Liderado pela Shell Global Solutions, um teste utilizando
um transmissor de temperatura do mar (com indicador
em terra), realizado em Nice (França), colocou o
padrão da ISA na berlinda.
Ainda que o teste tenha utilizado somente um terço
do padrão – que assume ser necessário utilizar 100% das
recomendações para que o sistema funcione -, as transmissões
não aconteceram ou conflitaram com outros elementos
da norma, reforçando a posição de vários críticos
do padrão, incluindo a própria Shell e o ANSI – America
National Standards Institute.
Toda essa confusão veio à tona na reunião que aconteceu
em paralelo ao Fórum da ARC, em Orlando: o padrão
ISA 100.11a foi para manutenção e deve se aproximar
da WirelessHart – que já detém de fato a liderança
nessa briga e está a um passo de levar esse troféu por
direito.
Os mais otimistas esperam que a ISA 100.11a retorne
mais robusta e revisada, numa versão mais funcional,
em outubro deste ano, durante a Automation Week da
ISA, em Houston. Pode demorar um pouco mais já que, até o Comitê responsável pela ISA 100.11a formatá-la
em agosto do ano passado, existia uma discussão interna
sobre a “cara” que a norma deveria ter-se mais parecida
com o Zigbee, com o OneWireless ou com o Wireless-
Hart. E quem conhece os primórdios dessa contenda – que remonta a um pedido do Governo Bush para que a
indústria tivesse um padrão wireless -, sabe que as coisas
não são tão simples.
Um ponto a favor do entendimento sobre a cara da
norma é o fato de que as empresas que participaram da
mesa redonda sobre o assunto no Fórum da ARC – Shell,
Chevron, Exxon, Basf e BP – sugeriram que o mercado adotasse uma norma única, testada, para implantar o wireless. É bom ter em mente, contudo, que a BP é pioneira
no uso da tecnologia – a Emerson lançou sua linha WirelessHart
com um case da BP, há três anos, durante seu
encontro anual de usuários. E deve ser a própria Emerson
a liderar esse rearranjo da ISA 100.11a com o WiHart, via
subcomitê de convergência wireless Hart ISA 100.12.
“A Emerson está liderando uma proposta – com a
ajuda das maiores empresas do setor de óleo e gás – para
criar uma especificação para a convergência que vai fazer
a ISA 100.11a funcionar com exatidão, como o WiHart.
A ISA 100.11a nunca definiu um perfil para a camada de
aplicação. Tudo que estamos fazendo é definir esse perfil
de forma que englobe todos os 936 parâmetros da ISA
100.11a e adicionar funcionalidades que se comportem
identicamente às dos instrumentos de campo WiHart– tanto que um gateway WiHart não vai notar a diferença”,
comenta José Gutierrez, diretor de tecnologia do Grupo
Emerson.
Jim Aliperti, diretor de vendas da Honeywell do Brasil,
lembra que é necessário entender o processo de padronização
para entender essa situação corretamente. Para garantir
para o mercado que um padrão foi feito de acordo
com as boas práticas de normatização uma organização
independente certifica que o processo de elaboração daquela
norma é correto e que a norma é passível de ser
classificada como uma norma pública. Jim Aliperti frisa
que essa organização não emite nenhuma opinião sobre
o conteúdo técnico da norma, apenas sobre a forma
como a norma foi elaborada.
“É o que acontece com a
WirelessHart e o IEC - o IEC certificou a WiHart como
norma pública - ou seja, a Hart Foundation consultou o
mercado de forma correta, deliberou sobre a norma de
forma equitativa, votou democraticamente, escutou todo
mundo que devia etc. Isso é um passo importante para dar credibilidade à norma mas não transforma a WiHart
uma norma da IEC. E, quanto a OneWireless, ela nãoé independente, adota a ISA 100 como padrão. No caso da
ISA100, o WCI - Wireless Compliance Institute - órgão independente
que tem um processo de teste para verificar
se um produto está ou não em conformidade com a norma
ISA100 -, certificou o OneWireless como ‘compliant’ com a ISA100”.
“Além de ser definido pela Hart Foundation, o WirelessHart
deve ser aprovado pelo International Electrotechnical
Commission – IEC ainda em março”, destaca o
diretor de sistemas da Emerson Process no Brasil, Claudio
Fayad.
