Revista Controle & Instrumentação Edição nº 219 2016
|
|
¤
Cover Page
|
A revolução que já é realidade
IIoT no usuário industrial de
tecnologia |
|
|
Internet das coisas é uma expressão recorrente há alguns
anos e engloba uma série de tecnologias que fazem
com que cada instrumento ou coisa tenha seu próprio
endereço (URL) que pode ser acessado pela Internet e
pode mesmo interagir com outras coisas/instrumentos e
sistemas. Um pouco mais recentemente começou-se a
fazer distinção sobre IoT e IIoT – esta última, o conceito
aplicado à indústria e existe para dar suporte a otimização
da produção industrial. Liderados pela Internet, os mundos
real e virtual estão se fundindo e isso traz inúmeras
possibilidades. E incontáveis desafios.
Os pilares dessa nova era são conectividade,
(cyber)segurança, interoperabilidade e flexibilidade e prometem
custos menores, melhores funcionalidades, prometem
ocupar menos espaço, reduzir falhas, simplificar
comissionamentos, automatizar ajustes, integrar de forma
modular, maximizar o tempo de uso de uma máquina
ou sistema, facilitar a manutenção preditiva e aumentar a
produção. Ressalte-se que o tamanho, a idade e a complexidade
da planta podem introduz pontos de falha ou perda
de dados, limitando a performance da digitalização –
é preciso atenção.
E o mercado de IoT está perto de um ponto de inflexão,
saindo dos US $ 33 bilhões gastos em 2013, para
US$ 71 bilhões em 2018 - de acordo com a Juniper Research.
A Cisco prevê que os cerca de 25 bilhões de dispositivos
conectados até 2015 se transformam em 50 bilhões
em 2020. A IoT torna possível a automação inteligente
que permite o compartilhamento de informações, o que
significa que desde termostatos até gasodutos poderão estar
conectados. Tecnicamente perfeito; mas como isso se
traduz em ganhos reais?
Os executivos estão atentos. O que pode um único
chip embutido em um dispositivo fazer? O recente levantamento
da Schneider Electric/IdC Global, mostrou
que mais de 2.500 executivos indicaram que acreditam
que a IoT faz sentido para os negócios pois cria novas
oportunidades em futuro próximo, melhora a eficiência
da empresa, gera benefícios comerciais de longo prazo e
facilita a interface entre as empresas
e seus clientes.
Daniel Morales, da diretoria
de automação Sudeste da Braskem,
ressalta que a IIoT, ou Quarta Revolução
Industrial, define a indústria
inteligente, completamente interligada
aos seus principais stakeholders,
dotando toda a cadeia logística de
um nível superior de informação de caráter fortemente
preditivo, maximizando a sua competitividade e resultados.
Esta nova indústria se alicerça em um conjunto de
tecnologias que amplia a inteligência e interconexão dos
dispositivos de campo (sensores e atuadores), tanto entre
si quanto com sistemas em camadas superiores, usando
protocolos e serviços Web, gerando um conjunto massivo
de dados que são armazenados em grandes repositórios
estruturados. Estes repositórios são acessados via
computação distribuída em nuvem, onde são executadas
ferramentas de análise de dados que geram informação
em tempo real, distribuída de forma abrangente através
de plataformas móveis. E afeta as indústrias diretamente,
na medida em que o acesso rápido e abrangente a informação
de natureza muito mais preditiva do que reativa,
a partir da análise de conjuntos massivos de dados em
formatos diversos, muda drasticamente a forma de competir
dentro dos mercados. “Estamos trabalhando internamente
na definição de modelos de uso eficaz das principais
tecnologias associadas à chamada quarta revolução
industrial, buscando ver primeiro, o valor que elas podem
agregar ao negócio e os novos processos de trabalho que
precisam ser implantados, para depois selecionar as tecnologias
correspondentes”.
