|
Com o amadurecimento da tecnologia e das ferramentas
para aplicação de auditoria de desempenho em malhas
de controle, empresas fornecedoras e os usuários já
começam a traçar os próximos passos de aprimoramento
principalmente em pontos relativos a diagnósticos
e ações corretivas.
O advento da tecnologia de barramento de campo e o desenvolvimento
de instrumentos inteligentes tornaram possível que a informação
fosse distribuída pelos equipamentos, não precisando
estar concentrada única e exclusivamente na sala de controle
central permitindo que informações mais consolidadas
sejam transmitidas para o controlador central e disponibilizada
para outros instrumentos.
Mas chega a ser um exagero afirmar que o gerenciamento de ativos
só é possível se tiver instrumentação
inteligente. O compartilhamento da inteligência
com o campo facilita o processo de gerenciamento, mas sua existência
não é um pré-requisito para sua execução.
Em muitas indústrias continua sendo realidade a inteligência
e o processamento estarem na central de controle onde a informação
segue um caminho de mão única, através de um
sinal de 4 ~ 20mA. Ou a inteligência está distribuída
no campo através de instrumentação inteligente
ou está concentrada na central de controle, o diferencial
continua sendo a inteligência em si, a qual é viabilizada
em última análise pelo software utilizado. O hardware
inteligente pode facilitar consideravelmente esta tarefa, mas não
consiste em uma condição necessária para sua
execução, explica Marcelo Farenzena, pesquisador
do Grupo de Integração, Modelagem, Simulação,
Controle e Otimização de Processos do Departamento
de Engenharia Química da UFRGS.
Mesmo com informações baseadas em 4~20mA e
até mesmo pneumáticas é possível
acompanhar o desempenho de um equipamento pela simples monitoração
de uma variável acessória como vibração
ou temperatura. Não existe, portanto uma ligação
obrigatória entre inteligência distribuida e Gerenciamento
de Ativos. O que está acontecendo é que, com os instrumentos
inteligentes e com mais capacidade de memória nos dispositivos
de campo, parte das tarefas tinha que ser feita de forma centralizada
em computadores que concentravam todas as informações
da planta agora é possível dividir o trabalho e o
processassamento aliviando de um lado o processamento central e
especializando o processamento local, explica o gerente de
automação da Braskem, Esdras Demoro.
É bem claro que o gerenciamento de ativos fica muito
facilitado com a utilização de instrumentação
inteligente e barramentos de campo, pois estas tecnologias evitam
que uma avalanche de dados não processados chegue a central
de controle. Estas novas tecnologias permitem que informações
mais consolidadas, processadas e pré-selecionadas sejam efetivamente
disponibilizadas, conta o professor Jorge Trierweiler, coordenador
do Grupo de Integração, Modelagem, Simulação,
Controle e Otimização de Processos.
Independente da tecnologia de hardware que se utilize, a indústria
já percebeu os benefícios de se empregar um sistema
de gerenciamento de ativos. Embora a tecnologia de gerenciamento
de ativos continue se desenvolvendo não se deve postergar
a sua aplicação, uma vez que os benefícios
econômicos e operacionais que hoje podem ser alcançados
com sua aplicação já são expressivos.
Adicionalmente, a adoção dessas técnicas irá
permitir a capacitação da equipe nesta nova forma
de operar e manter o processo esse aprendizado é fundamental
para a incorporação dos desenvolvimentos futuros que,
em breve, estarão disponíveis no mercado, explica
o professor Jorge Trierweiler.
Qual o momento ideal para que as empresas passassem a utilizar as
novas tecnologias? Herbert Teixeira, do Centro de Pesquisas da Petrobras
responde: o momento é este. Esdras Demoro, da
Braskem, é mais enfático: Já devia ter
acontecido.
A Braskem já nasceu com um programa de automação
bem estruturado para implementar e capturar os benefícios
destas novas tecnologias. É importante lembrar que o processo
de transformação leva tempo principalmente em plantas
existentes, ressalta Esdras.
