Revista Controle & Instrumentação Edição nº 201 2014
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Automação na produção de petróleo offshore |
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Ainda existe muito espaço no setor de petróleo e gás
para aumentar o nível de adoção de tecnologias de con-
trole e automação – segundo a ARC, a utilização dessas
técnicas é comparativamente menor no upstream e mids-
tream do que no setor downstream. Mas o investimento
contínuo em fontes não convencionais de petróleo e gás –
como shale gas e pré-sal – se reflete tanto em fornecedo-
res quanto nos usuários finais. A própria ARC nota várias
tendências
entre os fornecedores de automação como:
* Operações integradas em todos os lugares - todos os
fornecedores oferecem algum tipo de tecnologia e pro-
duto para operações integradas a seus sistemas de au-
tomação de processos, com forte viés para visão digital
de tudo o que está acontecendo no campo de petróleo,
desde o sensor e do atuador até a gestão da produção
com sistemas ERP e cadeia de abastecimento.
* Operações remotas – por diversos motivos, o conceito
de um centro de controle em que as operações podem
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Controle & Instrumentação
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ser realizadas em um local seguro e um operador pode
supervisionar as operações em vários locais geografi-
camente distribuídos tem ganhado força. Puxam essa
tendência a carência de mão de obra especializada e o
fato de que as novas reservas estão sendo descobertas
em locais remotos ou de difícil acesso.
* Fábrica no fundo do mar – forte tendência e a que mais
desafia os fornecedores, levar parte do processo feito
hoje nas plataformas para o fundo do mar já começa a
se tornar realidade.
* Escassez de mão de obra pela aposentadoria dos ex-
perts ou pelo desinteresse de novas gerações é algo real
em muitos países e nesse item o Brasil tem se saído
bem na formação de novos profissionais com as ações
do Prominp. Claro que o fator humano desempenha
papel crítico em qualquer processo e até mesmo por
isso empresas de todos os segmentos, incluindo de óleo
e gás, estão se voltando para simuladores.
* Integração dos controles com a parte elétrica – que
economiza de espaço, algo extremamente valioso em
instalações offshore.
A ARC acredita que o setor de óleo e gás - upstream
e midstream principalmente - serão os principais motores
de crescimento para a automação de processos nas pró-
ximas décadas. Mas os fornecedores de automação estão
atentos e trabalhando muito em todas essas frentes. Hoje,
não há como produzir petróleo e gás sem automação,
instrumentação e controle. E, só no Brasil, são dezenas
de plataformas – FPSOs, modelo preferido da operadora
estatal brasileira - entrando em operação até 2020: oito
replicantes, quatro da cessão onerosa e duas entrando em
operação ainda em 2014 para o pré-sal; além de uma
para os campos de Tartaruga e Tartaruga Verde Mestiça na
Bacia de Santos e uma para Atlanta, da Queiroz Galvão.
A partir de 202, pelo menos 12 plataformas devem atuar
em Libra e mais dez para o exedente da cessão onerosa.
Alex Freitas, diretor comercial da Chemtech, lembra
que nas unidades de refino, por exemplo, é mais comum
a arquitetura contendo sistemas distribuídos de controle
(SDCD) para o controle do processo, com controladores
em separado para os sistemas e intertravamentos de segu-
rança (CPS), e para os sistemas de incêndio e gás. Nestas
unidades, para os sistemas de controle de processo, em
alguns casos adota-se instrumentação com redes de campo, enquanto que nos sistemas de segurança e incêndio
e gás, instrumentação
hardwired
tradicional. Nas unidades
offshore, usam-se controladores lógicos programáveis tan-
to para os sistemas de controle de processo, como para
os sistemas de segurança e de incêndio e gás, separando
os controladores de cada sistema. Ambos os ambientes –
offshore e onshore – costumam empregar controladores
redundantes. “Nas unidades de refino, os painéis que abrigam os controladores podem ficar instalados em casas de
controle local, ao lado das unidades, com o cabeamento
interligando os controladores até as caixas de junção e os
instrumentos no campo. Essas casas de controle local nas
unidades onshore se comunicam com o centro integrado
de controle a distâncias maiores, de onde é feita a operação e monitoração. Nas unidades offshore, os painéis com
os controladores ficam em salas de painéis, ao lado das
salas de controle, onde a operação da plataforma é rea-
lizada. Os painéis de controle, nas unidades offshore, se
interligam com painéis remotos no campo e depois com as
caixas de junção e instrumentos”, comenta Alex.
