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Aquisição de dados é coisa antiga
na indústria. Primeiro era feita manualmente, depois, entraram
tecnologias para facilitar e tornar mais confiáveis essas
compilações, apesar de, ainda hoje, a aquisição
manual ser utilizada. E tomar os dados dos processos é algo
que começa lá na ponta, nos instrumentos de campo
e na instrumentação embarcada.
Definir as variáveis que serão monitoradas parece
uma tarefa fácil mas, como o desejo é de aquisitar
todos os dados, isso bate de frente com a capacidade dos sistemas.
Então, parte-se para as priorizações, para
as variáveis críticas, primeiro. Mas como definir
uma variável crítica? Usuários e fornecedores
parecem unânimes ao afirmar que depende do processo. O engenheiro
Marcelo Guimarães, da unidade de negócios do gás
e energia da Petrobras, faz coro com outros usuários ao lembrar
que dependendo do processo que se está trabalhando, surge
o conhecimento de quais são as variáveis importantes.
Para o seu sistema gerencial ter informações
você vai identificá-las dessa forma: o que é
importante saber? E então você vai localizá-las
nas diversas unidades do processo afirma Guimarães.
O engenheiro Élcio Rodriguez Aranha, analista de negócios
da Fosfértil, completa que a questão é
se a variável é crítica ou não baseada
numa condição de processo onde ela poderia estar inserida
e, naquele contexto, estar tirando a estabilidade do processo e
levando-o para uma condição de insegurança
a ponto de explodir um reator ou causar um dano maior ao equipamento.
Ou seja, numa petroquímica, essa variável vai estar
inserida justamente nas condições de operação
daquele equipamento.
Mais pragmático, o engenheiro Douglas Ruy, gerente de manutenção
de controle de processo dos altos fornos da CST, afirma que a variável
crítica é aquela em que se tem que manter um nível
de controle forte para que se tenha estabilidade do processo, uma
variável onde qualquer anomalia pode trazer uma variabilidade
para o processo que não se deseja. Para identificá-las
existe o conhecimento do pessoal da planta e também existem
ferramentas de suporte que podem ser utilizadas para auxiliar a
identificá-las. Usamos um sistema na CST, o Exaplog, que
nos auxilia a gerenciar os eventos e naturalmente as variáveis
críticas do processo.
O pensamento do engenheiro Kaku Saito, do Centro de Pesquisas da
Petrobras, chega mais perto daquele em voga nos fornecedores: do
ponto de vista de variável de processo, uma variável
crítica pode ser entendida como aquela que afeta grandiosamente
a qualidade de um produto, a segurança da planta, a confiabilidade
das instalações. São variáveis operacionais
que devem ser bem acompanhadas, bem monitoradas. Como a gente
faz projetos de plantas industriais no Cenpes, conhecemos as variáveis
operacionais mais importantes, as principais, em cada parte da planta,
em cada parte do equipamento. A gente tem esse conhecimento porque
além do grupo de automação, temos um grupo
forte de processo que é quem define todos os dados de processo
para planta, e junto com a gente, instrumenta o projeto.
Passa perto da visão dos fornecedores que estão em
dia tanto com as novas tecnologias quanto com as necessidades dos
mercados. O engenheiro Carlos Fernando Albuquerque, da Siemens,
prefere colocar a definição de variável crítica
num patamar superior. Sim, ela depende do processo, do tipo de indústria,
do projeto. Mas não devemos nos limitar a definir a
criticidade do processo nesses níveis porque, hoje, a automação
juntamente com a instrumentação e a tecnologia de
informação são fundamentais para o gerenciamento
das variáveis críticas do negócio como um todo.
Se para um determinado produto são exigidas características
específicas e relatórios determinados para a exportação,
surgem variáveis críticas que não eram visualizadas
antes.