O ANSI também rejeitou a ISA 100.11a por questões
de procedimento e, com o levantamento da Shell, o
Comitê da ISA decidiu não submetê-la novamente. Criou
uma força tarefa para “refazê-la” e só então tentar de
novo. Um programa otimista prevê que isso esteja pronto
em outubro e então serão necessários mais três meses
para a aprovação do ANSI e outros tantos para a do IEC.
Jim Aliperti ressalta: “É necessário entender que devido
o alcance deste padrão o mesmo é composto de
diversas partes, algumas das quais ainda estão no Comitê em votação. É uma família de padrões. A parte que
diz respeito à rede de instrumentos sem fio, ISA100.11a, é uma padrão votado, aprovado e publicado. Existe um
membro da família que se chama ISA 100 parte 12 que
trata da convergência com WirelessHart.
A família ISA a que Jim se refere é: Sensor mesh
ISA100.11A release 1; Asset Tracking (pessoas e ativos)
ISA100.21; Mobile worker (Handhelds); Outros dispositivos
WiFi ISA100.15; Coexistência com outros padrões
Wireless (WiHart) ISA100.12; Interface com redes cabeadas
(FF, Profibus, Modbus etc) ISA100.15; Back-Hual
Backbone ISA100.15.
Mais que um boato, contudo, é o fato de que os
usuários já se sentem mais seguros com a tecnologia wireless:
a WINA Wireless Industrial Networking Alliance
fez uma pesquisa que mostrou que 50% dos entrevistados
ainda se sente um pouco inseguro em utilizar a
tecnologia mas o restante considera o wireless tão ou
mais seguro que os sistemas cabeados. O levantamento
também mostrou que os usuários não acham que a
marca do instrumento wireless decide a compra e que
o crescimento na utilização da tecnologia – de 5% para
até 30% em cinco anos – prova que ela veio pra ficar.
Bob Karschnia, vice presidente para wireless da Emerson Process Management, acredita que os sistemas sem fio
devem abocanhar uma boa parcela das plantas, mas os
sistemas cabeados têm um nicho garantido – e em alguns
anos, essa mistura deve ficar em 80% wireless e 20% wired. O wireless só está aquecendo os motores: estima-se
que somente 10% dos 30 milhões de equipamentos Hart
estão utilizando a nova tecnologia!
Kaschnia ressalta os ganhos comprovados pelos usuários
wireless – fácil engenharia, mais simples construção,
start up flexível, possibilidade de responder a mudanças
mais rapidamente e até 36% de economia comprovada
por Dan Daugherty, consultor da Emerson, cujo estudo
calculou a economia gerada com instrumentação wireless,
em relação a instalação de rede 4-20 mA com cabeamento
tradicional e placas de I/O.
No encontro mundial de usuários da Emerson do
ano passado, Emerson Global Users Exchange, John
Dolenc, também consultor da Emerson, apresentou em
detalhes um estudo sobre o potencial impacto da tecnologia
wireless na construção de uma nova planta de
hidrotratamento. Ele mostrou que a tecnologia wireless
pode reduzir o custo total dos instrumentos de monitoração.
No hidrotratamento idealizado, 44% dos pontos
de medição podiam ser wireless, o que os tornaria cerca
de 41% mais baratos em comparação com os cabeados. Esse estudo comprova que a tecnologia wireless não precisa
ficar restrita ao número limitado de cenários onde
o custo é proibitivo ou onde seja impossível implantar
cabos.
A economia de cabos e conduítes é fácil de ser
notada e faz parte de qualquer sistema wireless. Mas,
diferente de um sistema ponto a ponto ou em linha
livre, o wireless mesh elimina também os custos (e o
trabalho) do levantamento detalhado da planta: precisa
apenas de instrumentos suficientes para levar as
mensagens. Para desenhar uma rede mesh, pegue um
desenho em escala da planta (uma imagem do Google
Earth serve também) e estabeleça sua rede manualmente
ou através de uma nova ferramenta da Emerson, o
AMS Wireless SNAP-ON. Pra fazer manualmente, pegue
o desenho em escala e faça linhas nas áreas onde
quer instalar a rede.
