Existem dezenas de instrumentos para
elementos finais de controle, de vários fornecedores,
que oferecem opções em todos
os protocolos abertos disponíveis e mais algum
proprietário. Então, o que se deve levar em
conta na seleção de um protocolo para trabalhar
com elementos finais de controle, mesmo
para os mais simples, como válvulas on-off, por
exemplo? Uma planta possui dúzias de atuadores e
para tê-los na rede, é preciso um planejamento que
consome tempo e dinheiro.
Utilizar instrumentos com
protocolos proprietários pode parecer mais barato e fácil
a primeira vista, mas embute a necessidade de manter
uma equipe inteira para facilitar futuras intervenções.
Então, é comum usar um protocolo mais simples
como ASi e DeviceNet como solução fácil e mais econômica
se o ambiente não pede instalações intrinsecamente
seguras, e se a limitação de distância por segmento, 100
metros , não for impeditiva. E, claro, ter em mente que o
ASi e DeviceNet passam o essencial para o sistema.
Protocolos como o Profibus PA e o Fieldbus Foundation
(FF) dão ao usuário flexibilidade para integrar válvulas
on-off, solenóides, atuadores e posicionadores em
qualquer parte da planta, além de permitirem dispositivos
analógicos na mesma rede, sem necessidade de spurs especiais
para isolar o atuador, com garantia de obter diagnósticos
com FDT/DTM ou EDDL.
Verdade, Profibus e
FF são mais caros que o ASi e DeviceNet mas é preciso
estabelecer o ponto onde vale a pena pagar um pouco
mais, mesmo em aplicações não-críticas. Esse ponto pode
incluir informações sobre válvulas on-off que ficam muito
tempo na mesma posição e é sempre bom ter em mente
o custo do ciclo de vida das válvulas on-off também, não
apenas os custos de instalação e operação.
Profissionais internacionalmente respeitados concordam
que as soluções tradicionais para válvulas on-off têm uma série de limitações pois, na sua
maioria, atuam com sinal binário, tipo
liga-desliga.
Eles são ligados ao sistema
através de cabos individuais ou através
de redes com comunicação digital.
Vários fornecedores deste tipo de
equipamento oferecem protocolos proprietários,
que permitem acessar alguns
diagnósticos, configurar os instrumentos
e, obviamente, atuar e receber o feedback
da posição da válvula. “O problema com estes protocolos é que eles são proprietários, o que
coíbe a utilização de equipamentos de
mais de um fornecedor e força o usuário
a aprender mais de um protocolo,
interface de configuração, etc. Além
disso, a maioria destas redes não pode
ser utilizada em áreas classificadas com segurança intrínseca.
E não permite a presença de outros instrumentos”,
corrobora mestre Marcos Peluso.
Os protocolos abertos tradicionais como Profibus DP
e ASi são bastante utilizados e não têm as limitações do
múltiplo aprendizado. Mas também têm problemas com
segurança intrínseca. ASi poderia ser instalado
em uma área classificada como
Divisão 2, mas não cobre todas as aplicações.
Além disso, existe a limitação do
comprimento do cabo de cada segmento
e sendo um protocolo voltado a aplicações
bem simples, não permite diagnósticos
mais avançados. “O Foundation e o Profibus PA não
tem nenhuma das limitações acima, custam
um pouco mais caro, mas considerando a flexibilidade
que oferecem, a diferença de preço é recuperada rapidamente
uma vez que a planta começa a operar. Os atuadores
FF e Profibus PA podem custar um pouco mais, mas considerando
o custo total da instalação (os atuadores podem
participar da rede com outros
instrumentos) e os benefícios
para a Operação e Manutenção,
acabam valendo a pena.
Sem contar que o número de
fornecedores cresceu bastante,
o que oferece mais liberdade
de escolha e pode baixar preços”,
comenta Peluso.
Alguns dispositivos de
comando utilizados em válvulas
on-off permitem efetuar um
teste com pequena movimentação
da válvula, isto é, você pode posicionar uma válvula a 95%
por um curto espaço de tempo para
testá-la. Estes dispositivos para Partial
Stroke permitem fazer testes do tipo
movimentar a válvula só um pouco,
sem abrí-la ou fechá-la completamente.
