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Com o avanço das telecomunicações
e do valor da informação dentro das organizações,
a TI está quebrando uma parede até então intransponível:
seus cabos estruturados saem dos escritórios e avançam
sob o chão da fábrica. Agora os dados da automação
não só percorrem a unidade como chegam ao notebook
de um gerente do outro lado do mundo. Essa é uma integração
tão nova que suas normas ainda estão em votação
na Europa.
O ambiente fabril é diferente, é agressivo.
São máquinas no chão, substâncias no
ar, altas temperaturas, a limpeza é feita com material pesado.
Daí cabos e conectores não podem ser os mesmos de
um escritório, explica o diretor de marketing da Policom
(SP), um dos maiores distribuidores do setor, Luís Fernando
Mussolini de Oliveira, que vislumbra cada vez mais a TI como ferramenta
competitiva: A diretoria precisa enxergar a indústria,
e também o chão de fábrica precisa saber o
que está entrando de negócios na empresa, em tempo
real.
Apesar da boa solução, os relatórios ainda
seguem precários, já que o maquinário adota
protocolos de grandes fabricantes e nem sempre se intercomunica
com os sistemas de TI sem o uso de uma tradução via
MES ou PIMS. Essa integração não será
de uma hora para outra. No escritório, o mais importante
é a velocidade e qualquer coisa é só reenviar
uma informação. Já na automação,
só ter velocidade não basta, mas é importantíssimo
ter a certeza do envio, compara Luís Fernando de Oliveira.
Já nos Estados Unidos e Europa, segundo ele, essa migração
de sistemas está acelerada e já existem processos
de automação rodando sobre IP.
As novidades do setor costumam chegar ao Brasil, em média,
dois ou três meses após serem lançadas pelas
matrizes e fabricantes do setor. Todas têm distribuidores
oficiais por aqui, algumas possuem unidades fabris, mas a maioria
dos produtos ainda é importada. Como também as normas
que, apesar de não serem nacionais, ditam todo e qualquer
projeto local. Fora da norma, não passa; mas a gente
ajuda e não cobra a consultoria, informa Luís
Fernando de Oliveira.
A Panduit, por exemplo, fabricante norte-americana que pretende
ser líder no Brasil até 2007, com novidades como conectores
que podem ser reutilizados até 10 vezes por não sofrer
impacto , solicita diversos requisitos para autorizar sua
garantia de 25 anos. Entre eles, ter a instalação
feita por profissionais credenciados, com produtos reconhecidos,
passar nos testes e enviar os documentos exigidos. Depois disso,
funcionários da Panduit fazem inspeção no local.
E, em 2% das visitas, verificam erros. Os mais comuns estão
no raio de curvatura, na arrumação e no lançamento
dos cabos, que não devem ocupar mais de 40% da área
útil das cavaletas.
As normas norte-americanas são as mais populares no Brasil
(veja quadro). As européias costumam ser utilizadas pelas
empresas de lá ao se instalarem aqui ou em casos como da
Avenida Paulista, em São Paulo, região que sofre com
muita interferência eletromagnética uma das
causas de ruído no sistema de comunicação.
Daí, a necessidade de cabos revestidos com malha protetora
antes da capa, ou seja, blindados, uma das exigências de um
cabeamento ao estilo europeu. O núcleo é o mesmo,
mas a capa difere, explica Luís Fernando de Oliveira.
E o account manager da distribuidora Panduit, Renato Andrade assegura:
95% do que vendemos não são blindados.
Na prática...
O mercado mundial dita que um edifício, hoje, deve ter cabos
estruturados na sua rede de comunicação, caso contrário,
enfrentará deficiências, como por exemplo dificuldades
em ampliações, incompatibilidade entre soluções
e até mesmo risco de segurança com o emaranhado de
fios. E o próprio mercado assevera: 70% dos problemas da
rede são causados por cabos ruins ou cabeamento mal feito.
E Luís Fernando de Oliveira cita dois exemplos que norteiam
a questão.