Apesar das variáveis críticas não estarem obrigatoriamente
em áreas classificadas e de muitos não incluirem a
redundância como item básico para elas em seus processos,
o engenheiro Flávio Mine, da manutenção da
Cenibra, acredita que a redundância é, sim, requisito
básico para manter a robustez do sistema, e uma segurança
maior. Então, se a variável é crítica,
além da redundância pode-se utilizar outras formas
de medir indiretamente aquela variável para que numa eventual
falha de um equipamento ou de uma determinada circunstância
onde aquela primeira forma de medir a variável não
surta efeito, pode-se ter um disparo de temperatura, uma alteração
de pressão ou uma combinação de outras variáveis
para que o controle perceba que aquela variável crítica
atingiu o valor de desarme não necessariamente por
indicação da variável crítica, mas por
indicação de componentes que estariam correlacionados
com a variação dessa mesma variável. Na Petrobras
existe um procedimento para avaliar quais são as variáveis
que precisam ter redundância, levando-se em conta o aspecto
de segurança - incluindo-se a segurança das pessoas,
do meio ambiente, das instalações e da continuidade
operacional. Porque em se perdendo uma variável, pode-se
eventualmente levar uma planta a uma condição de parada.
Para Douglas Ruy, da CST, a redundância é um dos requisitos
mais importantes porque os seus sistemas digitais de controle são
considerados elementos críticos. A concepção
dos sistemas dentro da CST procura sempre um nível de redundância,
até nas CPUs das redes de controle para que a gente não
tenha nenhum um tipo de surpresa.
Qualidade e tecnologia confiável dos instrumentos são
imprescindíveis para se ter a manutenção de
uma variável bem acompanhada ao longo de toda a vida útil
da planta, seja a variável crítica ou não.
É importante uma boa instalação, um correto
detalhamento, de construção e montagem porque ainda
se encontram muitas falhas de instalação e montagem.
Os cuidados do ponto de vista operacional são imprescindíveis,
bem como o conhecimento do processo e, na parte de instrumentação
e automação, fundamental é ter equipamentos
robustos e confiáveis, completa Flávio Mine.
A confiabilidade do sistema como um todo é imprescindível
e toda a atenção deve ser dada aos detalhes, desde
a instrumentação até o sistema de automação
que se está utilizando para fazer a aquisição
dos dados relacionados às variáveis críticas.
O protocolo que se utiliza para fazer a aquisição
de dados é um dos cuidados que devem ser tomados na hora
de fazer a especificação dos instrumentos do sistema
de controle quando se quer confiabilidade, rapidez ou freqüência
nessa aquisição de dados. Entram as normas que diferem
se o sistema está baseado em PCs, PLCs SDCDs e utilizando
Modbus, Profibus ou Ethernet. Mudar o sistema de aquisição
para Ethernet pode trazer outras questões importantes para
quem estava acostumado a comandos tipo RS485 porque o novo protocolo
necessariamente requer conhecimentos de endereçamentos IP,
característicos do departamento de TI.Qualquer que seja o
protocolo, para variáveis críticas é preciso
gerar um scan com velocidade um pouco maior. Dessa forma, dentro
do tempo de amostragem de uma variável comum, pode-se fazer
duas ou três amostras de uma variável crítica.
Élcio Rodrigues Aranha, da Fosfértil, acredita que
é extremamente necessário ter uma rotina de calibração,
critérios e rotina de aferição e calibração
mais restritos, mais apurados para as variáveis consideradas
críticas justamente para garantir que a condição
de processo indicada seja de real valor. Eu tenho que ter
uma garantia, que aquele equipamento, aquele instrumento está
funcionando dentro das características de projeto para garantir
a qualquer momento, em qualquer situação, que o dado
apresentado por ele seja um dado real. Isso deve ser válido
para todas as informações que se aquisita, quanto
mais para aquelas vindas de pontos críticos.
Marcelo Guimarães, da Petrobras, lembra que as variáveis
críticas podem ser priorizadas no tráfego geral de
aquisição de dados. A periodicidade com que
você aquisita os dados para variáveis críticas
é menor. No caso das não críticas você
pode ter um tempo de aquisição mais espaçado.
Há influência também do próprio comportamento
da sua variável, pois como algumas não mudam constantemente,
não se tem necessidade de fazer uma aquisição
de dados rápida, porque muitos valores serão repetidos,
o que talvez não tenha significado e pode até começar
a comprometer o seu sistema de aquisição de dados.
