Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 118 – 2006
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No ponto
Café Iguaçu contabiliza ganhos com automação
A sala de controle da fábrica está baseada numa concepção de projeto que utiliza Estações de Operação e de Engenharia conectadas a dois servidores em duplo anel redundante

A Companhia Iguaçu de Café Solúvel já colhe os ganhos de ter investido em uma nova linha de extração automatizada. A Extração IV – colocada em operação em novembro do ano passado com o Simatic PCS 7 da Siemens – tem apresentado rendimentos até 12% acima do índice teórico utilizado pela empresa para medir a performance da planta.
“Com a automação, conseguimos visualizar as variáveis do processo e controlar de forma mais adequada. Na Extração IV, até agora não tivemos produto fora de especificação”, conta o engenheiro de Produção da Café Iguaçu, Eduardo Morales.

“Percebe-se um ganho de 7% a 8% em comparação com outras áreas que já existiam na indústria”, completa o engenheiro de Projetos, João Eduardo Carvalho.

O projeto era ampliar a produção da fábrica através de uma nova linha de extração – vaso em que o café já torrado é submetido a água e pressão controlados, para extrair o aroma dos grãos. A reboque, foram necessários aumento da capacidade de torrefação e concentração.

O maior nível de automação existente até então na Café Iguaçu eram os PLCs Scada – de várias marcas – ligados a um software supervisório IFix. Quando a empresa definiu a ampliação da produção, decidiu implantar a tecnologia mais atual disponível.
A ênfase foi trazer para a fábrica equipamentos já automatizados – e aí entram todos os desafios. Em primeiro lugar porque automação em indústria de café é algo relativamente novo – no Brasil e no mundo. E a fabricação de café solúvel mistura lógicas de batelada com processos contínuos.

“Na extração, o número de válvulas e a possibilidade de combinações é algo absurdo. Transformar isso num software é um grande trabalho para a engenharia de processo. Mas o descritivo foi muito bem trabalhado”, argumenta Hugo Djalma Luz, diretor comercial da SHW – integradora do projeto.

“Pesquisamos vários fornecedores e tecnologias de sistema híbrido, e chegamos ao PCS 7 da Siemens, em que verificamos conceitos da rede de automação e hierarquia de controle. Nesta etapa visitamos algumas empresas com esta tecnologia implantada, conta Carvalho, e continua:

“Esse processo custou seis meses de pesquisa à equipe de Projetos da Iguaçu – que não contou com consultores durante a escolha. Por alguns pontos, decidimos pela Siemens, pois existia um parque instalado de cartões de E/S, e o PCS 7 nos dava a opção de manter esse mesmo tipo de equipamento”.

“Uma das vantagens do Simatic PCS 7 era o módulo de CCM inteligente. Se optassem por outro fornecedor, os engenheiros da Iguaçu teriam que desenvolver esses módulos”, ressalta o engenheiro de Aplicação da Siemens, Silvio Cezar Bortolini.

Definido o projeto, a equipe da Café Iguaçu partiu para adquirir equipamentos – aí teria outro desafio: testar e adequar válvulas e transmissores utilizados em outros processos industriais. A própria unidade fabril serviu como piloto de teste de válvulas e transmissores. “Não existe uma linha de produtos especialmente desenvolvidas para a produção de café solúvel. Então pegamos componentes semelhantes aos nossos, testamos em nossa linha, verificamos a performance e fizemos a adequação”, lembra o gerente de Manutenção e Projetos da empresa, Luiz Sartori.

A arquitetura do sistema comporta aproximadamente 200 equipamentos em Profibus PA, e mais de 800 escravos em ASi – a primeira controla os instrumentos de pressão, temperatura, nível e concentração, enquanto a rede ASi conecta E/S discretas. “E existe uma terceira rede, a Profibus DP, que sai do rack principal e se deriva na planta, com alguns equipamentos (entre eles todos os inversores) ligados diretamente na rede DP”.

Hugo lembra que, caso o projeto fosse feito em Fieldbus Foundation ou outro protocolo de comunicação, as alternativas de fornecimento de instrumentação seriam ainda mais limitadas.

O sistema utilizou conceitos da norma S-88 – como a questão de hierarquia de planta, a divisão de procedure, equipamentos e elementos. “O processo é cíclico – contínuo e batelada ao mesmo tempo. Não usamos uma ferramenta batch”, explica João Eduardo, ressaltando que, durante essa etapa de implementação da extração e do concentrador, a automação já começou a englobar outras áreas.

Hoje estão automatizadas parte das linhas I, II e III de Extração. Na torrefação ainda existe o PLC Scada (com PLC Altus e supervisório iFix). “Na concentração, automatizamos uma máquina concentrador APV Invensys”, completa Carvalho, lembrando que a expectativa é automatizar outras máquinas de concentração até o próximo ano.

