Revista Controle & Instrumentação Edição nº 205 2015
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Eficiência e energia juntos |
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A eficiência energética é uma estratégia que funciona
melhor executada por um conjunto de tecnologias.
Não importa quem é financeiramente responsável
por manter os custos de energia sob o controle na organização, mas isso não pode ser feito sem a participação de
todos. Todos e cada componente e dispositivo devem ser
considerados como parte de um sistema que pode ter um
profundo impacto sobre o consumo de energia total do
negócio. Então, é mesmo o conhecido fazer mais com menos, empurrando as operações para além de seus limites.
E o novo cenário pede qualidade do suprimento de
energia para todos os consumidores já que toda função
econômica e social de um país depende, direta ou indiretamente, da operação segura e confiável da sua infraestrutura de energia. Perdas financeiras geradas por
interrupções não planejadas têm feito os consumidores
de todos os portes exigir maiores índices de continuidade e disponibilidade das concessionárias – o que implica
necessariamente em maiores investimentos em soluções
que reduzam a duração e a frequência das interrupções,
aumentem o desempenho, agreguem mais eficiência e
diminuam custos de manutenção. E os consumidores podem avaliar qualidade e desempenho do sistema elétrico
por meio do controle e análise das interrupções.
Segundo o módulo 8 do Prodist/Aneel, referente aos
procedimentos relativos à qualidade de energia elétrica
prestada no Brasil, são calculados diversos indicadores de
continuidade de energia que visam informar qual a frequência e duração, média ou individual, das interrupções
de energia durante um período específico – e assim, têm-se indicadores sobre a duração da interrupção individual,
por unidade consumidora ou ponto de conexão, expresso em horas e centésimos de hora; a frequência da interrupção individual, por unidade consumidora ou ponto de
conexão, expresso em número de interrupções; a duração equivalente da interrupção, por unidade consumidora, expresso em horas e centésimos de hora; a frequência
equivalente da interrupção, por unidade consumidora,
expresso em número de interrupções e centésimos do
número de interrupções; a duração máxima de interrupção contínua, por unidade consumidora ou ponto de conexão, expresso em horas e centésimos de hora.
Uma solução de localização e isolamento de faltas e
restauração de serviço – comumente chamada de FLISR
(Fault Location, Isolation and Service Restoration) – é capaz de melhorar os indicadores de energia já que pode
transformar desenergizações de até 50 a 80 minutos em
desenergizações de apenas 1 a 5 minutos, o que, em muitos casos, não caracterizaria uma infração de acordo com
o limite de três minutos regulado pela Aneel.
A equipe da Elipse também possui trabalhos nesse
contexto e lembra que o método tradicional para localização de faltas consiste na total dependência de notificações de problemas, por parte dos consumidores, através
de ligações telefônicas e mensagens SMS para que comecem os procedimentos de restabelecimento do sistema
– e isso às vezes demora muito. E como as equipes de
campo são enviadas sem nenhuma informação detalhada sobre o problema e instruídas a percorrer toda a rede
desde o início da linha, muito mais tempo é gasto até que
se encontre o problema. Isso é o trabalho tradicional, que
tende a mudar com a implantação do smart grid.
Então, usando o método de erro e acerto, as equipes
irão reenergizar o sistema verificando, trecho a trecho,
até encontrarem o ponto certo, o que requer um grande
tempo de testes e análises. A equipe técnica da Elipse ressalta que o processo, além de ineficiente coloca em risco
a vida das equipes de manutenção locais, assim como de
todo o entorno dos locais testados.
O que uma solução FLISR propõe é uma metodologia que indique a provável localização da falta, além
da rápida e segura restauração da rede. É um módulo
de inteligência que faz uso das informações já disponíveis no centro de controle, apenas aproveitando melhor
os recursos já existentes, sem a necessidade de grandes
investimentos em hardwares de automação e controle.
