|
Diâmetro de tubulação, fluido
a ser medido, rangeabilidade, exatidão, facilidade de manutenção
e preço são fatores que pesam na hora de especificar
o medidor ideal para a sua aplicação nos diversos
setores da indústria.
Para direcionar a escolha do medidor de vazão apropriado,
o especialista no assunto, Gérard Delmée formado
pelo Conservatoire National des Arts et Métiers de Paris
e com 26 anos de experiência na área da instrumentação
Industrial sugere cinco etapas fundamentais para começo
de conversa, ou melhor, de aplicação.
No passo-a-passo da difícil tarefa de especificar um medidor
de vazão na elaboração de uma planta, a primeira
etapa seria conhecer as condições gerais da
linha, do fluido (pressão, temperatura etc), e problemas
do processo (trecho reto, espaço, vibrações).
Em segundo momento, também é crucial conhecer a aplicação
pela importância da medição (controle de processo,
contabilidade interna, transferência de custódia, medição
fiscal) rangeabilidade necessária, classe de precisão,
leitura em massa ou em volume, medição contínua
ou em bateladas.
Saber a disponibilidade do mercado, nacional ou importado (presença
no Brasil de representantes, quais serviços podem ser obtidos)
compõe a terceira etapa.
A seguinte etapa estabelece o valor dado ao contato direto com o
fabricante ou representante, solicitar dados técnicos, além
dos contidos em folders comerciais.
O último, mas não o menos importante, atém-se
a relação de custo-benefício daquela especificação.
O que torna um medidor mais indicado para uma determinada
indústria é o tipo de fluído utilizado para
a elaboração do produto. Não podemos esquecer
que, além dos fluídos que irão compor o produto,
existem as utilidades (ar, água, vapor) que podem adotar
outros medidores (pressão diferencial, vórtex).
Sinteticamente, Delmée guia a escala da aplicação
da seguinte forma: indústria de papel e celulose utiliza
o eletromagnético; alimentos e bebidas usa, na maioria das
vezes, também o eletromagnético e o Coriolis; em saneamento
é comum encontrar o eletromagnético e os ultra-sônicos;
na área farmacêutica é o Coriolis, e em petróleo
e gás são encontrados os medidores tipo turbina e
ultra-sônicos.
Medidores mais comuns
Todos os medidores que existiam no século passado continuam
sendo fabricados, entretanto os mais difundidos são os que
funcionam a partir de pressão diferencial, segundo o engenheiro,
que cita as placas de orifício, os tubos de Venturi, os bocais
de vazão. Existem outros que foram desenvolvidos para
atender a situações específicas como o aerofólio
para dutos retangulares, o V-cone e a placa anular para instalação
em trechos retos curtos, a placa excêntrica e a segmental
para líquidos com presença de condensados, o orifício
quadrante, o de entrada cônica e a cunha segmental para escoamentos
laminares, etc. As sondas chamadas Pitot de média,
muito usadas na indústria, são incluídas neste
grupo de medidores por pressão diferencial.
De acordo com estimativas do mercado recente mundial, a distribuição
dos principais medidores usados na indústria em dutos fechados
tem maior proporção por conta dos medidores por pressão
diferencial, segundo gráfico de pesquisa de mercado elaborado
por Delmée. Apesar de serem os mais antigos em termos
de tecnologia, esses medidores conseguem conviver mercadologicamente
com instrumentos que foram desenvolvidos no fim da década
passada, avalia o especialista. O gráfico mostra que
o tipo é utilizado em todas as indústrias e para aplicações
das mais diversas. Inclusive, o medidor baseado em placa de
orifício com o trecho adjacente é um dos utilizados
em medição de gás natural para transferência
de custódia e medição fiscal são
aplicações sofisticadas e de alta responsabilidade.
O principal inconveniente é precisar de longos trechos retos,
atenta o especialista.
Medidor de vazão baseado em placa de orifício,
com o trecho reto associado
A aplicação de cada tipo de medidor
Os medidores eletromagnéticos são também muito
utilizados no mercado em geral. Eles funcionam independentes
da viscosidade do produto e do número de Reynolds do escoamento,
característica que os torna ideais para medir polpa de papel,
massas de determinados produtos alimentícios em que a viscosidade
é completamente diferente dos produtos convencionais como
água, vapor e outras utilidades. Entretanto, apresentam
o inconveniente de somente poderem ser usados com líquidos
condutores de eletricidade: não servem para derivados de
petróleo, por exemplo.
Funcionamento do medidor eletromagnético
Não dá para estabelecer uma média de custo
de um medidor, segundo Delmée. Estabelecer um valor
é impossível, porque depende do diâmetro da
tubulação. Não é como um medidor não-intrusivo
que, por ser aplicado externamente: não depende do diâmetro
da linha. Também depende dos materiais empregados (para ácidos,
os eletrodos são de platina).
Sua aplicação principal é na indústria
de papel e celulose, mas também é utilizado em saneamento,
e nas indústrias químicas e alimentícias.
Uma outra categoria seria formada pelos medidores mássicos
a efeito Coriolis. São de tecnologia mais recente
foram criados na segunda metade do século passado. São
muito precisos e têm aplicação principal na
indústria química e alimentícia, mas também
podem ser usados nas indústrias do petróleo e petroquímicas,
cita Delmée. A grande vantagem apontada pelo especialista
é que o medidor a efeito Coriolis capta a vazão em
massa e não em volume, ao passo que os outros instrumentos
para medir a vazão em massa têm que primeiro medir
a vazão em volume, e depois multiplicar pela densidade para
ter a vazão em massa. Por isso, justifica-se que o efeito
Coriolis é mais preciso, pela forma mais direta que ele realiza
esta medição. Como outro ponto positivo reconhecido,
é que o medidor torna-se ideal para a fabricação
de produtos que tenham a composição de fabricação
dada em massa, como por exemplo, para respeitar as receitas na fabricação
de produtos alimentícios.