Para Luís Mamede, Performance
Systems Manager South America
Bulk Supply Chain da Linde, a Quarta
Revolução Industrial é a revolução
da informação, dos dados industriais
tornando-se facilmente disponíveis
e utilizáveis. A base e terreno desta
revolução é a digitalização que, basicamente, é a “transmutação”
de todo e qualquer dado em informação digital plenamente utilizável e disponível: o espaço entre
ter a informação e aplicá-la, ou mesmo em transformala
em resultados/produto foi drasticamente diminuído.
Esta transformação abrange desde dados simples e comumente
disponíveis como posição de sensores, temperaturas,
fluxos, volumes produzidos, até dados complexos e
seus derivados, como acertos (setups) de linhas de montagem
e produção, procedimentos operativos, planejamentos
de produção ou manutenção, estratégias de mercado e
demandas. A partir deste terreno fértil e Big Data industrial,
iniciam-se então os cruzamentos de dados, integrações e
análises que geram ainda mais dados úteis, possibilitam ainda
mais integrações e análises instantâneas - e resultados.
“É um movimento que comtempla a utilização de novas
tecnologias no dia a dia da produção, transformando os
dados em informações, trazendo o mundo virtual para
mais perto do mundo real, e com isso proporcionando
simulações, experiências, testes de todas as formas em
uma plataforma digitalizada com segurança ao processo
real. Este modelo tem sido ampliado para todos os setores
da indústria; o que há bem pouco tempo era realizado só
em grandes laboratórios hoje pode ser feito na tela de um
notebook. E sendo a Braskem a maior indústria de base
do Brasil e uma das maiores do setor no mundo, não existe
a possibilidade de não fazer parte de qualquer revolução
industrial, tendo o DNA da organização em 100% de
inovação e melhoria continua. Inclusive
já existem vários trabalhos
realizados na organização que podem
ser enquadrados neste novo
modelo”, comenta Ruy S. Barreto,
responsável pelo marketing
e indicadores estratégicos da
diretoria de planejamento da
Unib da Braskem.
Essa revolução é plenamente aplicável na adequação
da produção e distribuição à demandas instantâneas
de mercado; customização de clientes em produtos
que ainda se encontram em plena produção, operação
remota de plantas industriais à grandes distâncias, integração
completa e automática das cadeias de distribuição
e produção – Big Data & Supply Chain real-time
management. Aplicações em impressoras 3D e realidade
virtual se somam ainda a esta realidade ao tornarem
possível, inclusive, fabricação de produtos através da
aplicação de conhecimento e projeto, mas sem a necessidade
de unidades fabris próprias. Então, saber o
quê e como fazer passa a ser mais valioso do que o fazer
em si. As tendências em tecnologias surgem a cada
instante, o desafio é entendê-las e identificar a melhor
forma de obter resultados corporativos através delas.
“A digitalização, análise de dados (Big Data) e operação
remota é parte da estratégia da Linde Gás há vários anos.
Em 2008 já era instaurado em Jundiaí/SP o centro de operações
para América do Sul, responsável a partir deste
ano em operar à distância e analisar dados de processos
industriais de mais de 30 plantas em 10 países do continente.
Essa centralização de dados, operação e análise
em tempo real tem relação direta com alavancamento
de performances, redução significativa de custos e gargalos,
e geração de resultados consistentes, mensuráveis,
permanentes. Hoje o grupo Linde armazena dados digitais
de todas suas plantas no globo de forma centralizada
(Alemanha), e possui ao menos um centro de operações
remoto por unidade de negócio do grupo no mundo”,
comenta Luis Mamede.
“A Cenibra possui uma base toda digitalizada e a
cada momento temos sugestões e ideias que potencializam
o uso desta base para novas iniciativas e melhorias
no negócio. Temos aplicado vários destes conceitos aos
nossos processos produtivos, desde o plantio do eucalipto
até a colocação da celulose no navio, ainda timidamente,
mas a cada instante surgem novas sugestões que avaliamos
e materializamos quando viáveis em sistemas que
melhoram os processos e consequentemente os resultados.