Através do uso adequado dessas diversas funcionalidades
auxiliares, como sistemas Scada, AMI (Advanced Metering Infastructure), GIS (Geographic Information System)
e OMS (Outage Management System), a solução alcança
robustez e confiabilidade, pois coleta informações em
tempo real dos equipamentos monitorados, eventos e
dados dos medidores inteligentes de energia instalados
junto aos consumidores de energia, informações geográficas e o cadastro elétrico dos equipamentos na rede,
assim como o tratamento dos dados de ocorrência de
falta. Essas informações, somadas aos históricos, permitem estimar valores reais de impedância de falta, o que
torna possível calcular o mais provável local de falta ao
longo de cada trecho monitorado. Então, destacam-se
todos os possíveis trechos de ocorrência do problema,
incluindo a localização mais provável do defeito, e os
segmentos saudáveis. Usando soluções FLISR como a
oferecida pela Elipse, por exemplo, esses resultados podem ser apresentados em uma interface georeferencia-
da GoogleMaps.
Com as muitas novas tecnologias e sistemas sendo
implementados no setor elétrico, as operações da distribuição podem se tornar cada dia mais eficientes. Mas o
cenário é preocupante e pede urgência.
Desde o final de 2013 o setor elétrico tem vivenciado uma série de medidas governamentais que buscavam
a diminuição do custo de energia elétrica para o consumidor. A MP 579, posteriormente transformada em lei,
trouxe a antecipação do término de diversas concessões
de geração e transmissão e, como consequência, enormes mudanças e dificuldades para os agentes. Viu-se, a
partir de então, grande instabilidade dos agentes de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica e, por
conseguinte, uma forte queda nos investimentos, especialmente pelas Distribuidoras.
Ao mesmo tempo, o país vem passando por forte
estiagem e como resultado, o Operador Nacional do
Sistema – ONS viu-se obrigado a lançar mão de praticamente todas as térmicas disponíveis no país, inclusive
aquelas menos eficientes e com alto custo de operação,
com níveis de Custos Variáveis Unitários – CVU acima de
R$1.000/MWh.
Assim, assistimos o Custo Marginal de Operação
atingir níveis altíssimos, provocando grandes distorções
para o fluxo de caixa das Distribuidoras que se viram
descontratadas e obrigadas a se servir da energia com
base no Preço de Liquidação das Diferenças – PLD, então em patamares de mais de até R$822,00/MWh. Em
poucos meses o setor de Distribuição se viu obrigado a
buscar ajuda financeira para cumprir com os compromissos frente aos Geradores, em patamares de dezenas
de bilhões de Reais, jamais vivenciados pelo setor.
Da mesma forma, o setor de Geração frente à incapacidade de cumprir com seus compromissos de geração
devido à escassez hídrica, passou a se defrontar com altos
custos de GSF (generating scale factor) devido aos altos
valores do PLD. Dessa forma todo o setor elétrico passou a vivenciar uma séria crise de caixa que por sua vez vem
prejudicando seus programas de expansão e de manutenção.
Com a forte desaceleração econômica, grandes segmentos industriais, especialmente da indústria de base,
passaram a restringir suas produções industriais devido
ao alto custo de energia. Por outro lado, a sinalização,
em grande parte equivocada, da tendência de queda do
custo da energia para os setores residencial e comercial,
provocou forte aumento do consumo em algumas partes
do país.
Os projetos estruturantes de geração, como a construção das usinas do Madeira, Teles Pires e Belo Monte,
continuam a ser a base industrial para indústria. Já os
projetos de transmissão, em especial as conexões em
corrente contínua do Madeira, escoamento de Teles Pires e o primeiro bipolo de Belo Monte foram os princi-
pais projetos do setor no ano, além de alguns projetos
de linhas de transmissão, em construção. Novos leilões
de transmissão continuam a ser realizados com menor
apetite dos investidores. Já o setor de Distribuição sentiu
o forte contingenciamento de caixa e buscou minimizar
investimentos de expansão, com palpáveis impactos na
indústria.
