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Reginaldo Onofre, técnico de manutenção
da Transpetro há vinte e nove anos na empresa, sendo
os últimos quatro na automação , acredita
que o tempo dá uma experiência ímpar para qualquer
operador. E, como a filosofia da empresa é buscar eficiência,
produtividade, segurança e praticidade de manutenção
em qualquer projeto, migrar da manutenção para a automação
traz toda essa expertise para uma das funções do técnico:
a de analisar a automação de alguns projetos.
Preferindo se ater apenas ao campo de petróleo e gás,
e não entrar em especificidades de produtos sólidos,
Reginaldo comenta os passos que um consultor segue para sugerir
ou não um medidor de nível uma variável
importante na indústria não somente para o operação
do processo mas também para cálculos de custos e inventários.
E os sistemas de medição variam em complexidade, de
simples visores para leitura local ou remota, até registro
e controles automáticos.
Para facilitar a compreensão, a definição mais
simplória, para treinamentos básicos, de nível
seria a altura do conteúdo de um reservatório contendo
um líquido ou um sólido. E existem dois métodos
para medição: um direto e outro indireto, sendo que
o primeiro se utiliza da superfície do produto como sua referência,
como uma bóia, um cabo com uma régua, ou uma trena
milimetrada.
A medição indireta se utiliza outras variáveis
para se obter nível como, por exemplo, num tanque
de diesel, usar a pressão hidrostática na base, que
é proporcional à altura e, com a fórmula de
volume, chega-se ao nível. A coluna vai ter um peso
que depende do produto mas é preciso ter cuidados
porque, com o aumento de temperatura, o peso de um produto pode
modificar.
A força de empuxo também pode ser usada é
o princípio de Arquimedes, um corpo imerso em um líquido
sofre a ação de uma força vertical dirigida
de baixo para cima igual ao peso do volume do líquido deslocado.
Pa = W - E
Pa = Peso Aparente
W = Peso real do deslocador
E = Empuxo sofrido pelo deslocador
Ou seja, também se consegue medir o nível através
de um flutuador mergulhado no produto.
Segundo Reginaldo, a primeira pergunta que se faz quando se vai
analisar a implantação de um medidor de nível
é: só se precisa de uma idéia de quanto produto
ainda resta algo como vazio/metade/cheio ou se precisa
fazer transferência de custódia? Nesse último
caso, existem muitos senões, porque se precisa de uma alta
precisão.
Em transferência de custódia existe a necessidade de
se comprovar que o total a pagar realmente confere com a quantidade
comprada: se comprar 10 litros, é isso que se recebe. Claro
que existem medidores de vazão ultra precisos, mas procura-se
utilizar ainda a medição de nível para dar
maior segurança na medição. Somente a medição
de nível pode gerar dúvidas já que um
tanque está sujeito a dilatação, diminuindo
a altura do nível, mas o volume continua o mesmo. É
preciso então estar com tanque arqueado por um profissional
do Inmetro seu medidor de nível tem que ter boa exatidão,
com certificação e aí sim se trabalha
com incerteza de medição bem menor, comenta
Reginaldo.
Essa incerteza nunca vai dizer que a leitura é 100% correta,
mas vai dar um percentual que, dentro de uma faixa tanto
para mais como para menos , é o mais correta possível.
Dessa forma, as partes envolvidas estão de acordo com aquele
valor que possui uma incerteza naquela faixa, mas nunca fora dela.
Em alguns lugares que não têm condições
de comprar um bom medidor de vazão, como os ultrassônicos
com precisão de 0,5% , pode-se utilizar a medição
do nível para transferência de custódia. Mas
vale lembrar que os instrumentos utilizados têm que ser muito
bons, para dar precisão à medição. Aliás,
precisão não se usa mais, agora pela nomenclatura
internacional, o correto é falar exatidão, lembra
o técnico.
A medição direta utiliza muito a régua
em postos de gasolina, por exemplo , gabarito e trena
ainda utilizada em tanques da Petrobras. Esse tipo de medição
apresenta muitas incertezas porque depende da sensibilidade humana
já que o operador sobe o tanque e insere uma trena milimetrada
até um prumo maciço de cobre; então ele tem
que parar a trena quando sentir que o prumo tocou o fundo do tanque,
onde a pasta passada na trena muda de cor, faz a leitura
do nível qualquer inclinação na trena
dá um nível superior ao real. A incerteza é
muito grande. Serve como referencial mas não para transferência
de custódia.