Normalmente em sistemas de controle com DCS já se tem
uma forma de trabalhar com as variáveis pelo próprio
sistema operacional, que tem como identificá-las e tem como
colocar as variáveis críticas numa forma de leitura
mais rápida - o que é muito mais tranqüilo. Mas
se a planta possui um controlador, algo como um PLC Scada, ou outra
arquitetura, seria necessário escalar, dentro da rotina principal
de controle, algumas chamadas de sub-rotina que dariam tratamento
a essa variável crítica. O que significa que a escolha
da arquitetura, do hardware e do próprio software que se
utiliza influência a forma de aquisição e a
facilidade como se estabelecem as ações e prioridades.
Existem softwares que já possuem a característica
de trabalhar com variáveis críticas bastando nomeá-las
de críticas ou as colocando numa velocidade de scan mais
rápida. Quando o software não possui essa característica
o trabalho fica maior porque será necessário programar
algum artifício para este tratamento.
Segundo Douglas Ruy, a CST utiliza o PIMs para fazer toda a aquisição
de dados da planta, de todas as variáveis, críticas
e não críticas - que não precisam de uma taxa
de atualização elevada. E, para evitar que haja algum
transtorno no tráfego de dados, a configuração
do sistema estabelece uma aquisição com uma freqüência
mais espaçada. Já para as variáveis críticas,
a gente configura um tempo menor, conseguindo o equilíbrio
e não sobrecarregando tanto o tráfego da rede.
Na Petrobras existe, sim, diferença de tratamento para variáveis
críticas e não críticas porque normalmente
as consideradas críticas estão associadas aos sistemas
de segurança e precisam de um sistema digital de maior confiabilidade
e maior disponibilidade. E como estão associadas a
uma malha de controle, tenho que tomar todas as providências
de modo que se eu perder aquela variável eu garanta a informação
de que há um problema, há alguma anormalidade para
os operadores, em tempo hábil. Então eu tenho que
tomar providências na configuração do meu sistema
digital, frisa Kaku Saito, do Cenpes. A Petrobras ainda estabelece
que se o projeto estiver utilizando uma rede industrial, Fieldbus,
por exemplo, e existir uma variável considerada crítica,
mas que esteja fora do sistema de segurança, deve-se procurar
fazer com que naquela rede se concentrem instrumentos de variáveis
críticas. É regra não misturar variáveis
menos críticas com variáveis críticas num mesmo
segmento. Ainda que, como frisa o engº Roberto Santini de Oliveria,
da VCP, hoje em dia com o barateamento dos custos dos equipamentos,
não sejustifique utilizarmos equipamentos mais precisos somente
para as malhas críticas.
Então, o que o usuário busca é um equipamento
confiável. Tem que ter alta disponibilidade, facilidade de
manutenção, facilidade de trocas - à quente de
preferência, para as ocasiões em que surgem problemas.
E os usuários não estão se fixando nesta ou naquela
tecnologia, buscam a melhor solução, com melhor custo/benefício.
E muitos já estão revisando suas estratégias
de aquisição de dados, depois de mensurar quais dados
são relevantes e utilizados mesmo. As certificações
e padrões também são importantes porque por trás
da certificação existe uma garantia de qualidade. Mas
também já é consenso que quanto mais informação
se tem, mais se quer. E os up grades estão sempre na lista
do por fazer.
A National Instruments fornece sistemas de monitoração
para diversas arquiteturas, para monitoração em computadores,
plataformas PXI, através do barramento USB, sistema Compact
FieldPoint ou sistemas baseados em FPGA. Os sistemas são programados
com o LabView, que permite conectividade com diversos protocolos industriais
como Serial, Modbus, Can, CanOpen, Devicenet, Ethernet e outros. Marcos
Cardoso, do marketing da NI, lembra que as variáveis críticas
são estabelecidas pelo usuário e/ou programador e que
sempre que possível deve-se utilizar redundância para
elas - o que acaba gerando aumento de custo e tamanho.A NI fornece
sistemas wired e wireless, baseados em PCs, que estabelecem
prioridades baseados nas possibilidades do LabView e que evitam a
colisão de dados na transmissão através do protocolo
escolhido e de switches especiais. Marcos Cardoso lembra que a velocidade
na aquisição de dados depende do sinal adquirido, o
que determina a placa e o protocolo a ser escolhido. Os sistemas
de aquisição de dados estão cada vez mais inteligentes
e distribuídos, ou seja, existe uma atual necessidade de se
ter diversos sistemas de aquisição de dados executando
diversas tarefas e distribuídos em diversas localidades. Porém
esses sistemas precisam ter uma comunicação estabelecida
entre si e é necessário um gerenciamento centralizado.