Como estas válvulas podem
ficar na mesma posição por meses a
fio, é possível que fiquem presas ou
emperradas, requerendo um torque
muito grande para movimentá-las.
Este teste é requerido principalmente
em aplicações de segurança, mas é muito útil em aplicações críticas ou
convencionais também.
Mas, sem um especialista do
lado, como escolher o melhor protocolo
numa situação tão simples e
comum como essa? Este ano o mercado brasileiro ganhou
duas novas opções especializadas nisso: o LEAD, no Rio
de Janeiro, e o Smart Center da Tyco, em Sorocaba / SP.
Um e outro têm times treinados para auxiliar nessa e outras
escolhas que envolvam protocolos de comunicação e
sistemas.
No Smart Center, a equipe dispõe
de laboratório com sistemas da ABB,
Emerson, Yokogawa, Siemens, Smar,
Rockwell e Invensys, todos com capacidade
para comunicação com os principais
protocolos de mercado: Hart,
FF, Profibus, Modbus, ASi, Devicenet,
além do 4-20mA. “Nosso objetivo não é direcionar um ou outro protocolo,
mas realizar testes que comprovem
e facilitem as combinações. Por exemplo, se um cliente
quiser usar ASi com Rockwell, pode ver no laboratório se
a combinação funciona, quais dificuldades, o necessário
pra integrar...”, explica Leonel Bertuso, responsável pelo
Smart Center da Tyco.
Mas, se os protocolos são
padronizados, têm cartilhas a
seguir, por que ainda suscitam
tantas dúvidas? Do lado do
equipamento, as coisas parecem
mais harmonizadas porque,
sim, há o passo-a-passo;
quando se vai para o sistema
de controle, as coisas não são
tão transparentes assim, existem
testes de interoperabilidade
e, se equipamentos ASi
conversam bem com equipamentos
ASi, DeviceNet com DeviceNet, FF com FF e assim por
diante, quando se vai para a camada
de sistema, cada fabricante implementa
de maneira diferente a forma
de conversar com os protocolos. Leonel
explica que cada fabricante usa
uma maneira de interpretar os dados,
não há padrão. “Vai funcionar, mas é preciso descobrir como a comunicação
acontece. Uma comunicação
Modbus no sistema Emerson começa
no endereço 00001, por exemplo;
no sistema da ABB pode começar no
00000, e assim por diante.
A questão é o endereçamento, onde começa a
ler e até onde vai”.
A informação vai ser lida sem
problemas se a configuração for bem
feita, mas nem sempre o usuário tem conhecimento ou
tempo para fazer todos os testes e análises. Fazer essas “descobertas no campo” é sempre mais complicado, isso
tem que estar pronto quando for para o comissionamento
saber isso gera ganho de tempo no start up. Então, quando
se elabora um projeto, configura, realiza os testes, faz
a integração e a partida é tranquila; se deixar para fazer a
integração de equipamentos que não se conhece na hora
de partir a planta, trava tudo e atrasa o trabalho porque
se perde tempo descobrindo como as coisas funcionam.
Isso pode e deve ser feito num laboratório assim que se
desenha o sistema e compra os equipamentos porque
eles vão demorar até 120 dias para chegar, dependendo
do fornecedor.
Luiz Franco, diretor da Westlock/Tyco, ressalta que continua valendo
o senso comum e o fato de que cada
processo pede um protocolo diferente.
Por exemplo, uma usina de açúcar não
vai usar FF, pode colocar um ASi ou um
Devicenet que são protocolos digitais,
fazem a função abre e fecha monitorado
constantemente e atende bem a
necessidade atual. Mas, ao contrário, numa refinaria a demanda
por mais informações do dispositivo, performance,
diagnósticos dos instrumentos é imensa e então é usual
utilizar protocolos com mais recursos do que o ASi.
E vale lembrar que nem toda on off é simples: uma
válvula de segurança, que opera em condição de emergencia, é on off, mas é extremamente crítica, trabalha
numa única posição e aí mora o perigo porque não
pode haver nenhum vazamento na posição fechada; e ela
está em constante contato com o produto que é sempre
abrasivo, contém impurezas e não pode ter nada que
impeça seu movimento quando solicitado. Mas é fato:
as válvulas de segurança não usam rede com protocolos
digitais já que uma falha comum na
rede colocaria todas as válvulas em
risco porque são mais lentos quando
ponto a ponto.
