, comenta Wellington, ressaltando que,
especialmente quando se trata de um volume grande de
dados, a automatização da coleta de dados é vital. “É claro
que sempre dependeremos de pessoas, pois, existem
detalhes que são específicos de cada operação e não há
como automatizar, mas vejo que o resultado do conjunto
humano com automação é muito positivo”.
Guilherme Brack e Marcio Tiene destacam que a
Metrologia 4.0 já é possível também para pequenas e
médias empresas, que podem ganhar como benefícios a
coleta e transferência de dados de calibração, de maneira automatizada, minimizando a possibilidade de erros
de transcrição. “Utilizar calibradores com protocolo de
comunicação e compressor integrado reduz a quantidade
de equipamentos na bancada, e torna o processo de
calibração mais completo, com pouca intervenção humana
e mínima possibilidade de erros. Uma arquitetura simples
já permite acesso remoto aos calibradores e sistema
de calibração, apresenta resultados de forma mais clara e
simplificada através de gráficos, tabelas, etc. facilitando a
tomada de decisões, reduzindo custos e aumentando a
produtividade na calibração.” |
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Luis Vicente pondera que as novas tecnologias de
automação de medição e calibração ainda não são totalmente
disseminadas, mas já existe capacidade desenvolvida
com auditores para enfrentar esses desafios. “Os
pontos críticos de uma auditoria de sistema conectado
advêm da necessidade de confidencialidade e privacidade
dos dados, para garantir os requisitos gerais de imparcialidade
e confidencialidade da avaliação do sistema de
gestão, com uso intensivo de métricas de segurança da
informação, para proteger a confidencialidade, integridade
e autenticidade dos documentos gerados”.
Ivan Canever lembra que o Sistema de Gestão da
Qualidade em Calibração deve ser totalmente adaptado
para a realidade, aproveitando, até mesmo, a revisão da
norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005. “Não devem existir
questões duvidosas, ou que não contenham evidências
objetivas de que a conformidade é alcançada. O auditor
possui foco na norma que está em evidência, e no segmento
industrial analisado. Por isso, os Sistemas de Gestão que
suportam a qualidade dos processos devem ser claros e robustos.
Quando a auditoria trata de questões metrológicas
de acreditação, a recomendação da norma NBR ISO 10012
(6.4) é importante na indicação da ABNT NBR ISO/IEC
17025. O mais crítico numa auditoria de sistema conectado,
acredito que seja a integridade dos dados, os quais
podem estar seguros com a implementação de ferramentas
robustas, reconhecidas e validáveis, com documentação
consistente sustentando a sistemática utilizada”.
Hoje, existem regras definidas internacionalmente para
integridade dos dados, sempre adequando às reais necessidades
e harmonizando um determinado Sistema de Gestão
da Informação. Também para o armazenamento de dados
em nuvem, cada vez mais utilizado para arquivar, consultar
e executar tarefas em ambientes virtuais, o que permite
acesso ao usuário , a partir de qualquer lugar, 24 horas do
dia. Mas é necessário se preocupar com a segurança nesse
processo e, por isso, apostar em medidas eficientes para
aumentar a proteção do sistema é um requisito obrigatório,
para quem quer blindar-se contra invasões e ameaças virtuais,
mantendo o sigilo das informações e a confiabilidade
do negócio. A integridade e confidencialidade dos dados
coletados numa medição ou calibração devem ser mantidas
a partir de procedimentos bem definidos e validados,
para que não percam sua identificação quando colocados
em ambientes cooperativos, como numa nuvem, e possam
ter sua origem verificada a qualquer instante.
Parece consenso que um instrumento com maior
precisão e que permita a entrada da empresa nesse novo
mundo 4.0 será sempre mais caro. A precisão – e não
confundir com exatidão – é o resultado de componentes
melhores, processos de fabricação mais refinados, maior
número de replicatas, padrões de referência com incertezas
menores e pessoal operacional mais qualificado. Paulo
César acredita que os instrumentos mais inteligentes saem
um pouco mais caro, porque são resultado de um processo
melhor. “Só que o mais importante é saber definir quando
o mais preciso é necessário, no seu processo ou sistema.
Porque pode tornar o investimento totalmente inviável, ou
tornar o processo mais preciso, robusto, com qualidade nas
medições, e aí se justifica a diferença de preços”. |
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“Costumo dizer que caro é o que foi adquirido de
maneira equivocada ou sem critério. Se realmente é necessário,
não são questões comerciais que devam invalidar
uma aplicação. Estamos falando inclusive em vidas, que
podem se perder pelo resultado errado de uma medição.
Incluindo aí a mudança, da metrologia manual, para a
digitalizada, com dados na nuvem. É uma mudança necessária
que requer tempo, conhecimento, muito trabalho
e critérios bem definidos, para que se alcance o sucesso
pleno na implementação. E, quando o processo de automatização
é implementado da maneira correta, utilizando
conceitos alicerçados, e sempre focando na melhor
qualidade da medição, só encontramos vantagens. Mas,
as necessidades do processo devem ser respeitadas, para
isso deve ser sempre realizada análise crítica para determinação,
não apenas da especificação do equipamento,
mas também do seu ciclo de vida como um todo, até o
descomissionamento”, frisa Ivan Canever.
Hoje, já existem instrumentos inteligentes que garantem sua precisão por anos! Mas, nem sempre a lei permite
dispensá-los de calibração. A equipe da Usiminas já observou
isso e cumprimos a lei, sempre buscando oportunidades
de otimizar, dentro do processo de calibração. “As leis
são analógicas e as tecnologias digitais. Precisamos incentivar
fóruns de discussão para estimular a evolução, buscando
uma legislação também 4.0.”, ressalta a equipe.