Esta necessidade é resolvida pelo conceito de inteligência
distribuída.
Na área de sistemas de controle, a Yokogawa utiliza o Stardom,
fundamentado no conceito de network based control system. É
um controlador híbrido, associando velocidade de processamento
de um PLC com controle regulatório de um DCS e está
dividido em dois controladores: uma estação compacta
contendo todos os I/Os, portas de comunicação Ethernet
e serial, segmentos FF/H1 e CPU embutidos numa única caixa;
e uma estação modular expansível que permite
redundância e saque à quente de qualquer módulo.
Pode ser wired ou wireless e utiliza os protocolos de mercado, ou
seja, para o nível H2 - entre supervisório e controlador
- utiliza OPC ou Modbus - qualquer deles. No nível H1 - entre
controlador e redes de campo - utilizam-se FF, Hart, Modbus, Devicenet
e DNP3.O sistema capta as informações via sinal convencional
e as disponibiliza via OPC ou Modbus. Eventualmente podem receber
tratamento e ser disponibilizadas de outra forma, além de armazenar
os dados que não se perdem mesmo em caso de queda no enlace.
A colisão é evitada pelo estabelecimento de prioridades
em função do tempo de execução (watchdog).
No âmbito mundial, observa-se tendência para redes de
campo wireless, ainda que pesquisas apontem certa resistência
de usuários principalmente no que tange a segurança.
Outra forte tendência é explorar ainda mais os recursos
que a programação Java proporciona, utilizando-as em
servidores web, acesso remoto a informações, comunicação
com banco de dados externos, entre outros.
Para Antonio Cardoso Jr., gerente de desenvolvimento de negócios
da GE Fanuc, o cliente escolhe as variáveis críticas,
de acordo com seu processo. E a empresa acredita que, para pontos
críticos, a redundância é ideal e o software escolhido
deve ter recursos de failover. A empresa fornece sistemas para monitoração
e supervisão que trabalham com os principais protocolos de
mercado, como o TCP/IP, e podem trabalhar stand alone, em rede ou
cliente/servidor. A GE Fanuc sugere que, para evitar a colisão
de dados, deve-se empregar protocolo de comunicação
construído a partir da camada de usuário possibilitando
ordenação e configuração do tráfego
na rede, módulos de interface de rede full-duplex de alta velocidade
e utilização de switches industriais com performance
e confiabilidade diferenciadas. Também aponta maior tendência
para as aplicações wireless, maiores velocidades e confiabilidade.
José Carlos de Miranda Roque, engenheiro da Pilz, trabalha
com a definição de que variáveis críticas
são as que, ao atingirem certos valores, sofrem transformações
que levam a perda de controle e criam situações de prejuízo
para vidas humanas, meio ambiente e patrimônio. E pelos prejuízos
que podem causar, devem utilizar instrumentação de segurança.
Em conjunto com a aplicação de procedimentos de normas
de segurança como a IEC 61508 podem aumentar a confiabilidade
do controle, reduzindo os riscos. Redundância é um requisito
básico para aumentar a tolerância à falha em sistemas
críticos mas também são importantes a diversidade
e o auto-diagnóstico. Variáveis críticas devem
ser adquiridas por elementos primários de segurança
e transferidas localmente ao CLP ou remotamente via comunicação
segura. Variáveis não críticas podem ser adquiridas
por dispositivos convencionais. O engenheiro frisa que devem ser utilizadas
redes de comunicação segura certificadas para garantirem
a integridade dos dados e a correta priorização do tráfego.
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