Quem não possuir uma visão para valorização das
inovações e não acompanhar estas evoluções terá sérios
problemas de sustentabilidade. Há um grupo de estudos
na Cenibra para avaliar as tendências tecnológicas,
estudando-as e definindo quais delas são potencialmente
aplicáveis ao processo de produção celulose em toda
a cadeia. Já temos inovações com um novo sistema de
gestão florestal, monitoramento das florestas por CFTV,
novo sistema de rádios digitais, dentre
outras iniciativas”, pontua Ronaldo Neves
Ribeiro, gerente do Departamento
de Tecnologia da Informação e Telecom
da Cenibra. O executivo ressalta que os
novos modelos de negócio já afetam os
clientes de forma significativa. “Para muitos
negócios, não há mais a necessidade de estar presencialmente
no ambiente de vendas que foi levado ao
cliente através dos meios digitais. Hoje já é possível estar
presente em ambientes diversos com o uso da realidade
aumentada e outras inovações”.
A maior flexibilidade, abrangência no atendimento, aliada
à otimização de recursos e de produtividade facilita novos
contratos e negócios. As informações colhidas, integrações,
otimizações e ferramentas podem trazer diversos benefícios
diretos e indiretos aos clientes, seja melhorando de uma forma
geral a assertividade no atendimento – com melhor integração
entre Produção x Distribuição e Demanda/Supply Chain management
-, seja fomentando a eficiência, a confiabilidade, a
disponibilidade e a redução custos das plantas industriais - o
que traz impacto direto e positivo na qualidade e condições de
produtos. A Internet das coisas é uma face na disponibilização
de informações, no uso e integração de dados propiciados pela
digitalização. Estes dados são a fonte e o combustível para o desenvolvimento
e desdobramentos da chamada Indústria 4.0.
“Máquinas se comunicando entre si, gerando pedidos, informando
estoques, adequando-se e respondendo às informações
também tornadas disponíveis no meio digital. Isso já é possível e exemplos de aplicabilidade não faltam: controles
de temperatura se adequando à demandas; máquinas se
comunicando de acordo com a demanda e prevendo ou
compensando, com antecedência desgastes ou quebras;
veículos/máquinas responsáveis por entregas que trocam dados
ao mesmo tempo e diretamente com a cadeia produtiva
- fábricas, estoques ou centros de distribuição - e com seu
destino - cliente, máquinas, estoques, etc - de forma a otimizar
rotas e maximizar atendimento”, lembra Luis Mamede.
Cada vez mais nos acostumamos com informação disponibilizada
em diversos meios, como foi com a Internet,
com os sistemas de streaming e tantas outras mudanças
catalisadas pela Era Digital. A IIoT veio para ficar e é opinião
uníssona que, no médio prazo, haverá muito pouco
espaço no mercado para quem não estiver ao menos
parcialmente inserido e participando deste contexto.
Para Luis Mamede, “é uma oportunidade muito boa para o
Brasil e grande parte desta revolução é feita do uso criativo
e inovador de informação – e seu uso pode ser, então, mais
importante e valorizado que a própria fabricação em si. O
que reduz em vários casos a necessidade de grande capital e
de tecnologia. O que precisa ser incentivado e desenvolvido
no Brasil é a certificação ou normalização destes processos
digitais.
“Também acredito que não há volta neste caminho,
o mundo já adotou estes conceitos. Já nos EUA o mercado
de TI está bastante empolgado com estas oportunidades
e com os benefícios potenciais que podem trazer aos
negócios de maneira geral. Nossa realidade é um pouco
diferente se comparada com outros países. A base do
conceito de IoT é a conectividade e sabemos que ainda
temos um longo caminho a percorrer. Os próprios fornecedores
de tecnologia têm dificuldades técnicas de
aumento de capacidade. Mas mesmo as dificuldades
são oportunidades e devemos aproveitá-las para fazermos
diferente e de forma inovadora”, comenta Ronaldo.
“Nossos clientes em variados níveis também estão desenvolvendo
novas formas de realizar suas produções apoiados
nessas novas tecnologias, sendo o plástico por si só
um alavancador de novas formas, tecnologias e conceitos.
É vital o uso de tecnologia de designer virtual e processos
ciber-físicos para a criação de novas coisas e funcionalidades.