Os dois engenheiros participaram, no inicio do mês, de uma
das mesas redondas do workshop Solving Industrial Control and Optimization
Problems Sicop, realizado em Gramado / RS. Uma das conclusões
tiradas do workshop é que a tecnologia de sistemas para gerenciamento
de ativos já está consolidada e já dá
resultados, embora alguns pontos ainda precisem ser aprimorados,
principalmente no que diz respeito ao diagnóstico e a automatização
das ações corretivas necessárias para solução
dos problemas operacionais detectados. As ferramentas atuais se
encontram bem desenvolvidas em termos de auditoria de desempenho
de malhas de controle a eletrônica e a informática
são ferramentas que ajudam melhorando a qualidade da informação
que é coletada automaticamente dos instrumentos e de suas
operações. Mas ainda significativos desenvolvimentos
se fazem necessários no que tange ao diagnóstico e
as ações corretivas.
O diagnóstico completo e a definição das ações
necessárias em sistemas complexos como é o
caso das plantas petroquímicas ainda exige o julgamento
de engenharia que só pode ser obtido de pessoas experientes
e especializadas. O Homem e o conhecimento não estão
sendo inutilizados. Ao contrário. Com um volume maior de
informações o julgamento especializado será
cada vez mais importante. A produtividade, por outro lado, será
muito maior. Ela vai permitir que poucos especialistas suportem
um grande número de sistemas visto que as atividades com
baixa agregação de valor, como coleta e compilação
dos dados, agora pode ser melhor automatizado, completa Esdras.
Informações permitem mudar a estratégia
de manutenção da planta
O conceito de gerenciamento de ativos é um termo muito abrangente,
que engloba desde o nível corporativo, como gestão
do investimento e do ativo industrial, até técnicas
para gerenciar um dispositivo e mesmo o corpo de funcionários,
o que pode gerar muita confusão para enfocar o assunto.
Engenheiros de processo e manutenção concordam que
existe uma série de novas maneiras de enxergar os vários
dispositivos que antes só informavam uma variável
e, hoje, mostram muitas outras informações sobre a
saúde desse dispositivo além das variáveis
relativas ao processo que permitem mudar a estratégia
de manutenção da planta, colocando-a dentro de outro
arcabouço, do ciclo de vida dos materiais, focado em confiabilidade:
fazer o investimento certo, do tamanho certo, onde é necessário,
quando necessário. Investir nas coisas que são críticas
para a empresa, a qualidade, a segurança e a produção.
O gerente de automação da Braskem, Esdras Demoro,
resume bem as fortes mudanças: a manutenção
deixou de ser uma área apenas de serviços. O maior
valor está na continuidade e eficiência suportadas
na confiabilidade dos ativos. Mais importante do que arrumar,
o desafio é estruturar ativos que têm alta disponibilidade
e dão consistência, continuidade e eficiência
à produção e passam confiança aos clientes.
E essa visão exige engenharia de confiabilidade suportada
por ferramentas poderosas de gestão de ativos muito mais
eficientes que as até então disponíveis.
A eficiência da manutenção, que antes era medida
por quanto tempo demorava em consertar algo, agora tem
o enfoque de quanto menos quebrar, melhor. E a engenharia
de confiabilidade assume um papel mais forte porque é preciso
construir plantas mais robustas e seguras que garantam maior disponibilidade,
continuidade e qualidade; é preciso, desde o desenho, ter
outra abordagem e, aí, se encaixam as técnicas de
gestão de ativos. A automação contribui, fornecendo
os processos e as ferramentas que geram as informações
necessárias à engenharia de confiabilidade de forma
eficiente e com baixo custo.
Segundo Esdras, o que está acontecendo é que a Tecnologia
de Informação está se incorporando em todos
os dispositivos de medição e controle na área
industrial. Isto está gerando crescimento de até duas
ordens de grandeza no volume de informação que se
trafega entre o campo e a sala de controle. Hoje há condições
técnicas de se saber muito mais sobre os dispositivos de
medição e controle e, portanto, sobre o processo produtivo.
O desafio agora é como usar essa informação,
transformar esse volume de dados, primeiro em informação
útil, e gerar, então, mecanismos de decisão
para construir sistemas capazes de realimentar o processo e torná-lo
cada vez mais eficiente e confiável. O conhecimento e a criativadade
das pessoas e dos especializas serão novamente desafiados
pela tecnologia.
Um dos efeitos da melhoria das tecnologias é o significativo
aumento da confiabilidade dos instrumentos de medição.