Com mais de 20 anos de parcerias e desenvolvimen-
to de tecnologia para automação no segmento de óleo e
gás, a Altus trabalha com fabricantes de módulos para pla-
taformas como Air Marine, Frames, Howden e Metroval e
foi a primeira companhia brasileira a firmar um Contrato
Global de Automação (CGA) para projetos de Exploração e Produção com a Petrobras. A empresa é responsá-
vel pelo desenvolvimento dos sistemas e subsistemas de
automação e controle
de FSPOs utilizadas na
exploração dos campos
do pré-sal.
Segundo
Luis Gerbase, diretor da Altus,
o Contrato Global de
Automação visa a redu-
ção de custos e riscos,
maximização da eficiência, melhora da qua-
lidade do projeto, mapeamento e resolução
dos problemas futuros na fase de detalhamento, redução
de alterações, gerenciamento de interfaces - benefícios
que não são alcançados nos contratos tradicionais no qual
a empresa de automação chega numa fase avançada do
projeto – quando qualquer alteração, mesmo sendo cor-
reção ou melhoria, gera impactos significativos em custos
e prazos para o projeto como um todo. Diferentemente
do Main Automation Contract (MAC), no CGA não consta o fornecimento da base de instrumentação de campo,
como analisadores, válvulas, transmissores, etc. O escopo do CGA firmado entre Altus e Petrobras por exemplo,
prevê o fornecimento dos serviços de integração (gerenciamento do projeto; configuração; programação; testes;
assistência técnica à pré-operação; assistência técnica à
operação assistida; e treinamento;) e de todos os sistemas
e subsistemas do projeto de automação. A ideia é que
cada uma das oito FSPOs para o pré-sal tenha um sistema
de automação específico e totalmente personalizado, porém, todas com CLPs como base.
A Altus possui uma área de engenharia preparada
para os diversos desafios da rotina profissional e, para
manter esse nível de preparo, os colaboradores estão sempre em constante treinamento na utilização da tecnologia
proprietária da empresa. Como sistemas de automação
envolvem grande quantidade
de produtos (hardware e sof-
tware) de outros fabricantes,
treinamentos específicos são
inerentes ao melhor condicio-
namento de cada equipe de
projeto. Além disto, é exigi-
do que todos os profissionais
responsáveis pelo comissio-
namento Offshore possuam o
Curso Básico de Segurança em
Plataformas.
Rafael Barros, consultor
para indústria de óleo e gás
da Emerson - que atende a maioria das companhias de
petróleo no mundo como Petrobras, Pemex, Exxon, Che-
vron, Shell, BP, Saudi Aramco, Total, ADNOC, PetroChina,
Statoil - lembra que
o cliente de Óleo e Gás é bastante
qualificado e desen-
volve, em seus centros
de pesquisa, muito da
tecnologia que utiliza.
Logo, a empresa que
quer ser parceira de
um cliente com essas
características, deve
também se cercar de
pessoas bastante qua-
lificadas, além de criar
um ambiente que pro-
mova a inovação e o
desenvolvimento de tecnologias voltadas para resolver os problemas principais dos clientes.
“Por exemplo, na Emerson, o resultado direto des-
sa necessidade é termos uma quantidade significativa
de mestres e doutores trabalhando conosco, inclusive
na equipe de vendas. Além disso, temos alguns centros
de inovação e tecnologia no mundo, e também muitas
parcerias com universidades. Nesse universo, destaca-se
nosso centro de tecnologia em Austin, EUA, onde temos
mais de 300 profissionais trabalhando com P&D”.
Como o mercado offshore de óleo e gás demanda
necessidades específicas, seja no fornecimento de servi-
ços ou na formação de soluções e pacotes, na Rockwell
Automation é exigido dos prestadores de serviços para
OEMs treinamento específico na solução final comer-
cializada pelo OEM, geralmente na sede da empresa fa-
bricante. Além disso, o profissional de serviços necessita
treinamentos especializados na área como salvatagem,
huet, etc. “Para o fornecimento de pacotes e soluções,
espera-se do fornecedor uma solução completa, envolvendo-se, em alguns casos, a formação de parcerias ou
consórcios com outras empresas, que complementem as
necessidades exigidas pela solução. Nesses casos, o for-
necedor da solução de automação, com a visão holística
do sistema, consegue vislumbrar quais parceiros melhor
complementam seu portfólio e as-
sim estabelecer seu melhor mode-
lo de negócios”, explica
Mauricio
Barbarulo
, consultor de óleo e gás
da Rockwell Automation.
Mas não é só trabalhar o fa-
tor humano. O setor de óleo e gás
é coberto por uma legião de nor-
mas, regras e boas práticas que se
sobrepõem. Então, além de realizar
o gerenciamento de seus projetos
com base nos princípios do Project
Management Institute (PMI), as empresas devem desen-
volver seus produtos de acordo com normas internacio-
nais. A Altus, ao utilizar CLPs como base dos projetos das
replicantes, teve que dar especial atenção à IEC-61131
que define padrões para os controladores.
