Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 119 – 2006
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Metrologia, base para o crescimento sustentável
Durante o Congresso, haverá um dia de visitas ao
Inmetro / Xerém

A Imeko – Confederação Internacional de Medidas, que nasceu no antigo Leste europeu, realizou seu primeiro congresso em 1952, na Hungria. Este ano acontece o décimo oitavo encontro, pela primeira na América Latina, aqui no Brasil. A Confederação tem buscado aproximar-se mais das Américas e um grande passo foi trazer um dos maiores eventos de metrologia – com certeza o maior com enfoque técnico-científico – para o Rio de Janeiro.

“A oportunidade para o Brasil é mostrar que a sua metrologia é forte e está crescendo. Sediar e participar ativamente desse grupo gera maior credibilidade de que se pode dar contribuições importantes em diversas áreas da metrologia. Além de ser uma ótima oportunidade de aprendermos sobre os avanços da metrologia”, comenta o Dr. Humberto Brandi, diretor de Metrologia Científica e Industrial do Inmetro e presidente do XVIII Congresso Mundial de Metrologia.

E essa credibilidade toma enormes proporções quando se percebe que 80% do comércio internacional envolve metrologia, padrões e normas! Muitas vezes a metrologia é usada como barreira técnica, mas também é nela que se buscam instrumentos para garantir conformidade com as normas e padrões vigentes. Muitas vezes esses instrumentos de proteção exigem a participação em Fóruns Internacionais para referendar que se tem padrões compatíveis com os internacionais. Para o Dr. Brandi, o Brasil precisa participar mais desses fóruns e através da competência apoiar a competitividade da indústria nacional que tem necessidade de uma metrologia sofisticada, forte e presente.

O tema do Congresso é “ Metrologia para um Desenvolvimento Sustentável” e quem faz a palestra de abertura do Congresso sobre o assunto é o diretor do Inmetro, a convite do Conselho da Imeko. Pode não parecer – pelo atual estado de degradação do planeta – mas a preocupação com o meio ambiente começou nos anos 60, com discussões sobre os riscos da degradação ambiental e, já em 1972 a ONU promoveu uma Conferência sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo. No mesmo ano, Dennis Meadows e os pesquisadores do chamado Clube de Roma publicaram um estudo sobre os limites do crescimento, onde afirmavam que, mantidos os níveis de industrialização, poluição e exploração dos recursos naturais, o limite de desenvolvimento da Terra seria atingido em cem anos.

Em 1987, a comissão da ONU para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), fechou o Our Common Future, mais conhecido como Relatório Brundtland, que definia que “desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”. Ou seja, o relatório amenizou as críticas à sociedade industrial – o que era forte nos documentos anteriores - e essa passou a ser a definição oficial de desenvolvimento sustentável.

Então, há quase duas décadas, busca-se utilizar os três pilares do desenvolvimento sustentável – meio ambiente, economia e sociedade – com cuidado. E a metrologia está nisso desde a raiz porque está na base da definição dos limites, na base das normas – o que a sociedade deseja –, nas formas de controlar se os limites e normas estão sendo seguidos – através de avaliações de conformidade. E seus instrumentos estão na base para melhorar a vida de uma maneira geral, integrando os pilares do desenvolvimento sustentável. Dois bons exemplos são o estabelecimento da convenção do sistema métrico – associar-se ajuda a desenvolver competências metrológicas – e a monitoração do efeito estufa – pelo qual são responsáveis menos de 1% dos gases existentes na atmosfera – fundamental para a vida na Terra mas que pode estar sendo gravemente afetado variação desta pequena concentração de gases.

Ou seja, a metrologia e, consequentemente os Institutos que a sustentam e aprimoram, devem ser compreendidos como importantes instrumentos de desenvolvimento e de apoio da sociedade. “Para que possamos entender melhor o efeito estufa, responsável pelo aquecimento global e fundamental para a existência da vida como conhecemos, é necessário conhecer com mais precisão, e detalhamento, dados sobre temperaturas dos oceanos, da atmosfera, das florestas e da superfície terrestre. O que se tem hoje são dados médios e o aprimoramento é fundamental.” Lembre-se que o efeito estufa, causado por menos de 1% dos gases presentes na atmosfera é responsável pela elevação da temperatura média da Terra de 20oC abaixo de zero, se não houvesse efeito estufa, para 13oC. Sem efeito estufa não heveria vida com a conhecemos. Portanto é importante saber o que aconteceria com o aumento causado pelo homem da concentração de gases responsáveis por esse efeito. “As previsões são de aumento de temperatura média de até 4,5oC nos próximos 100 anos com enormes impactos no meio ambiente, na economia e nos aspectos sociais. Estas previsões são baseadas em modelos não lineares que dependem muito das condições iniciais; qualquer diferença nos dados fornecidos para alimentar o modelo pode mudar o resultado de forma dramática”, comenta o Dr. Brandi, que acrescenta que são necessários projetos globais, com incertezas menores, capazes de fornecer dados melhores para a compreensão dos diferentes aspectos do efeito estufa no aquecimento global.

