Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 114 – Março de 2006
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Sistema de cabos estruturados amplia as fronteiras da TI


Com o avanço das telecomunicações e do valor da informação dentro das organizações, a TI está quebrando uma parede até então intransponível: seus cabos estruturados saem dos escritórios e avançam sob o chão da fábrica. Agora os dados da automação não só percorrem a unidade como chegam ao notebook de um gerente do outro lado do mundo. Essa é uma integração tão nova que suas normas ainda estão em votação na Europa.

“O ambiente fabril é diferente, é agressivo. São máquinas no chão, substâncias no ar, altas temperaturas, a limpeza é feita com material pesado. Daí cabos e conectores não podem ser os mesmos de um escritório”, explica o diretor de marketing da Policom (SP), um dos maiores distribuidores do setor, Luís Fernando Mussolini de Oliveira, que vislumbra cada vez mais a TI como ferramenta competitiva: “A diretoria precisa enxergar a indústria, e também o chão de fábrica precisa saber o que está entrando de negócios na empresa, em tempo real”.

Apesar da boa solução, os relatórios ainda seguem precários, já que o maquinário adota protocolos de grandes fabricantes e nem sempre se intercomunica com os sistemas de TI sem o uso de uma tradução via MES ou PIMS. “Essa integração não será de uma hora para outra. No escritório, o mais importante é a velocidade e qualquer coisa é só reenviar uma informação. Já na automação, só ter velocidade não basta, mas é importantíssimo ter a certeza do envio”, compara Luís Fernando de Oliveira. Já nos Estados Unidos e Europa, segundo ele, essa migração de sistemas está acelerada e já existem processos de automação rodando sobre IP.

As novidades do setor costumam chegar ao Brasil, em média, dois ou três meses após serem lançadas pelas matrizes e fabricantes do setor. Todas têm distribuidores oficiais por aqui, algumas possuem unidades fabris, mas a maioria dos produtos ainda é importada. Como também as normas que, apesar de não serem nacionais, ditam todo e qualquer projeto local. “Fora da norma, não passa; mas a gente ajuda e não cobra a consultoria”, informa Luís Fernando de Oliveira.

A Panduit, por exemplo, fabricante norte-americana – que pretende ser líder no Brasil até 2007, com novidades como conectores que podem ser reutilizados até 10 vezes por não sofrer impacto –, solicita diversos requisitos para autorizar sua garantia de 25 anos. Entre eles, ter a instalação feita por profissionais credenciados, com produtos reconhecidos, passar nos testes e enviar os documentos exigidos. Depois disso, funcionários da Panduit fazem inspeção no local. E, em 2% das visitas, verificam erros. Os mais comuns estão no raio de curvatura, na arrumação e no lançamento dos cabos, que não devem ocupar mais de 40% da área útil das cavaletas.

As normas norte-americanas são as mais populares no Brasil (veja quadro). As européias costumam ser utilizadas pelas empresas de lá ao se instalarem aqui ou em casos como da Avenida Paulista, em São Paulo, região que sofre com muita interferência eletromagnética – uma das causas de “ruído” no sistema de comunicação. Daí, a necessidade de cabos revestidos com malha protetora antes da capa, ou seja, blindados, uma das exigências de um cabeamento ao estilo europeu. “O núcleo é o mesmo, mas a capa difere”, explica Luís Fernando de Oliveira. E o account manager da distribuidora Panduit, Renato Andrade assegura: “95% do que vendemos não são blindados”.

Na prática...

O mercado mundial dita que um edifício, hoje, deve ter cabos estruturados na sua rede de comunicação, caso contrário, enfrentará deficiências, como por exemplo dificuldades em ampliações, incompatibilidade entre soluções e até mesmo risco de segurança com o emaranhado de fios. E o próprio mercado assevera: 70% dos problemas da rede são causados por cabos ruins ou cabeamento mal feito. E Luís Fernando de Oliveira cita dois exemplos que norteiam a questão.

