|
Falar sobre qualidade nas empresas brasileiras é
falar sobre o Prêmio Nacional da Qualidade. Surgiu em 1991,
moldado nos critérios da premiação norte-americana
Malcolm Baldrige, e hoje, com seus critérios sistêmicos,
já premiou 23 organizações entre as
318 inscritas nesses anos.
E os premiados mantêm o mesmo rigor após a conquista?
Essa excelência possibilita melhores rendimentos? Segundo
Sergio Queiroz, gerente de processos de avaliação
da Fundação Nacional da Qualidade responsável
pelo PNQ todos os ganhadores continuam membros da fundação,
daí continuam a aplicar o modelo. E sobre possíveis
dividendos: É um tema controverso. Estamos num processo
de mostrar esses ganhos de gestão, mas a resposta de um estudo
encomendado pelo Serasa foi sim!.
Ele se refere à pesquisa feita nos últimos seis anos,
em que se compararam os resultados financeiros de 124 organizações
que utilizam o modelo de gestão baseado no PNQ e outras 1.300,
de igual condição, que não seguem essa cartilha.
A pesquisa atingiu três setores: industrial, comercial e de
serviços. Nesse período, a indústria que adotou
o modelo do PNQ teve faturamento 7% melhor do que aquela que não
adotou. O mesmo aconteceu no comércio (3,5%) e no setor de
serviços (6,3%). E a FNQ começou outra pesquisa com
a FGV e o Ibovespa para reafirmar esse ganho financeiro e também
as melhoras no aspecto ambiental.
Possivelmente o resultado será favorável, já
que para atender os fundamentos do PNQ, uma empresa tem de ser excelente
em doze itens: aprendizado organizacional, proatividade, inovação,
liderança e constância de propósitos, visão
de futuro, foco no cliente e no mercado, responsabilidade social,
gestão baseada em fatos, valorização das pessoas,
abordagem por processos, orientação para resultados,
e visão sistêmica, implantado em 2006, que solicita
coerência entre metodologias e ferramentas, além de
sinergia entre as partes interessadas. Os requisitos são
atualizados anualmente.
Enquanto o PNQ busca respostas existenciais, o autor James H. Harrington,
do Harrington Institute, da Califórnia (EUA), desqualifica
as práticas de excelência. Em seu estudo The
Fallacy of Universal Best Practices, publicado em 2004, Harrington
diz que algumas organizações podem se dar mal ao aplicar,
sem comprometimento real, os critérios do prêmio americano
Malcolm Baldrige.
No Brasil, não há nenhum estudioso que tente ser categórico
em tal afirmação, mas a Yokogawa, por exemplo, é
uma empresa que não trabalha para ganhar prêmios ou
concorrer ao PNQ, muito menos adotar seus critérios: Nossa
gestão está voltada para a visão de nossos
processos e gestão do nosso negócio, explica
o diretor comercial Rual Rousselet Nascimento. E a Yokogawa vai
bem, tem crescido mais de 20% nos últimos cinco anos.
Para todos os portes
Quando alguém imagina algo tão sofisticado, como um
prêmio de excelência, associa a megaempresas. Mas Sergio
Queiroz desmistifica isso com o exemplo de um ganhador gaúcho:
o escritório de engenharia Joal Teitelbaum, que fez toda
a escalada natural de busca ao prêmio. Ganhou os títulos
estaduais, que aplicam pontuação necessária
de 300 a 500 pontos (o PNQ pede 1.000), além de todas as
certificações ISO. E, em 2003, levou o Prêmio
Nacional para sua sede. Ficando neste mesmo exemplo, Joal Teitelbaum
não cresceu, continua de médio porte, mas está
faturando mais.
Para concorrer, de fato, é necessário preencher um
relatório de gestão de 75 páginas e entregar
até junho, pagar taxa entre R$ 2.500 e R$ 14.000 dependendo
do tamanho da empresa e, apesar de não ter ponto de
corte, é melhor buscar resultados acima de 551 pontos, estágio
considerado mínimo na conquista da excelência. Detalhe:
o nível de pontuação atingido pelas vencedoras
nunca é divulgado e a avaliação dos jurados
é subjetiva.
O julgamento acontece de agosto a outubro e tem três fases:
análise individual, análise de concenso e visita as
instalações. Somente 68 das empresas inscritas até
hoje receberam os jurados em seus sites. São 700 voluntários
que participam da equipe julgadora, e cada um oferece 100 horas
em média de trabalho.
Foco na gestão
Em 2005, quatro empresas dos setores de petroquímica, energia
e serviços (o próprio Serasa) conquistaram o troféu.
A gente diz a regra do jogo, mas não diz como aplicar,
explica Sergio, que lembra que as empresas vitoriosas contam sim,
em onze guias que a fundação acaba de lançar,
uma das novidades prometidas para junho de 2006, quando o site oferecerá
produtos, ferramentas e novos sistemas de auto-avaliação,
gratuitos. E a instituição está tão
focada em disseminar a idéia da excelência e não
mais o prêmio em si que até tirou, em junho de 2005,
o p de prêmio de seu nome. Antes FPNQ, agora só
FNQ.
A Siemens, por exemplo, vestiu a camisa da sigla PNQ e incorporou
um s, chamando de PNQS a customização
feita com os critérios do prêmio. Ganhamos em
1998, na área de Telecomunicações, mas esse
processo perdura até hoje, garante o diretor de Gestão
da Qualidade e Gestão Ambiental, Wagner Giovanini, que considera
a premiação uma das cinco melhores do mundo. O
grau de mobilização é muito grande. Para nós
o principal ganho é o uso dos critérios.
A Rockwell é uma empresa que pretende concorrer e busca um
melhor momento para isso. O PNQ é muito forte na parte
analítica, acredita o diretor de atendimento ao cliente
Raul Victor Groszmann. Existem anos de coleta de informação
para mostrar evolução, e agora estamos fechando o
terceiro ano. Ele aposta que o call center da Rockwell, com
engenheiros seniores e certificações internacionais,
será um cartão de visita: Esse quesito é
um dos indicadores e, com certeza, está 100% atendido,
conclui.
Sergio Queiroz admite que existe pelo menos um entrave para se concorrer
ao PNQ: É difícil escrever um trabalho de gestão,
acaba sendo uma barreira, mas estamos tentando simplificar essas
perguntas. E, daí, quem sabe, expandir as empresas
brasileiras de excelência mundial. Hoje, pelos critérios
do prêmio, o país conta com menos de duas dúzias
delas.
|