De fato, já existem instrumentos com alta performance
e excelentes condições de estabilidade, requisitando
o mínimo de intervenções em calibrações. Mas, na
prática, é difícil adotar as recomendações dos fabricantes,
porque, em campo, várias condições – de processo e ambientais
– diferem das condições de laboratório, além de
existirem normas compulsórias, que estabelecem periodicidades
de calibração em algumas áreas.
“Nesse sentido, acredito que os intervalos de calibração
devem ser estabelecidos com base na criticidade da
medição e seus impactos, estabilidade, propósito e condições
de uso do equipamento ou padrão, e devem ser reduzidos
em função dos resultados de calibrações prévias,
que demonstrem sistematicamente a condição de não
conformidade do equipamento padrão. Os intervalos somente
poderão ser ampliados se os resultados de calibrações
anteriores demonstrarem, inequivocamente, que tal
ação não afetará a confiança na manutenção da exatidão
do equipamento ou padrão”, postula Cassiolato.
Newton Bastos lembra que “são muitos os itens normativos
que dão bases sólidas e técnicas para uma competente
e eficaz implementação de Metrologia 4.0, tanto
para usuários, quanto para fabricantes e prestadores de
serviços. Devemos observar e estudar o item 6.3.2 - ISO
10.012 - referente ao ambiente do Laboratório de Calibração;
consultar o documento OIML D10 - Guia para
definir a frequência de Calibração; ficarmos atentos ao
Art. 480 da RDC 17, onde constam as ações e necessidades
de calibração dos instrumentos. E lembrar que,
além do V.I.M - Vocabulário de Metrologia, a ANSI – ISA
5.1 possibilita a identificação dos instrumentos e o GAMP
- Calibration Management do ISPE é mais um guia para
orientação da gestão das calibrações. Existem determinações
metrológicas que são padronizações internacionais
– valem para todos os países – e outras específicas, dentro
de cada organismo e região. Os diferentes institutos se
utilizam de um método pragmático para aprovação/reprovação
de relatórios de calibração, que estão em conformidade
com as normas ISO/IEC 17025, ANSI/NCSL
Z540.3 [NCSLI National Conference of Standards Laboratories
International] e ILAC-G8. E os cálculos de erros e
incertezas combinados são necessidades evidenciados na
ISO IEC 17025, atendendo aos principais aspectos metrológicos
do INMETRO e do CGCRE, e que muitas vezes
podem ser suprimidos em outros organismos, visando a
simplificar cálculos e métodos, e com certeza serão analisados
pelo INMETRO e pela ANVISA em auditorias e
inspeções respectivamente”.
“De fato, a adequação do arcabouço jurídico leva um
tempo maior para absorver as tecnologias disruptivas, ocasionadas
pelo uso de novas técnicas de medição e calibração
automatizadas, e da evolução tecnológica de sensores
e instrumentos de precisão, porém, a partir da intensificação
de seu uso, deve ocorrer uma transição das práticas
legais”, aponta Luis Vicente.
Paulo César, da Oxiteno, enxerga “um grande caminho
a ser percorrido e um grande desafio, pois, as práticas
legais não se atualizam na mesma velocidade que a tecnologia
vem se desenvolvendo, e esse desvio é um grande
problema para alguns processos, onde ganhos consideráveis
poderiam estar ocorrendo. Creio que os fabricantes
terão uma grande oportunidade de mostrar os possíveis
ganhos, e como será importante a indústria aderir a essas
novas tendências; tem muita tecnologia para agregar e
tornar os processos cada vez mais ágeis, precisos, seguros
e lucrativos”.
Ivan ressalta que é possível utilizar os novos instrumentos,
“mas, a dispensa dos testes envolvidos na calibração
para instrumentos de medição contra padrões, levando-
se em conta todas as condições de incerteza e demais
comprovações, é algo que requer extrema cautela. Hoje,
não vejo problema, desde que a possibilidade tecnológica
seja adequadamente comprovada como real, e eficaz o
suficiente para que uma determinação legal seja reavaliada,
e até modificada. Entendo que evoluímos muito nessa
questão, até mais que muitos outros países”.
Para Wellington, um fabricante garantir a precisão
de um equipamento por anos não significa que todas as
possibilidades de fadiga foram eliminadas nos testes em
fábrica. “Como podemos garantir que um determinado
processo ou condição não irão impactar no bom funcionamento
do equipamento? A calibração periódica tem essa
função de demonstrar o comportamento metrológico do
equipamento, durante suas rotinas de uso. É bom lembrar
que calibrar periodicamente não isenta que se realizem
verificações intermediárias, antecipação de calibração, ou
até mesmo manutenções preventivas”.
“Penso que no Brasil ainda estamos na fase de aprendizado.
Um grande desafio é que a Metrologia 4.0, para ser realizada,
envolve tecnologias de automação, instrumentação
e de TI/Telecomunicações, de uma forma muito intensiva. E
existem muitos pontos críticos num sistema conectado. Só
para citar alguns: integridade (garantir que os dados recebidos
na aplicação do usuário final correspondem realmente
ao que foi medido pelo sensor/medidor no processo); reconciliação
dos dados de medição (garantir que os dados
vieram de um sensor/medidor X, naquela data e horário, e
que os dados recebidos não foram adulterados no meio do
caminho); privacidade (garantir que os dados de medição
serão vistos apenas por quem deve vê-los). Como resolver?
Bons projetos, planejamento e implantação cuidadosa e gerenciamento
dos dados... durante todo o ciclo de vida do
sistema,” finaliza Tania, da Sanepar. |
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