Existem, ainda, tanques pequenos, em que só se precisa saber
se ele está vazio, pela metade ou cheio. Um tanque de diesel
das caldeiras por exemplo: não há necessidade de muita
exatidão, mas é necessário olhar de longe e
ver sua carga. Aí um visor de nível transparente resolve,
porque fica fácil de ver a coluna: barato, simples e direto,
mas não se tem a informação à distância,
é preciso alguém estar no local. Como a mão
de obra é uma variável importante nas indústrias,
um transmissor de nível pode levar o sinal até a sala
de controle. Mas se a empresa não pode gastar, um visor
tubular ou plano reflex ou não resolve: são
baratos, robustos, de fácil manutenção, não
requerem energia elétrica. Em caldeiras sempre se coloca
um visor de nível, mesmo que ela seja toda automatizada porque,
se acontecer de faltar energia, você pode manter a segurança
olhando o visor já que, numa caldeira pode faltar o que for,
de operador a óleo, mas nunca água e a NR 13 exige
pelo menos um visor transparente, ressalta Reginaldo.
As medições indiretas podem ser feitas por capacitância,
ultrassom, por pesagem, por raio gama, displacers (princípio
de Arquimedes) ou pressão diferencial. Em um tanque aberto
para a atmosfera você pode ter um transmissor que só
meça coluna manométrica: custa barato e a instalação
é fácil. Mas quando o tanque é pressurizado,
como o tubulão de uma caldeira, utiliza-se transmissor diferencial
porque, como a coluna é muito pequena, um transmissor na
base não suportaria a pressão apenas em uma câmara,
então utiliza-se um transmissor de pressão diferencial
onde forças iguais em sentidos opostos se anulam,
fazendo com que a força da coluna seja suficiente para deslocar
o sensor, tornando possível a medição.
Uma das mais antigas e interessante medições indiretas
é o borbulhador, excelente para quando se tem um tanque enterrado
e não há como colocar um transmissor na base, nem
um visor de nível. Um displace fica caro mas ainda pode ser
usado. No borbulhador, injeta-se uma quantidade de ar através
de um tubo para criar a pressão hidrostática e, quando
não sair mais nenhuma bolha, é porque a pressão
está igual a do ar dentro do tubo. Então coloca-se
aproximadamente 20% de ar a mais do que o nível máximo,
que é para ficar borbulhando e aplica-se o mesmo transmissor
de coluna que seria colocado na base, com uma válvula reguladora
e outras acessórios. Calibra-se o LT com nível do
tanque cheio e vazio, e assim têm-se valores diferentes entre
esses pontos e a pressão que varia- é proporcional
ao nível!
Do projeto ao empreendimento
Segundo Reginaldo, as situações variam muito e quem
define a automação precisa estar atento. Uma
coisa é resolver um problema em fase de projeto; outra bem
diferente é ter que encontrar soluções para
situações postas. Um bom exemplo é como
medir o nível de um tanque pronto sem tomada! Se não
precisa de muita exatidão, facilita. Se no tanque existe
uma válvula para limpeza, daí pode-se puxar uma derivação
para o medidor. De outro lado, quando se está no projeto,
pode-se imaginar várias soluções e testá-las
porque o papel aceita tudo.
É bem recente a filosofia de consultar o pessoal da manutenção
e automação na fase de projeto, mesmo em grandes empresas.
A Petrobras está buscando excelência em tudo.
Ela sempre investiu muito no funcionário, o que significa
que seus funcionários têm conhecimento e experiência.
E ela está colocando essa expertise não apenas nas
plantas já existentes mas também nos novos projetos.
Então, para escolher um medidor de nível, é
primordial saber a exatidão que é necessária,
se é para transferência de custódia ou não
isso pode restringir a um ou dois tipos de instrumentos.
Para medição de nível envolvendo transferência
de custódia, o ideal é que seja uma medição
por superfície e aí encaminha-se a solução
para poucas e caras opções.