O primeiro foi verificado no prédio do Banco Santos na Marginal
Pinheiros, em São Paulo, onde foi construído somente
um armário de telecom para acolher os equipamentos, quando
o recomendável é um por andar. O escritório
de advocacia Pinheiro Neto, que mudou do centro da cidade para o
edifício, agora vago com a extinção do banco,
teve de instalar outros armários e optou também por
mudar todo o cabeamento, utilizando uma marca que já estava
acostumado. Se já tivessem feito corretamente antes,
o novo locatário não precisaria esperar, já
teria até mudado, arremata ele.
E o segundo exemplo fala da importância do uso de cabos pelos
hospitais, que hoje realizam pela internet cirurgias até
sem a presença física do médico na sala. Neste
caso, o uso de bons equipamentos não só cirúrgicos,
mas de toda rede de comunicação, é vital
ao pé da letra. Uma tomografia é um arquivo
grande e com cabos mais modernos, ela pode ser baixada até
dez vezes mais rápido... É o tempo da vida ou da morte
de um paciente, arremata o profissional da Policom.
Na planilha de instalação de uma rede completa, o
cabo figura como o investimento de menor valor: entre 4% e 6%. O
restante costuma ser gasto com equipamentos ativos, estações
finais de trabalho e softwares esses respondendo por 50%
do total. Ainda dão ênfase em softwares de gestão
e equipamentos de última geração, mas se esquecem
que as informações vão utilizar essa infra-estrutura...
É o mesmo que imaginar uma Ferrari trafegando em ruas esburacadas,
compara Luís Fernando de Oliveira. Sendo então investimento
de baixo custo e evidente valor agregado, porque ainda existem empresas
que optam por cabos não-estruturados de solução
dedicada, um para voz e outro para dados?
Uma questão pode ser o espaço físico, que sendo
antigo e não adequado, dificulta e encarece o projeto. Existem
situações como a de edifícios com lajes enormes,
que para furar o concreto a britadeira tem de jorrar água.
Sendo habitado, já viu, revela o account manager da
Panduit, Renato Andrade. A necessidade de se abrir buracos que varam
o teto é para instalar os backbones, cabos de fibra ótica
ou cobre, com maior largura de banda, que são elemento central
no atendimento de cada andar com suas conexões horizontais
e verticais. Sua necessidade depende das aplicações
utilizadas, mas hoje em dia é necessário cabo de largura
maior para aplicações que usam vídeo,
explica o engenheiro de vendas da Nexans, uma das fábricas
que lideram o setor, Mateus Henrique Costa. Em janeiro, 12 mil pontos
foram equipados pela Panduit na nova sede carioca da Vivo, na Barra
da Tijuca. O integrador Brayner levou 45 dias trabalhando 24 horas
para entregar a obra, isso porque o prédio estava desabitado.
O trabalho de instalação de cabos estruturados é
bem maior do que os cabos convencionais, que não demandam
tantos investimentos em equipamento e reforma. Porém, no
longo prazo, os cabos estruturados saem ganhando já que a
mídia de transmissão tem múltiplo uso e qualquer
troca de layout não obriga rasgar uma parede. Uma simples
manobra de rack soluciona e não precisa recolher todo o cabo,
agrega Renato Andrade. A distribuição dos pontos é
baseada na área em m2 ao invés do número de
usuários. Um ponto já é considerado rede...
E já tivemos concorrência com mais de 18 mil pontos
num mesmo prédio, lembra José Norberto, outro
engenheiro de vendas da Nexans, fábrica de origem francesa
com unidade em Lorena (SP). E já pensou um projeto dessa
envergadura sem cabos estruturados?
Segundo pesquisas, até 25% dos funcionários mudam
de lugar dentro de uma empresa num prazo de um ano. O que nesse
caso significaria reestruturar 4.500 pontos todo ano. Seria poeira
e quebra-quebra sem fim. Um dos benefícios do sistema
é medir, avaliar e responder rapidamente às mudanças,
dando eficiência e segurança ao processo, explica
José Maurício dos Santos Pinheiro, especialista em
redes de computadores, que assina um artigo sobre o assunto nesta
edição da C&I.