O cliente Petrobras, por exemplo, possui como ca-
racterística a emissão de grande quantidade de normas e
a assinatura de contratos de fornecimento baseados em
projetos básicos. Ao trabalhar para este cliente, é necessá-
rio seguir o correto ciclo de desenvolvimento de projetos:
planejamento, geração e aprovação da documentação do
projeto executivo, produção de equipamentos e painéis,
desenvolvimento de aplicações de automação, testes de
aceitação em fábrica, comissionamento em estaleiro, co-
missionamento offshore e testes finais de aceitação. Todas
as etapas de desenvolvimento são acompanhadas através
de reuniões regulares de análise crítica e o cliente é in-
formado do andamento do projeto através de relatórios
periódicos ou de visitas de diligenciamento.
Do ponto de vista de automação, há duas estraté-
gias distintas para o trabalho em FPSOs. As plataformas
de propriedade Petrobras têm o sistema de automação
segregado, na parte superior de processo (
topside
) e nos
cascos (
hulls
). O sistema do topside segrega-se ainda em
outros três subsistemas: controle, fogo e gás e shutdown
de emergência. Para interligação dos sistemas de topsi-
de e cascos, conta-se com outro subsistema, conhecido
como “
gateway
de automação”. Maurício Brabarulo ex-
plica que isso ocorre porque o fornecedor da solução do
topside não necessariamente é o mesmo do casco, para
uma mesma embarcação.
As plataformas que não são propriedade da Petrobras –
afretadas – têm uma outra concepção: não segregam o
sistema de automação do topside e do casco, ao invés
disso, a solução é única, integrada. Assim, as operadoras
das plataformas - que detém a tecnologia do processo –
buscam parcerias estratégicas com os fornecedores de
automação, garantindo o desempenho promovido pela
solução. Em ambos os casos, há necessidade de uma co-
ordenação global do negócio, uma vez que o modelo de
comercialização envolve partes (usuário final, operador,
estaleiro, OEMs) localizadas em países e continentes di-
ferentes.
Esses são projetos de automa-
ção de grande porte, que envolvem
vários CLPs com milhares de pontos
de entrada e saída e sistemas de supervisão com centenas de telas de
operação. O correto planejamento
do projeto é fundamental para o
sucesso do fornecimento. A modelagem de interfaces com todas as
disciplinas - processo, automação,
instrumentação, elétrica, mecânica,
caldeiraria, telecomunicações, etc.
- e com os demais fornecedores de equipamentos e siste-
mas da plataforma são os grandes desafios. Qualquer mu-
dança pode afetar o sistema de automação então, é im-
portante identificar rapidamente as inconsistências, pois
o custo de adequação do sistema de automação cresce
exponencialmente com o avanço do ciclo de desenvolvi-
mento do projeto.
Os FPSOs podem ser basicamente de duas origens:
ou uma conversão de um VLCC existente (Very Large
Crude Carrier) ou uma nova embarcação (New Build) – e
isso faz muita diferença. No caso da conversão, cascos
e topside podem ou não ser montados e adaptados em
diferentes estaleiros, localizados em diferentes locais do
globo. Assim, o cronograma e a logística de entrega do
sistema de automação tornam-se peças chaves para a fi-
nalização e montagem final dos topsides e cascos.
Luis Gerbase, ressalta que nenhuma plataforma é
exatamente igual à outra, porque as plataformas são projetadas conforme o tipo específico de petróleo pre-
sente no campo onde a mesma será instalada. Então,
a automação do topside de uma FPSO e a automação
de uma plataforma fixa, por exemplo, são similares mas
os equipamentos de processo de um FPSO são proje-
tados para lidar com movimento. A automação do hull
(casco) de uma FPSO envolve o controle e monitora-
mento das variáveis relacionadas aos utilitários instala-
dos no convés do navio e de seus sistemas (controle de
ancoragem, controle de lastro e estabilidade, controle
de tanques, controle de transferência do óleo produzi-
do para navios petroleiros, etc.). Além disso, o espaço
disponível em um FPSO pode diferir bastante daquele
existente em uma plataforma fixa, o que pode fazer
com que os projetos de equipamentos sejam comple-
tamente diferentes.