O segundo ponto a ser observado é como vai ser a comunicação
entre os instrumentos. O que já existe e o que será
implantado deve ser analisado porque o protocolo de comunicação
também é um fator importante para a especificação:
se é 4~20mA, Hart, Foundation Fieldbus, Profibus... Então,
se a rede for necessária, encaminha-se a escolha para instrumentos
inteligentes e protocolos abertos.
Aqui vale um reforço: as padronizações de sinais
surgiram com a SAMA, na década de 60, porque cada fabricante
fazia seu instrumento de um jeito: um com 4~20mA, 3~15PSI, outro
de 0~20 PSI outro ainda de 10~50PSI e quando se tinha que trocar
um instrumento tinha que ser exatamente do mesmo fabricante. Com
a padronização internacional, todos os instrumentos
passaram a ter saída de 3~15PSI - Pneumáticos. E aí
você podia colocar perfumarias como supressor
ou elevador de zero, mas o básico estava padronizado. Então
surgiram os instrumentos eletrônicos/analógicos, os
4~20 mA, o mesmo está acontecendo com os protocolos
de comunicação Fieldbus Foundation
Por que 3 ~ 15 ou 4~20mA? Por que não utilizar 0 a
15 ou 0-20mA ? É uma margem para a manutenção
checar se uma falha é por falta de energia ou problema do
equipamento se estiver chegando o zero é porque não
tem alimentação; o valor do zero é 4mA ou 3PSI.
Em alguns lugares isso nem é primordial, mas imagine um navio
encostando no porto, onde se paga caro por hora de atraso no bombeamento.
A pergunta é: o instrumento não está funcionando
ou falta alimentação? Essa padronização
ajuda a equipe de manutenção a resolve o problema
rapidamente.
Já para o caso da exatidão não ser primordial,
o que acontece em 90% dos casos é partir para análise
de cada tipo de tecnologia. Se a leitura é local, pode ser
visor plano ou tubular, ou régua; se a há exigência
de transmissão ponto a ponto ou rede, parte-se para transmissores.
Analisa-se todos as outras tecnologias para saber qual a melhor.
Analisando o produto a ser medido também se chega a restrições
importantes. Em tanques utilizados no setor de petróleo
por exemplo com óleos pesados não seriam indicados
os transmissores de coluna líquida, porque normalmente estes
fluídos estão sujeitos a intempéries e, se
a viscosidade e a densidade mudarem por causa da temperatura, o
peso da coluna muda e a medição vai se alterando.
Então procura-se um instrumento mais elaborado e, com a utilização
de protocolos de comunicação, busca-se instrumentos
inteligentes. Dessa forma, as opções vão se
afunilando. A última coisa a se olhar é o preço
a não ser que o orçamento seja realmente restritivo.
Todo projeto foca para que o processo responda rápido,
seja seguro, confiável, que tenha repetibilidade. A equipe
de projetistas precisa receber alternativas para elaborar o melhor
projeto e aí estão envolvidas muitas outras
variáveis como tempo e custo total.
Mas todas as sugestões são apresentadas com justificativas
técnicas. Segundo Reginaldo, algo muito importante que a
manutenção exige na execução do projeto,
é a documentação técnica dos instrumentos
e do projeto tudo deve estar no memorial descritivo.
Um outro passo importantíssimo quando está escolhendo
os instrumentos, é verificar se a área é classificada
ou não. Se for, os instrumentos têm que ser a prova
de explosão ou ainda usar uma alimentação intrínseca
que não gera faísca. O custo dessas opções
é bem diferente, mas para áreas Ex não há
saída: é preciso especificar bem, segundo as normas,
para não gerar uma avaliação de risco que invalide
todo um trabalho. E, se por um lado esses cuidados impõem
morosidade aos projetos, dão muita segurança de que
foi tudo bem analisado.
Reginaldo acredita que esses passos valem para qualquer área.
Como nos silos, que têm uma forma de tanque muito peculiar,
de funil, que torna a medição diferenciada. Para medir
o nível neles, usa-se as células de carga cristais
que se deformam sob pressão gerando uma saída proporcional
ao peso. O que vai mudar são especificidades do produto.
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