O primeiro foi verificado no prédio do Banco Santos na Marginal Pinheiros, em São Paulo, onde foi construído somente um armário de telecom para acolher os equipamentos, quando o recomendável é um por andar. O escritório de advocacia Pinheiro Neto, que mudou do centro da cidade para o edifício, agora vago com a extinção do banco, teve de instalar outros armários e optou também por mudar todo o cabeamento, utilizando uma marca que já estava acostumado. “Se já tivessem feito corretamente antes, o novo locatário não precisaria esperar, já teria até mudado”, arremata ele.

E o segundo exemplo fala da importância do uso de cabos pelos hospitais, que hoje realizam pela internet cirurgias até sem a presença física do médico na sala. Neste caso, o uso de bons equipamentos não só cirúrgicos, mas de toda rede de comunicação, é “vital ao pé da letra”. “Uma tomografia é um arquivo grande e com cabos mais modernos, ela pode ser baixada até dez vezes mais rápido... É o tempo da vida ou da morte de um paciente”, arremata o profissional da Policom.

Na planilha de instalação de uma rede completa, o cabo figura como o investimento de menor valor: entre 4% e 6%. O restante costuma ser gasto com equipamentos ativos, estações finais de trabalho e softwares – esses respondendo por 50% do total. “Ainda dão ênfase em softwares de gestão e equipamentos de última geração, mas se esquecem que as informações vão utilizar essa infra-estrutura... É o mesmo que imaginar uma Ferrari trafegando em ruas esburacadas”, compara Luís Fernando de Oliveira. Sendo então investimento de baixo custo e evidente valor agregado, porque ainda existem empresas que optam por cabos não-estruturados de solução dedicada, um para voz e outro para dados?

Uma questão pode ser o espaço físico, que sendo antigo e não adequado, dificulta e encarece o projeto. “Existem situações como a de edifícios com lajes enormes, que para furar o concreto a britadeira tem de jorrar água. Sendo habitado, já viu”, revela o account manager da Panduit, Renato Andrade. A necessidade de se abrir buracos que varam o teto é para instalar os backbones, cabos de fibra ótica ou cobre, com maior largura de banda, que são elemento central no atendimento de cada andar com suas conexões horizontais e verticais. “Sua necessidade depende das aplicações utilizadas, mas hoje em dia é necessário cabo de largura maior para aplicações que usam vídeo”, explica o engenheiro de vendas da Nexans, uma das fábricas que lideram o setor, Mateus Henrique Costa. Em janeiro, 12 mil pontos foram equipados pela Panduit na nova sede carioca da Vivo, na Barra da Tijuca. O integrador Brayner levou 45 dias trabalhando 24 horas para entregar a obra, isso porque o prédio estava desabitado.

O trabalho de instalação de cabos estruturados é bem maior do que os cabos convencionais, que não demandam tantos investimentos em equipamento e reforma. Porém, no longo prazo, os cabos estruturados saem ganhando já que a mídia de transmissão tem múltiplo uso e qualquer troca de layout não obriga rasgar uma parede. “Uma simples manobra de rack soluciona e não precisa recolher todo o cabo”, agrega Renato Andrade. A distribuição dos pontos é baseada na área em m2 ao invés do número de usuários. “Um ponto já é considerado rede... E já tivemos concorrência com mais de 18 mil pontos num mesmo prédio”, lembra José Norberto, outro engenheiro de vendas da Nexans, fábrica de origem francesa com unidade em Lorena (SP). E já pensou um projeto dessa envergadura sem cabos estruturados?

Segundo pesquisas, até 25% dos funcionários mudam de lugar dentro de uma empresa num prazo de um ano. O que nesse caso significaria reestruturar 4.500 pontos todo ano. Seria poeira e quebra-quebra sem fim. “Um dos benefícios do sistema é medir, avaliar e responder rapidamente às mudanças, dando eficiência e segurança ao processo”, explica José Maurício dos Santos Pinheiro, especialista em redes de computadores, que assina um artigo sobre o assunto nesta edição da C&I.