Existem hoje dispositivos que estão certificados para trabalhar
por mais de uma década sem qualquer intervenção
de manutenção ou calibração. Essa nova
garantia de calibração é, na verdade, compatível
com o tempo das unidades que não param mais todo ano
para manutenção como no passado e não fazem
mais anualmente uma revisão e calibração dos
instrumentos. Isto está alinhado com as demandas da
indústria que com o aumento da confiabilidade geral, estão
alargando os ciclos de paradas gerais que, hoje, já chegam
a mais de sete anos em grandes corporações. Neste
novo cenário é possivel garantir aos clientes a continuidade
do fornecimento de produtos e reduzir os riscos do negócio,
explica Esdras.
Inteligência no instrumento ou no sistema?
A Automação Industrial têm hoje duas ferramentas
poderosas para ajudar as empresas a se tornarem mais competitivas:
as técnicas de controle avançado e otimização
em linha dos processos e as tecnologias de gerenciamento de ativos
suportadas por instrumentação inteligente.
A tecnologia digital permite que um sistema colete informações
dos mais diversos tipos e finalidades de uma planta, como ninguém
jamais imaginou e neste sentido, com tecnologias abertas,
como o fieldbus, é possível transformar bytes em relacionamento
lucrativo e obter também ganho qualitativo do sistema como
um todo. Uma conseqüência direta do gerenciamento de
ativos e de práticas que reduzem o downtime, aumentando a
disponibilidade da planta e cortando custos de manutenção.
Quanto mais informação sendo processada, melhor uma
planta pode ser operada.
Com a informação sendo distribuída no campo,
cada instrumento passa a ter uma CPU embutida, que pode armazenar
valores históricos, fazer testes, mudar status de medição,
e conter algoritmos de controle. Em lugar de um canal de acesso
4~20mA, tenho a informação digital, seguindo via barramento
de campo para a central de controle uma informação
já consolidada. E é uma informação que
vai e volta, então posso configurar sistemas sem ter que
ir até a planta isso é extremamente importante
quando o instrumento está localizado numa região de
difícil acesso, explica Trierweiler.
Há até pouco tempo, o desafio era adquirir dados.
Hoje o gargalo é o processamento dessa informação
e o próximo estágio é a conversão
de informação em conhecimento. Como tirar conhecimento
dessa avalanche de informações? É aí
que entram os sistemas de gerenciamento de ativos em seu sentido
mais amplo. No estágio atual, informação não
é mais problema atualmente as novas tecnologias disponibilizam
a informação. Agora temos que transformar essa informação
em conhecimento.
O professor argumenta, no entanto, que o gerenciamento de ativos
não se restringe apenas a monitorar válvulas e instrumentos
esse conceito deve ainda incluir auditoria de malhas de controle,
diagnosticar problemas na planta, gerenciar alarmes, detectar vibração
de equipamentos, como bombas, e otimizar o processo em tempo real.
Quando as pessoas se referem a gerenciamento de ativos, pensam
essencialmente em válvulas e medidores além
desses instrumentos, incluo o ajuste do controlador, e o gerenciamento
do ativo da malha como um todo (medidor + válvula + controlador).
Do que adianta ter uma válvula ótima se tiver
um controlador ruim? É necessário investir também
na parte de software, para poder melhorar a qualidade do produto,
usar mais racionalmente a energia e maximizar a produção,
completa Marcelo Farenzena.
Quando o ativo é uma válvula inteligente, o gerenciamento
torna-se trivial: é só plotar a variável de
processo e a variável manipulada PV versus OP
que o operador terá o acompanhamento da operação
e do histórico do equipamento. Mas isso não significa
que, sem uma válvula inteligente, não é possível
fazer o gerenciamento. Só que serão necessárias
técnicas muito mais avançadas de tratamento de dados,
avalia o professor Trierweiler.
Não sendo utilizadas as válvulas inteligentes, deve-se
optar por técnicas de detecção de agarramento
de válvulas mais sofisticados, tais como a utilização
de métodos estatísticos de elevada ordem para quantificar
a não-linearidade. Estes métodos assumem que
a planta opera em torno de um ponto de operação
e tem um comportamento aproximadamente linear caso haja uma
não-linearidade elevada, essa não-linearidade é
devida a um mau funcionamento da válvula. Só que isso
não é uma coisa trivial de fazer: envolve um ferramental
matemático mais sofisticado.