Minhas atividades hoje estão 100% focadas nestes
novos conceitos da Indústria 4.0, e sou um privilegiado
de ter a oportunidade de desenvolver projetos com base
nestes princípios, tendo como destaque os pilares “Capacidade
em Tempo Real, Modularidade e Virtualização”.
Como exemplos posso citar o Conexão Unib da Braskem,
que tem como princípio o uso de modelos matemáticos
para consolidação e conversão da informação de chão de
fábrica em informação gerencial e financeira da empresa.
É bem verdade que o conceito da Indústria 4.0 comtempla
uma automação muito mais autônoma do que fazemos
hoje, porém existem fases a serem alcançadas em todos
os níveis para consolidar essa ideia de independência
dos processos. Isso vai requerer um nível mais elevado de
conhecimento e modularidade dos processos que utilizamos
hoje, porém considero que estamos no caminho
certo e sem volta”, relata Ruy.
Daniel acredita que sob o ponto de vista de acesso à
tecnologia, o Brasil não tem grandes problemas; eles estão
na infraestrutura para suportar um crescente número
de aplicações baseadas em Internet e processamento distribuído
em nuvem. “Outra questão que demanda atenção
e que definirá também o quão estaremos prontos é a
formação de profissionais capacitados. O Brasil é um país
carente de mão de obra qualificada, principalmente nas
áreas intensas em tecnologia. É necessário maior investimento
para a formação de profissionais que possam atuar
neste novo contexto da Indústria 4.0, que exige profissionais
com um perfil capaz de trabalhar num cenário de
integração cada vez mais intensa entre IT e OT”.
É senso comum que para a implantação completa da
ideia que a IIoT traz, é preciso que a Infraestrutura esteja
forte. Ela é a base desta transformação. Muitas empresas,
mesmo antes dos conceitos da IIoT se propagarem já
apresentavam seus programas de digitalização industrial,
pois investiram em redes de processos e em sensores inteligentes.
Mas a IIoT vai além disso e as aplicações surgirão
espontaneamente diante dos recursos trazidos pelos avanços
tecnológicos. Além da aplicação da Linde – de gerenciamento
remoto de várias unidades de gases industriais –
a Fujitsu, por exemplo, desenvolveu um sistema para o
agronegócio onde as vacas estão conectadas digitalmente,
dando informações sobre sua movimentação e suportando
uma base analítica que determina o melhor momento
para a inseminação, com resultados promissores.
Como ressalta Ronaldo, os resultados do passado não
garantem o futuro. “A cada momento temos que pensar
no amanhã e nas novas formas de melhorar os resultados,
que só acontecem com o empenho das pessoas, pois
elas geram ideias. A tecnologia é a maior aliada na execução
destas ideias. O mundo moderno está repleto de
oportunidades, há muitas tendências tecnológicas e estas
têm trazido um novo modelo para a sociedade e para
as empresas. Segundo a Forbes dentre as 20 empresas
mais bem-sucedidas do mundo, pelo menos 5 delas são
do ramo de tecnologias e as demais são dependentes da
tecnologia para seu sucesso. Todas estas mudanças trarão
impactos que ainda não temos como dimensionar, os riscos
à segurança da informação serão aumentados, novos
formatos de fazer negócios impactarão as empresas e as
carreiras e as profissões precisarão ser repensadas. Nossa
função como gestores é motivar as pessoas no autodesenvolvimento
a buscarem melhores resultados. Eu mesmo
atuo como professor universitário e é uma oportunidade
para desenvolver a percepção de que o mundo será diferente
amanhã e todos precisamos nos inserir nesta dinâmica.
Algumas profissões não existirão mais e isto vale
também para alguns modelos de negócios e empresas.
Diante disto, a cada momento é necessário reinventar e
fazer melhor do que fizemos ontem”. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
LEIA MAIS
NA EDIÇÃO IMPRESSA |
|
DESEJANDO
MAIS INFORMAÇÕES: redacao@editoravalete.com.br
|
|
|
Clique na capa da revista para
ler a edição na íntegra |
|
|