Então marque os instrumentos
que deseja colocar na área mantendo uma distância
de cerca de 230 metros (sem obstáculos), 75 metros
(com obstáculos moderados) ou 30 metros (para áreas
com estruturas pesadas). Para um bom desempenho,
cada instrumento deve poder se conectar com outros
três em várias direções. Se um instrumento não puder
se conectar com outros três, coloque um outro medidor
ou um extensor para tornar a conectividade mais
robusta. No caso de haver um prédio ou uma planta
inteira entre os instrumentos, use outro gateway - isso
também deve ser feito quando a rede cruza uma sala
fechada.
Os projetos desenvolvidos em arquitetura mesh estão
em alta. E, embora a chance de falhas seja reduzida
com a adoção de distâncias máximas entre transmissores
e receptores e a comunicação visual entre os dispositivos,
a tolerância a falhas e a confiabilidade da transmissão
leva a adoção da comunicação entrelaçada baseada
na nuvem de irradiação. Esse tipo de desenho permite a
continuidade da transmissão dos dados mesmo que um
obstáculo interrompa o sinal direto. Isso porque, cada
instrumento também funciona como roteador – e o sinal
emitido por um equipamento sai buscando rotas alternativas
até encontrar o ponto de recepção final.
Nesse sentido, o índice de confiabilidade da rede
cresce na proporção do número de instrumentos – quanto
mais instrumentos, mais densa, e com mais caminhos
alternativos, torna-se a rede. Aplicações mais avançadas
permitem até fazer um mapeamento com a localização
de todos os instrumentos, e encontrar os chamados pinch
point – gargalos onde a informação só possui um caminho – para realocar os repetidores.
Outra inovação é a chamada Frequency Hopping
Spread Spectrum - FHSS: quando há interferência que
impeça a comunicação na frequência programada, o instrumento
busca outra banda para operar. Uma característica
da rede Mesh com WiHart é o channel hopping:
quando há interferência que impeça a comunicação na
frequência programada, o instrumento busca outro canal
dentro da banda para operar.
Fayad lembra que, como normalmente o tempo de
atualização é maior do que quatro segundos, não haverá nenhum impacto no monitoramento, mesmo que a retomada
desse caminho leve um ou dois segundos: mesmo
não apresentando componentes de redundância, é uma
rede redundante por natureza, porque tem múltiplos caminhos
até o gateway.
O engenheiro William Kishi, ligado à Coordenação
Técnica da Yokogawa, ressalta que nenhum sistema é
imune à perda de sinal – mesmo a instrumentação convencional. A diferença é que o fio não pode alertar um
operador sobre um problema nele mesmo, enquanto os
links de comunicação permitem saber que os dados não
estão sendo transmitidos devido a uma perda de sinal entre
um escravo e o mestre. “Além disso, em caso de falha
de comunicação, o escravo vai controlar suas saídas com
base na condição default de segurança contra falhas”.
Algumas empresas já começam a adotar o wireless
até para controle – como em um projeto desenvolvido
nos laboratórios da Universidade do Texas, com uma coluna
de destilação, em que o algoritmo PID foi alterado para acelerar o tempo de envio das informações. E na
unidade de carboderivados da Elken, no Espírito Santo,
onde há mais de um ano faz controle em malha fechada
de temperatura do aquecedor indutivo com desempenho
superior ao controle cabeado que sofria interferência eletromagnética,
conta Leonle Bertuso, responsável por wireless
na Emerson do Brasil. “Em alguns casos, adotamos
a instrumentação wireless para controle de temperatura e
pH, onde o tempo de resposta pode ser menor do que 4
segundos”, conta.
Leonel adianta que os equipamentos terão uma funcionalidade
que se pode chamar de reporte por exceção
- atualmente apenas o transmissor de pH possui. Isso funciona
da seguinte maneira: o transmissor tem uma taxa
de comunicação, por exemplo, de 60 segundos. Porém
em uma determinada faixa de medição, o processo começa
a ficar mais crítico e a taxa de 60 segundos não é mais aceitável. Então o transmissor, automaticamente
muda a taxa para 1 segundo. Ou seja, a cada segundo
ele transmite, fazendo assim um controle mais preciso da
malha.
E pelo fato do WirelessHart se comunicar por rotas
diferentes (mesh), esse sinal teria maior confiabilidade
pois teria redundância na comunicação.