Projeto de ampliar a capacidade produtiva

Repetibilidade, maior disponibilidade da operação para análise da máquina, análises de causa e efeito, diagnósticos – a automação proporcionou ganhos consideráveis na opinião de João Eduardo Carvalho

Aumento da produtividade, sem problemas com recusa de produtos, ressalta Eduardo Morales. “Nosso processo era totalmente manual, e dependia muito da intervenção do operador. E não tínhamos a quantidade de informação que precisávamos. Nessa cadeia produtiva, às vezes ocorriam alguns desvios – que não tínhamos como identificar. Agora, além do processo ser mais simplificado, temos essas informações em tempo real e conseguimos diagnosticar o que está acontecendo com o produto – e ao mesmo tempo conseguimos melhorar a qualidade dos produtos”, exemplifica o engenheiro de Produção.
Mas para chegar a esse ponto de satisfação, o segredo foi integrar as Áreas de Projeto e de Produção. O desafio era garantir um produto final uniforme – com a mesma característica da marca Iguaçu – alta performance produtiva e segurança operacional. “Levamos em consideração todo o know-how que a Iguaçu tem em produzir café solúvel”, conta Luiz Sartori.

A Iguaçu não optou por um projeto Turn Key: todas as aquisições de instrumentos foram feitas diretamente pela empresa. “Ninguém conhece mais o processo do que eles. Então essa experiência foi fundamental”, lembra Hugo Djalma Luz.

Torrefação
Em dezembro de 2004 já entrava em operação a primeira parte do projeto: dois servidores (que trabalham em redundância), as redes das Interfaces de Operação, e as redes das AS. A primeira máquina – o concentrador APV – entrou em regime de produção em fevereiro de 2005.

A partir daí, os técnicos trabalharam para aperfeiçoar o controle de uma linha de extração já existente. Em paralelo, trabalharam com todo o software e engenharia da Linha de Extração IV – que entrou em produção em novembro de 2005. “Até agora implementamos a Extração III nesse processo semi-automático, e dois torradores – um adquirido e outro já existente”, conta Carvalho.

A arquitetura foi montada com quatro AS 416-3 – uma exclusiva para a Extração IV, outra para as demais Extrações (que não estão totalmente automatizadas), uma para a concentração (que engloba o APV, Stripper e Tancagem) e outra para Torrefação. As CPUs estão em duplo anel redundante e as Estações de Operação e de engenharia estão conectadas a dois servidores redundantes em rede Ethernet.

As funções de visualização da planta são realizadas nas Estações de Operação – que o Simatic PCS 7 denomina OS – em uma base única de dados para Controle e Visualização, gerando de maneira automática os Faceplates – objetos de visualização, além de gerar a navegação das telas automaticamente, a partir da modelagem física da planta, para os objetos de controle.

Todas as válvulas da Extração IV são automatizadas. Nas outras linhas de extração, as válvulas ainda requerem operação manual – a tendência é automatizar, sem um prazo definido – mas o sistema controla as variáveis de temperatura, pressão e vazão.
Parte da Instrumentação instalada na Iguaçu
A arte de fazer café

A melhora na performance já pode ser vista comparando as avaliações feitas atualmente na planta com o período anterior à automação. “Todos os dias fazemos análises ponto-a-ponto, e vemos que o nosso rendimento subiu”, explica Luiz Sartori.

A modernização de todo o processo – que inclui além da automação, melhoria na regeneração de calor e a reconfiguração nas colunas extratoras – trouxe um resultado 50% acima do projetado inicialmente.

A adaptação da mão-de-obra – traduzida em várias horas de treinamento – foi outra preocupação da Iguaçu. O desafio era mudar uma conduta profissional – e definir os papéis do homem (pensar) e da máquina (trabalhar). Duas linguagens de programação foram fundamentais nesse processo: Chart Function Control – CFC e Seqüencial Function Control – SFC, que possibilitam ao operador ter interface com a execução do programa. “Através de alguns links, ele consegue abrir na própria tela de operação os comandos requisitados para execução e o status em que encontra-se. E se, por ventura, o processo foi interrompido em alguma etapa, o operador consegue saber o que está ocorrendo. Não é uma caixa preta onde a automação fica guardada e o operador só tem a tela com alguns botões”, destaca Carvalho.

Como complemento, a modernização facilitou a implementação de uma ferramenta PIMS (Sistema de Gerenciamento de Informação da Planta) da Siemens. Na primeira fase do projeto, o levantamento de necessidades apontou como ferramenta ideal o Simatic IT Historian – o objetivo era minimizar a duplicação de dados e redução de apontamentos realizados em papel. Os dados de diversas fontes foram centralizados em um banco único, sendo disponibilizados através de ferramentas clientes para todos os usuários da empresa. Além dos dados coletados automaticamente, foi desenvolvida uma aplicação para entrada manual dos dados, eliminando totalmente os apontamentos em papel nas áreas de produção.

Toda a programação de produção é conduzida pela Área de Planejamento e Controle de Produção – PCP – baseado em critérios logísticos e na necessidade do cliente. “Com isso é aberta a ordem de produção, e disparamos o processo em si”, conta Eduardo.

A Área de Produção já sabe o tipo de matéria-prima e quais equipamentos vão ser utilizados em linha de produção – de acordo com o produto que foi vendido. Conforme a característica do produto, o equipamento é programado – e o operador só faz pequenos ajustes ao longo da produção.

Foi um projeto bem sucedido para uma das maiores fábricas de café solúvel do mundo – esse ano as máquinas da Iguaçu irão produzir 16,5 mil toneladas de sólidos solúveis na fábrica localizada em Cornélio Procópio (PR). “Tivemos êxito em tudo o que foi proposto – e encontramos soluções para todos os problemas que surgiram”, finaliza Carvalho.

Trata-se de uma das maiores aplicações existentes entre as produtoras de café não só no Brasil, mas do mundo inteiro. Um projeto e tanto para quem produz café solúvel há 39 anos.
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