Nesse cenário de energia cara e pouca, as perdas
comerciais de energia no Brasil, provenientes de fraudes,
problemas de medição e faturamento, somaram R$ 6 bilhões em prejuízos só em 2013, segundo a Aneel, sendo
que a região Norte enfrenta fuga de energia injetada de
22%, em média. Então, geradoras e distribuidoras buscam encontrar as perdas e resolvê-las. É mais um desafio
para as operadoras de redes de distribuição de energia
elétrica (ORD).
As perdas de energia podem ser classificadas como
perdas técnicas (físicas) e não técnicas (comerciais). A
primeira é inerente à física, principalmente pela dissipação de energia nas linhas de transmissão e distribuição,
e em todos os equipamentos e dispositivos ao longo do
percurso. Já a segunda é causada por ações externas ou
manipuladas intencionalmente, como roubo e falta de
pagamento. Neste sentido, a quantidade total de energia
perdida é a diferença entre a quantidade disponível de
energia elétrica no nível do consumidor e a soma cobrada, efetivamente, pela concessionária.
Curiosamente, com os antigos medidores eletromecânicos sendo substituídos por novos medidores eletrônicos inteligentes, este tipo de fraude está se tornando
mais sofisticada. Além de conectar diretamente as linhas
de energia, a “indústria do roubo” também está modificando componentes eletrônicos internos e violando as
placas de circuitos integrados.
A perda comercial ou não técnica pode ser causada
por erros relacionados à calibração irregular ou ilegal dos
dispositivos de medição; desvio, falsificação e mau uso
dos medidores de energia para reduzir o volume de consumo; manipulação de conexão ou ligação direta às redes
de distribuição para desviar a eletricidade; adulteração
ou modificação de transformadores de corrente (TCs) em
nível secundário de consumidor; erros ou manipulação
da leitura no local ou na gravação de dados de back-office, contabilidade e faturamento; falta de pagamento das
contas pelos clientes.
Os níveis de perdas diferem de acordo com as empresas de distribuição e regiões do país. Além disso, refletem as diferenças sociais e econômicas. No entanto,
as perdas comerciais podem ocorrer com qualquer tipo
de público, independente da renda e localidade, e não
são exclusividades de países em desenvolvimento. O
desafio está justamente em como detectar e combater
tais perdas não técnicas com eficiência e eficácia – o
mercado já oferece soluções e serviços de medição específicos para responder a essas demandas, com transparência por meio de monitoramento em tempo quase
real, controle, medição, regras e algoritmos inteligentes,
alarmes e relatórios.
As concessionárias que implementaram essas soluções de combate às perdas não técnicas apresentaram retorno de curto prazo sobre o investimento, reduzindo consideravelmente as perdas comerciais. Esse
rápido retorno dos investimentos tende a resultar em
redução de custos diretos (otimização da força de trabalho em campo e back office, redução de perdas de
energia); diminuição indireta de despesas (melhor gerenciamento de dados, maior eficiência operacional);
aumento da receita (cobrança mais precisa e oportuna,
recuperação de contas em aberto, detecção precoce
de roubo).
As soluções tecnológicas disponíveis são abrangentes permitem melhoria nos procedimentos de leitura de
medidores; redução de custos no local de leitura e de
processos de inspeção e auditoria, melhoria na detecção de fraude e roubo, maior integração com clientes,
sistemas de faturamento e de liquidação, acompanhamento e análise de melhoria da qualidade da energia,
capacidade de monitoramento aprimorada em relação
às quedas de energia e da rede, aumento da confiabilidade no sistema por meio de tecnologias integradas
de distribuição (AMI, DMS, SCADA, GIS, CIS), independência dos fabricantes, vendedores e fornecedores
de medidores.
Vários métodos podem ser adotados para minimizar
as perdas não técnicas e a combinação de diferentes tecnologias torna os resultados mais eficazes e é o caminho
mais indicado, já que não é possível eliminar completamente o problema das perdas não técnicas. As soluções
de smart grids e serviços inteligentes de medição são essenciais para minimizar as perdas não técnicas em redes
de distribuição e permitem o fornecimento confiável e
sustentável de eletricidade – essencial para a sociedade
moderna. |
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