No Brasil, uma das instalações da Emerson Process
monitora a pressão, temperatura e vibração de dois dos
quatro compressores na Unidade de Compressão da Petrobras
(ES) – é uma rede mesh coletando dados e enviando
a um gateway interligado ao sistema de manutenção
preditiva. Nesse caso, instalar um sistema de monitoramento
significaria eliminar as rondas dos operadores que
coletavam os dados manualmente – e a opção pelo sistema
adotado significou uma economia de US$ 200 mil
em relação a uma instalação convencional com cabos e
eletrodutos.
“A tecnologia Wireless é, de fato uma ferramenta
chave para muitas aplicações, inclusive as ‘verdes’ – seja
pela redução da fiação e suas consequências, seja pelo
produto em si. Aqui na Emerson estamos trabalhando
em um projeto de planta limpa de carvão que utiliza
gaseificação de carvão supercrítica. Essa tecnologia requer
o uso de altas temperaturas onde o cabeamento
não dura muito. Com nossos instrumentos WiHart gerenciar
esse ciclo de gaseificação é fácil. E de maneira
similar, nas biorefinarias e todo tipo de tecnologia de
combustível alternativo, o Wireless é importante para
tornar atraente o custo de se monitorar e controlar os
processos. Sem o wireless, o ROI de processos ‘verdes’ não consegue competir com o dos combustíveis já estabelecidos”,
lembra Gutierrez.
A própria Petrobras tem um estudo referente a instrumentação
de uma unidade de hidrotratamento, que
aponta economias mesmo no caso de uma planta nova. “Embora estudos deste tipo sejam interessantes, não focalizam
o cerne da questão, que não é o custo de uma
alternativa contra a outra, mas a resistência natural ao uso
de uma tecnologia nova, e até certo ponto revolucionaria,
e as limitações reais que a instrumentação sem fio tem
quanto aos tempos de atualização ou consumo de bateria.
A maioria das instalações atuais ainda está nos casos
onde a solução sem fio resolve um problema específico
muito melhor que a alternativa convencional”, avalia James
Aliperti.
E esse melhor tem a duração da baterias... Segundo
a WINA, os roteadores Zigbee precisam de alimentação
por fio e seus instrumentos têm baterias que duram cerca
de dois anos. No WiHart, a duração das baterias é de cinco
a sete anos, mas o consumo pode ser gerenciado por
instrumento. E todas as empresas estão atrás de baterias
mais duradouras e outras formas de alimentação, como
os painéis solares.
“Uma preocupação entre alguns engenheiros é a
possibilidade desses dispositivos wireless serem tão pouco
confiáveis quanto os telefones celulares e o receio é de
que quedas de ligação ou comunicações não recebidas
possam causar problemas de segurança ou produtividade
nas plataformas”, explica o professor Dennis Brandão, especialista em comunicação e informática industrial da
Universidade de São Paulo.
Steve Toteda, presidente da WINA, contudo, afirma
que o wireless é mais seguro que os sistemas cabeados porque utiliza de maneira profunda a criptografia e elimina
instrumentos não autorizados da rede.
Hoje, até mesmo os sistemas cabeados podem tirar
mais proveito de seus instrumentos inteligentes graças aos
adaptadores disponibilizados. Afinal, novas tecnologias
proporcionam grandes mudanças não por si mesmas, mas
devido a sua funcionalidade que agrega valor.
“Mesmo com todos os benefícios de uma planta
digital, ainda existem oportunidades inexploradas para
se alcançar novos níveis de performance do processo.
Informações valiosas que poderiam incrementar a
produtividade podem estar sendo ignoradas por terem
um custo elevado para acessá-las ou até mesmo tecnicamente
impraticável.
Wireless é a tecnologia que
provoca o rompimento de barreiras e paradigmas proporcionando
uma grande mudança na automação de
processo e que abre espaço para novas oportunidades
e implementação de melhoria da performance”, comenta
Leonel Bertuso.
A grande aceitação que a tecnologia wireless vem
tendo deve-se a sua capacidade de possibilitar o gerenciamento
e acesso a mais informações ao redor da planta,
mais facilmente e a um custo relativamente baixo.
E a tecnologia wireless não deve substituir completamente
a convencional, apesar de já resolver problemas
que não seriam viáveis se implementados totalmente
a cabo.
Leonel recomenda, dentro da postura
de melhores práticas, a combinação das tecnologias
disponíveis atualmente para automação de processo.
E lembra que existem os adaptadores que formam um
sistema híbrido - bom para começar a lidar com a nova
tecnologia.
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