Traduzindo: a indústria que tiver uma instrumentação
inteligente, não precisa ser tão inteligente. Isso,
no entanto, não significa dizer que a empresa tem que trocar
todas as válvulas. À medida que a diferença
de preço vai caindo, a empresa optará por uma válvula
inteligente. Agora não seria inteligente trocar todas as
válvulas, porque existem outras formas de se fazer a mesma
coisa só que com uma maior complexidade no programa
de acompanhamento desses dados.
A idéia principal é trazer a inteligência para
perto do instrumento que por sua vez levará a informação
consolidada. A vantagem de uma válvula inteligente em relação
a uma válvula convencional é a sua capacidade de verificar
se houve realmente a localização da abertura naquela
posição ela tem um posicionador que é
mais efetivo. Isso leva a um ajuste mais fino no controle da vazão
da corrente. Outra vantagem é que essa válvula já
pode fazer um acompanhamento da utilização
checar se a válvula está agarrando, ou se está
ocorrendo histerese. Registrando o histórico da válvula,
é possível registrar facilmente o desgaste. Se não
tenho uma válvula inteligente, tenho que fazer esse acompanhamento
num banco de dados na central de controle, o que torna o procedimento
mais difícil de ser implementado.
Para os elementos inteligentes é possível calibração
automática remota, com o mínimo de intervenção
humana, os softwares já fazem todos os testes e ajustes necessários.
Já os não inteligentes, ainda requerem aplicação
de sinais de referência de 0 a 100%, e ajustes manuais de
ZERO e SPAN. Quanto aos diagnósticos, todas as informações
disponíveis nos dispositivos de campo, associadas a softwares
específicos, oferecem a oportunidade se obter melhor vantagens
do ponto de vista de manutenção, engenharia e a utilização
mais ampla de cada dispositivo, estes softwares, entram nos conceitos
de gerenciamento de ativos, compara o coordenador de Automação/Elétrica
da Cenibra, Ronaldo Ribeiro. Além do valor medido
que já iria para a central de controle no tradicional 4~20mA
também seguem informações sobre status
e qualidade da medição, e informações
relativas a possíveis falhas. E descem em direção
ao instrumento a configuração do sistema, recalibração
do sistema ou ressetagem de contagem de ciclos.
Ronaldo Ribeiro explica que, durante muitos anos, os Elementos Finais
de Controle (particularmente as válvulas) funcionaram com
sinais de controle pneumáticos. Com a evolução
da eletrônica, passaram a receber sinais de comando de 4 ~
20 mA e evoluindo um pouco mais sinais digitais. A partir
deste momento tornou-se possível obter vários outros
benefícios até então impossíveis na
era do pneumático e do 4 ~ 20 mA analógico. Estes
benefícios propiciaram melhor gerenciamento destes ativos
com uma grande variedade de vantagens, como: redução
nos sustos de montagens, facilidades nos comissionamentos, melhorias
nas manutenções preventivas e preditivas, e finalmente
o funcionamento do equipamento, retirando deste o máximo
que ele possa oferecer. Quando falamos em automação
destes elementos (componentes), simplesmente estamos atribuindo
a eles maiores responsabilidade ainda das atividades nas quais já
desempenham, e isto, é a evolução, é
a busca da perfeição, é torná-los cada
vez mais importantes para os processos, tirando deles o máximo
de rendimento possível, ressalta o coordenador da Cenibra.
Há casos, no entanto, em que ainda é mais vantajoso
utilizar o 4~20mA como em processos muito rápidos,
em que o tempo de amostragem é pequeno. Há ainda a
questão de preços maiores para a ditigalização
dos instrumentos. O critério para definir qual tipo
de automação utilizar sempre estará relacionado
com a rentabilidade do processo qual o impacto que uma diminuição
de variabilidade do processo irá ter na qualidade do produto
final e na lucratividade da planta, avalia o professor.
Ainda para Ronaldo Ribeiro, a tendência é cada vez
mais os dispositivos de campo estarem interligados via redes de
campo. À medida que a tecnologia evolui, mais e mais
informações que antes não tinham valor agregado
ao produto, passam a ser requisitadas para melhor gerenciamento
destes dispositivos. Não dá para precisar qual padrão
de rede industrial terá maior evolução, mas
observa uma forte tendência em sistemas utilizando o padrão
Ethernet, mas ainda com poucas aplicações industriais.
Os demais padrões, precisarão evoluir, principalmente
no que diz respeito a velocidade de comunicação e
interoperabilidade.
|