Por norma as válvulas
de emergência são comandadas ponto
a ponto diretamente do Sistema de
Intertravamento de Segurança (SIS),
embora FF tenha certificação SIL,
não existe aplicação no mundo para
válvula de segurança! Normalmente
nas válvulas de segurança a atuação é direta no solenóide é 4-20 mA. A
Rlam tem uma aplicação assim, com
FF em paralelo para tirar todos os dados
possíveis da aplicação, sem ferir a
Norma sugestão do epecista!
A falta de conhecimento, juntamente
com o custo do investimento, é o fator que mais inibe o uso de protocolos. Excetuando-
se as grandes empresas, não é comum encontrar uma
equipe qualificada para manter uma rede operando com
protocolo digital. “É preciso ter alguém dedicado porque
existem procedimentos a seguir e, por mais que um FF
seja sofisticado, se for mal instalado ele vira um pesadelo.
O benefício é claro, mas não é simples de implantar. Ele
traz economia tanto no Capex quanto no Opex, desde
que esteja funcionando corretamente o que depende
de uma série de detalhes ao longo do ciclo do projeto”,
frisa Leonel.
A instalação é um ponto importante nos protocolos
de comunicação porque eles são sensíveis a ruído, precisam
de cuidados com o cabo, o aterramento, etc. Se
forem instalados corretamente, vão funcionar
direito mesmo com alterações
no ambiente porque é esperado que
a planta cresça! Aí entra uma facilidade
do wireless porque ele não precisa
de site survey na rede mesh. É preciso
ter em mente que a planta é dinâmica;
hoje está de um jeito, amanhã pode ter
um novo tanque instalado, um skid de
medição, etc. e tudo isso é um novo ponto de interferência
se a rede não estiver robusta.
Uma rede bem instalada tem filtro, controlador, barreira,
aterramento, foi checada, testada, e certificada para
que funcione bem. Manter uma rede digital é muito simples,
ela dá muita informação sobre ela mesma também,
não apenas sobre o processo.
Ter um protocolo digital monitorando as variáveis e
a planta avisando se algum instrumento estiver medindo
fora da faixa calibrada; se um cabo estiver desconectado
da borneira, quando uma intervenção é necessária,
etc. parece coisa corriqueira. Mas a informação pode estar
disponível sem ser tratada de forma adequada e nem todos que colocam um instrumento
inteligente utilizam um sistema supervisório
ou gerenciamento de ativos.
Acontece muito o usuário colocar um
instrumento com Hart quando o sistema
só aceita cartão analógico, sinal
ponto a ponto: o Hart está cheio de
informação, mas o sistema só pega a
analógica! É preciso ter tecnologia no
campo e na operação, é necessário
ter software que interprete a tecnologia
que vem do campo, ainda que
ela seja adquirida por um hand held.
Nesse nicho, de 4-20 mA com Hart,
talvez os adaptadores e antenas wireless
encontrem uma boa receptividade
para monitoramento. Será por isso
que o Hart vem crescendo?
Parece simples, mas não é. Utilizar protocolos digitais
de comunicação em aplicações mais simples ainda não é comum. Basta ver o levantamento da ARC: das 300 milhões
de válvulas vendidas por ano, só 5% são
monitoradas considerando válvulas
atuadas e manuais.
Experiências de automação para
monitoramento de válvulas começam
a ser mais frequentes e incluem, de
uns tempos para cá, o fato de se terceirizar
a manutenção ou ter contratos
de gerenciamento de grupos de ativos.
Afinal, o objetivo é produzir, não treinar
pessoal para operar um sistema
diagnóstico que pode ser monitorado à distância e usar, num futuro não muito
distante, computação de nuvem. “Também é nosso trabalho tirar o
medo de lidar com protocolos. A gente
ajuda no projeto, faz os testes, faz
certificação, dá treinamento e entrega
a rede funcionando. O usuário às vezes precisa de ajuda
para quebrar essas barreiras contra os protocolos digitais”,
afirma Leonel.
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