O sistema de cabos estruturados é integrado, padroniza interfaces e conectores, suporta diferentes tipos de aplicação e layout, e permite a conexão de qualquer equipamento ou ponto do cabeamento. E surgiu das estruturas de telefonia comercial, onde usuários constantemente mudavam de posição no interior da edificação. “As ilhas de atendimento de call center, em até dois meses, costumam mudar de layout”, afirma José Norberto, da Nexans. Dessa realidade, a estrutura evoluiu e agregou à rede: voz, dados, imagem, controle predial e até o processo de automação.

Na teoria...

A instalação num prédio corporativo está dividida em sete etapas: cabeamento vertical (onde estão os backbones), cabeamento horizontal (rede secundária), área de trabalho, sala de telecom (onde fica o armário e o painel de distribuição), sala de entrada de serviços de telecom, sala de equipamentos (onde estão os ativos de rede e é feito o aterramento) e sala de administração (que gerencia o sistema). O cabeamento vertical é o conjunto de cabos primários, que interliga a sala de equipamentos até os painéis distribuidores; já o horizontal são os cabos secundários, que interligam os painéis às estações de trabalho. Os painéis estão localizados em diversos pontos da edificação, recebem os dois tipos de cabos, e é onde se ativam ou desativam funções. “Sem interferir no funcionamento e na arquitetura do ambiente”, alerta José Maurício dos Santos Pinheiro.

Já o aterramento é uma das grandes preocupações para evitar oscilações e sinais espúrios. É necessário que contemple toda a rede vinculada, disponha de dispositivos protetores e até mesmo de sistema de pára-raios que proteja a estrutura e os usuários. Quando o sistema estiver todo implantado, começam os testes mais diversos, que qualificam o funcionamento. “Esses padrões buscam uma arquitetura aberta, independente de protocolos, que permite o desenvolvimento de soluções que acompanham a evolução tecnológica dos diversos sistemas por eles atendidos”, conclui o especialista.

E existem muitas normas, que determinam uma série de parâmetros para o cabeamento, como: atenuação, comprimento real, mapeamento de fios, paradiafonia e nível de ruído. É do cumprimento delas que surgem, ou não, as garantias de até 25 anos, como é o caso dos produtos da Nexans – se a instalação e conectividade forem feitas pelo parceiro francês Ortronics. Na vistoria final, caso algum item não esteja de acordo, a Nexans pode até aprovar, mas a garantia despenca.

Existem normas até para reger instalações onde há risco de explosão. No caso, cabos de fibra óptica ou metálicos plenum seriam os mais apropriados. Entidades, como: TIA/EIA, ANSI, BICSI e ABNT definiram as normas. E o mercado tem progredido tão rápido que algumas regras caducaram, como a norma completamente brasileira NBR 14565: “Fala dos cabos cat 5 e já estamos trabalhando com cabos 6A”, explica Luís Fernando de Oliveira, lembrando que uma norma substituta já estaria em estudo e em consulta pública. No Brasil, diversos fabricantes e empresas oferecem curso de certificação e treinamento para profissionais desde a elaboração do projeto com seus diversos conceitos até as técnicas para a instalação e manutenção dos sistemas.

Correndo paralelo, mas a léguas de distância, surge uma nova tecnologia que já atende 1% da demanda nos Estados Unidos, o sistema wireless, sem cabo algum. “É prático, mas tem custo elevadíssimo e não atende a segurança”, avalia José Norberto, da Nexans. Enquanto isso, os cabos vão evoluindo e o top da Nexans, o Cat 6 Lanmark 1000, por exemplo, oferece suporte para até 10 gigas – que excede em muito as aplicações atuais.

 


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