Ainda segundo o diretor do Inmetro, além dos muitos instrumentos de medição, existem novas áreas da ciência e da tecnologia, como a nanotecnologia, que trazem novas necessidades metrológicas, com necessidade de novos padrões. “Então parece claro que a importância da metrologia presente nos mais diferentes aspectos de nossa vida cotidiana deve receber uma atenção especial da sociedade e dos governos através políticas de apoio de curto, médio e longo prazos”.

O papel estratégico da metrologia demanda a existência de um Instituto Nacional de Metrologia que seja estruturado para apoiar ações que melhorem as condições de vida do consumidor e ao mesmo tempo seja um instrumento de apoio à competitividade da indústria nacional. Nesse caso, a indústria produzirá melhores produtos, mais adequados ao consumidor e mais bem recebidos no mercado internacional, gerando mais exportações, mais arrecadação, mais indústrias, mais empregos...

Ter um instituto metrológico de nível internacional é também fruto de uma política de Estado que valoriza o conhecimento e a educação em metrologia como instrumentos fundamental de desenvolvimento sustentável.

A metrologia mais próxima da indústria

A Rede Metrológica foi criada para dar qualidade e confiabilidade às medições, provendo a rastreabilidade necessária ao cumprimento de normas e padrões internacionais. A pioneira foi a Rede RS, fundada em 1992, para dar apoio técnico às indústrias do Rio Grande do Sul, na área de metrologia, por solicitação da Fiergs. A Rede Metrológica RS é composta por um conjunto de laboratórios em universidades, empresas e instituições governamentais com competência técnica avaliada para prestar serviços de calibração e ensaios. O mais interessante é que as Redes Metrológicas Estaduais possuem instâncias técnicas e políticas independentes.

No Rio de Janeiro, foi a Rede de Tecnologia que, fomentando a formação de Redes Temáticas, criou o Rio Metrologia, uma rede composta por 134 laboratórios, sendo 71 deles de calibração e 63 de ensaios, além de outras 13 organizações, tudo sob a coordenação do Instituto Nacional de Tecnologia. E foi a Rio Metrologia que, em maio deste ano, divulgou o Perfil de Atuação das Redes Metrológicas Estaduais, um estudo coordenado pelo secretário executivo da Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro, Armando Augusto Clemente.

Pelo estudo, houve um acréscimo de 78% da Rede Metrológica nos últimos quatro anos, sendo 55% dos laboratórios associados são voltados exclusivamente para ensaios, 43% voltados apenas para calibração e 2% realizam calibração e ensaios. 47% dessa base é disponibilizada sem pagamento de anuidades/mensalidades por parte dos associados! E a maioria da Rede (69%) possui processo de avaliação de competência técnica do laboratório segundo a ISO Guide 58.

A Rede Metrológica nacional é formada pelas redes de Alagoas, da Bahia, do Ceará, do Espírito Santo, de São Paulo, de Goiás, de Minas Gerais, do Pará, do Paraná, da Paraíba, de Pernambuco, do Piauí, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, e de Santa Catarina. Uma das mais novas é a Rede Metrológica de Alagoas - RMAL, criada em março de 2005, por iniciativa conjunta do sistema FIEA/SENAI/IEL, SEBRAE-AL, Secretária Executiva de Ciência e Tecnologia do Estado de Alagoas (SECT) e Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e a comunidade Científica e Tecnológica de Alagoas. A RMAL é uma ONG de cunho Técnico-Científico, sem fins lucrativos, e tem como foco a prestação de serviços qualificados para o aprimoramento tecnológico das empresas de Alagoas. E quer ser referência nacional como difusora, articuladora e promotora da temática metrológica, pela excelência do desempenho local, buscando construir a cadeia de conhecimento metrológico; estimular a geração de conhecimento metrológico afinado com a vocação local; articular e/ou capacitar em competência estabelecida, profissionais e laboratórios locais; fomentar a implantação de sistemas de qualidade nos laboratórios da rede; viabilizar parcerias patrocinadoras; estimular a criação de programas institucionais metrológicos; captar recursos junto aos Fundos Nacionais; ter uma gestão integrada, compartilhada pelos conselhos deliberativos; e reconhecer competências técnicas de laboratórios no Estado de Alagoas, através da colaboração de metrologistas, professores, cientistas, e ministradores técnicos participantes da RMAL.

 
 


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