“As plataformas fixas e semissubmersíveis têm con-
ceitos diferentes das FPSOs – além de produzir, as FP-
SOs devem estocar o óleo até que um petroleiro o leve
para um terminal. Além das diferenças sistêmicas, fatores
como espaço físico e capacidade para armazenamento
de sobressalentes também devem ser considerados na
definição do sistema de automação espaço. A automa-
ção das plataformas flutuantes envolve subsistemas que
não estão presentes nas plataformas fixas, como DPS
(Dynamic Positioning System) por exemplo. Além disso,
observa-se uma maior utilização de redes instrumenta-
das (Foundation Fieldbus) nas plataformas fixas”, explica
Barbarulo.
A produção de petróleo é essencialmente a separa-
ção de óleo, gás natural, água e impurezas, sendo este
processo ajustado conforme o recurso presente no cam-
po: temperatura, densidade, percentual de água, percen-
tual de gás natural e percentual de enxofre no petróleo:
a automação depende muito dos equipamentos envol-
vidos. De acordo com as condições do óleo e do poço,
mais ou menos equipamentos, instrumentos e produtos
químicos serão utilizados. Como exemplo, um poço pode
trazer um óleo com bastante areia, o que levará à necessi-
dade de detectores de areia. Por outro lado, um óleo mais
viscoso vai fazer com que mais estágios de aquecimento
e separação sejam necessários, além de um sistema de
injeção de desemulsificantes com maior capacidade. En-
tão, conforme as características de projeto, são inseridos
mais ou menos instrumentos e sistemas auxiliares de au-
tomação. O projeto da FPSO vai variar de acordo com o
local em que ela estará e, por conseguinte, o projeto de
automação muda bastante também.
Os processos existentes nos topsides não varia muito
mas em grandes profundidades, parte do processo reali-
zado no topside é cada vez mais feito no fundo do mar –
como a separação de água, gás e óleo, por exemplo.
Assim, utiliza-se menos energia para o bombeamento
para a superfície, uma vez que parte da mistura (água,
impurezas) não é bombeada para cima. Então, a auto-
mação segue a mesma linha, ou seja, parte deixa de ser
embarcada no topside e migra para o fundo do mar –
essa migração está exigindo avanços e novas tecnologias
de todos os envolvidos, não apenas dos fornecedores
de automação e instrumentação. Mas, em função dos
riscos envolvidos, o mercado de óleo e gás é bastante
conservador, sendo o fornecimento de hardware e sof-
tware restrito a soluções consolidadas. Manda a tradição
que qualquer novidade tecnológica será primeiramente
validada em outros setores da indústria, ou mesmo em
aplicações de óleo e gás, em terra antes de ser empregado em plataformas. O problema nas aplicações subsea
é que as pressões, temperaturas e condições ambientais
são bem específicas. O usuário do setor de óleo e gás é
um pouco mais resistente a mudanças ou inovações em
seus arranjos de topside. Por isso, geralmente as inovações são provenientes de necessidades levantadas por
ele próprio. Por outro lado, o tempo gasto em campo
pelos engenheiros e técnicos dos fornecedores de tec-
nologia ajuda na identificação de problemas que nem
mesmo o usuário identificou previamente – gerando
uma solução que muitas vezes, é a maneira mais bem
sucedida para introduzir uma inovação em uma plata-
forma já existente.
Avanços em sistemas de automação e controle não
só fazem sistemas mais inteligentes, mas também menores, mais capazes e mais confiáveis. Em uma plataforma
tradicional, já existente, por exemplo, o primeiro passo
para uma modernização teria que pensar na redução
do peso e aumento do espaço. Nesse caso, pode-se co-
meçar com a remoção de caixas de junção de campo
com seus cabos de condutores múltiplos necessários
para uma sala de controle central ou mesmo uma sala
contendo o sistema de I/Os, cartões e armários. Caixas
de junção de campo podem ser facilmente substituídas
por gabinetes remotos com aproximadamente as mes-
mas dimensões e um pouco mais de peso, mas que
serão distribuídos ao redor da plataforma, em vez de
concentradas em uma área. Além disso, ao invés de uti-
lizar um cabo multi-condutor, um único cabo Ethernet
ou cabo de fibra óptica. Acabar com a necessidade do
cabo de comunicação é possível com o uso do ROM FF
(Remote Foundation Fieldbus), através de um backhaul
sem fio. Vários fabricantes agora fornecem I/Os configuráveis, onde um único cartão é capaz de lidar com
uma variedade de sinais, com a definição de que tipo
de dispositivo está conectado ao par de fios. As salas
de controle contam com avanços não apenas tecnológicos, mas também ergonômicos. Claro que é preciso
muita confiança para mexer em projetos que parecem
dar certo há décadas, especialmente quando se trata de
um ambiente de aço no mar onde os sinais não são tão
facilmente transmitidos. Mas os próximos anos vão tra-
zer a necessidade desse “salto de fé” em direção a maior
utilização de novas tecnologias sob e sobre o mar. |
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