Medidor mássico a efeito Coriolis
Para Delmée vale lembrar que a principal limitação
deste tipo de medidor é a impossibilidade de fazê-lo
vibrar tubos de diâmetro elevado. Ele não poderia ser
utilizado para oleodutos, por exemplo. O medidor a efeito Coriolis
é usado principalmente para líquidos, mas é
o princípio escolhido para medir a vazão nos dispensers
para o abastecimento dos veículos a gás.
Os tipos turbinas são muito utilizados na indústria
do petróleo e nas petroquímicas. Existem realizações
diferentes de turbinas para líquidos e para gases. Para líquidos,
a forma do rotor poderá depender da viscosidade do produto
medido e não se prevê sistema de lubrificação
para o sistema de rotação. Para gases, o medidor poderá
ser provido de um sistema de lubrificação. Estes
medidores são geralmente precisos e podem ter uma rangeabilidade
elevada, no caso de líquidos. No caso de gases, a rangeabilidade
elevada pode ser conseguida com sistemas de rolamento mais elaborado
e, principalmente, com um sensor de rotações que deixe
o rotor girar o mais livremente possível, em baixas rotações,
alerta o engenheiro. O principal problema identificado das turbinas
é que o giro constante do rotor torna o sistema de rolamento
sujeito a desgaste. A livre rotação do rotor
pode ser afetada por impurezas e a medição pode ser
prejudicada. Daí a necessidade de recalibrações
constantes, um problema para o usuário.
Medidor tipo turbina
O medidor a ultra-som é um dos mais recentemente desenvolvidos.
É o único que apresenta a vantagem, considerada extraordinária
pelo consultor, de poder permitir que a medição da
vazão possa ser realizada sem necessidade de fazer um furo
na linha de processo. É a medição realmente
não-intrusiva. Convém salientar que nem sempre é
possível usar esta vantagem, pois linhas revestidas internamente
ou com incrustação não podem ser medidas desta
forma, entre outras limitações. Por esta e outras
razões é que existem também medidores ultra-sônicos
intrusivos em que os transdutores estão diretamente em contato
com o fluido a ser medido. Assim mesmo, não apresentando
obstáculos para o escoamento, não há perda
de carga, o que é outra grande vantagem. Os medidores ultra-sônicos
começam a ser usados em muitas aplicações.
É possível conseguir ótimas exatidões
aumentando o número de pares de transdutores. As limitações
são poucas, principalmente relacionadas à temperatura
que podem suportar os transdutores, em torno de 200oC. Acessórios
especiais podem permitir o uso em temperaturas mais elevadas. Entre
as tecnologias de utilização do ultra-som, o efeito
Doppler e o tempo de trânsito são os mais usados, sendo
o segundo o mais preciso, completa Delmée.
Medidor ultra-sônico
O medidor tipo Vórtex foi desenvolvido na segunda metade
do século passado e aproveita um princípio da natureza:
um obstáculo colocado numa corrente de ar ou de água
provoca o aparecimento de turbilhões ou vórtices,
que se formam alternadamente de cada lado e são levados pela
corrente. Na natureza, isto tem geralmente conseqüências
dramáticas como o que aconteceu em 1940, na ponte
pênsil de Tacoma Narrows, nos USA, quando o vento provocou
esses vórtices. A freqüência desses vórtices
combinou com a freqüência natural da estrutura e a ponte
foi destruída em poucos instantes. Usando o fenômeno
de forma científica, pesquisadores tiveram a idéia
de desenvolver um medidor de vazão colocando uma barra geradora
de vórtices e medir a freqüência com que eles
aparecem. O medidor tipo vórtex é muito usado na indústria,
principalmente para medir as utilidades (água, ar comprimido,
vapor).
Medidor tipo Vórtex
Fronteiras tecnológicas dos medidores
Não vejo a possibilidade de que a aplicação
de um princípio de funcionamento se torne obsoleta,
diz Gérard Delmée. Os pesquisadores desenvolvem constantemente
variações dos mesmos princípios com novas tecnologias,
dando nova vida a medidores que existem há muitos anos. Entre
os casos mais conhecidos temos a seguinte evolução:
para os medidores por pressão diferencial, o surgimento de
transmissores inteligentes e de computadores de vazão transformou
a placa de orifício de um elemento primário de precisão
modesta e rangeabilidade menos que sofrível em medidor que
pode ser usado para medição fiscal de gás natural,
no mesmo nível que um medidor ultra-sônico. No caso
das turbinas para gás, cujo maior problema é a necessidade
de calibrações freqüentes, são agora dotadas
de um segundo rotor que permite, entre outras vantagens, fazer um
auto-diagnóstico revelando uma eventual mudança no
fator de calibração e evitando que seja feita a recalibração
sem necessidade. Mesmo para os medidores de tecnologia recente,
os ultra-sônicos para gás, podem ser dotados de acessórios
que permitem auto diagnóstico e são feitos muitos
trabalhos com a finalidade de comprovar que a calibração
completa dinâmica não é necessária, sendo
suficiente a calibração em zero.
A tendência é que o medidor ultra-sônico
se torne o mais vendido dos medidores. É o único que
pode ter um status quase igual ao da placa de orifício que
dispensa a calibração dinâmica.
|