O sistema de cabos estruturados é integrado, padroniza interfaces
e conectores, suporta diferentes tipos de aplicação
e layout, e permite a conexão de qualquer equipamento ou
ponto do cabeamento. E surgiu das estruturas de telefonia comercial,
onde usuários constantemente mudavam de posição
no interior da edificação. As ilhas de atendimento
de call center, em até dois meses, costumam mudar de layout,
afirma José Norberto, da Nexans. Dessa realidade, a estrutura
evoluiu e agregou à rede: voz, dados, imagem, controle predial
e até o processo de automação.
Na teoria...
A instalação num prédio corporativo está
dividida em sete etapas: cabeamento vertical (onde estão
os backbones), cabeamento horizontal (rede secundária), área
de trabalho, sala de telecom (onde fica o armário e o painel
de distribuição), sala de entrada de serviços
de telecom, sala de equipamentos (onde estão os ativos de
rede e é feito o aterramento) e sala de administração
(que gerencia o sistema). O cabeamento vertical é o conjunto
de cabos primários, que interliga a sala de equipamentos
até os painéis distribuidores; já o horizontal
são os cabos secundários, que interligam os painéis
às estações de trabalho. Os painéis
estão localizados em diversos pontos da edificação,
recebem os dois tipos de cabos, e é onde se ativam ou desativam
funções. Sem interferir no funcionamento e na
arquitetura do ambiente, alerta José Maurício
dos Santos Pinheiro.
Já o aterramento é uma das grandes preocupações
para evitar oscilações e sinais espúrios. É
necessário que contemple toda a rede vinculada, disponha
de dispositivos protetores e até mesmo de sistema de pára-raios
que proteja a estrutura e os usuários. Quando o sistema estiver
todo implantado, começam os testes mais diversos, que qualificam
o funcionamento. Esses padrões buscam uma arquitetura
aberta, independente de protocolos, que permite o desenvolvimento
de soluções que acompanham a evolução
tecnológica dos diversos sistemas por eles atendidos,
conclui o especialista.
E existem muitas normas, que determinam uma série de parâmetros
para o cabeamento, como: atenuação, comprimento real,
mapeamento de fios, paradiafonia e nível de ruído.
É do cumprimento delas que surgem, ou não, as garantias
de até 25 anos, como é o caso dos produtos da Nexans
se a instalação e conectividade forem feitas
pelo parceiro francês Ortronics. Na vistoria final, caso algum
item não esteja de acordo, a Nexans pode até aprovar,
mas a garantia despenca.
Existem normas até para reger instalações onde
há risco de explosão. No caso, cabos de fibra óptica
ou metálicos plenum seriam os mais apropriados. Entidades,
como: TIA/EIA, ANSI, BICSI e ABNT definiram as normas. E o mercado
tem progredido tão rápido que algumas regras caducaram,
como a norma completamente brasileira NBR 14565: Fala dos
cabos cat 5 e já estamos trabalhando com cabos 6A,
explica Luís Fernando de Oliveira, lembrando que uma norma
substituta já estaria em estudo e em consulta pública.
No Brasil, diversos fabricantes e empresas oferecem curso de certificação
e treinamento para profissionais desde a elaboração
do projeto com seus diversos conceitos até as técnicas
para a instalação e manutenção dos sistemas.
Correndo paralelo, mas a léguas de distância, surge
uma nova tecnologia que já atende 1% da demanda nos Estados
Unidos, o sistema wireless, sem cabo algum. É prático,
mas tem custo elevadíssimo e não atende a segurança,
avalia José Norberto, da Nexans. Enquanto isso, os cabos
vão evoluindo e o top da Nexans, o Cat 6 Lanmark 1000, por
exemplo, oferece suporte para até 10 gigas que excede
em muito as aplicações atuais.
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