Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 70 – Junho de 2002
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As evoluções da comunicação em rede – Sérgio Vieira
Emitir conceitos sobre protocolos de comunicação na comunidade de automação pode ser tão polêmico quanto discutir a legalização da pena de morte ou do aborto no país. Sim, porque, querendo ou não, os protocolos de comunicação ainda estão ligados a algum fabricante, mesmo que alguém jure, de pé junto, que não é dono do protocolo. Nesse sentido, falar de uma determinada rede puxa questões como o potencial de exploração de um determinado equipamento ou atuação do mercado.

Há jargões no segmento como “esse protocolo é totalmente aberto”, mas, é fato sabido que uma rede explora ao máximo o potencial de apenas um fabricante ou de um pequeno grupo de associados. Antes de entrarmos nas tendências de algumas redes e pontos polêmicos, vamos relembrar algumas passagens interessantes da história dos protocolos.

Há cerca de dez anos, quando se intensificou a necessidade de comunicação no chão de fábrica das empresas, vários fornecedores iniciaram sua batalha para lançar suas redes proprietárias. Não demorou muito para os usuários perceberem que, uma vez definido qual seria o cabo que ligaria seus instrumentos, estariam fadados ao casamento com aquele fabricante. Ainda hoje o usuário possui uma tarefa árdua, que é a de escolher a rede de seu chão de fábrica.

A partir de 1998, a conhecida “Guerra dos Buses” intensificou a procura por um padrão único de mercado. Segundo Paulo Camargo, presidente da Associação Profibus Brasil, a Guerra dos Buses aconteceu porque o IEC - International Electric Commitee - queria definir qual seria o protocolo padrão de mercado, num momento onde vários protocolos já estavam estabelecidos. “Não houve má intenção do IEC, a idéia era apenas definir padrões”, justifica. Mas para alguns usuários o IEC, na verdade, ficou mais de dez anos procurando sem sucesso por uma norma única. O IEC aprovou então oito protocolos: Profibus, HSE, Foundation, Interbus, SwiftNet, P-Net, ControlNet e FIP.

Nesta fase da história, os profissionais do setor intensificaram a busca pelas falhas existentes e a busca por resultados. Os protocolos que já possuíam uma tradição no mercado permaneceram e o cliente ficou livre para decidir o queria para sua planta industrial.

Aliada à diversidade de protocolos, a Guerra dos Buses também aconteceu devido à resistência dos usuários em aceitar novas tecnologias. A passagem da era analógica para a era digital ainda é algo que estamos vivendo no país, com menos resistência é verdade, mas ainda há muito que ser explorado no mercado brasileiro. O fornecedor, em geral, segundo revelam alguns usuários, precisa trabalhar melhor o lado técnico e deixar o marketing um pouco de lado, principalmente os fabricantes internacionais. Uma recomendação para os usuários que estão começando a digitalizar seus processos é escolher sempre uma rede partindo do processo para a tecnologia, e nunca caminhar no sentido contrário: da rede para a aplicação no processo. Fatores que nada têm a ver com o protocolo, como por exemplo, o suporte no Brasil, precisam ser lembrados na hora de decidir qual rede irá integrar sistemas. Outro ponto muito importante é a compatibilidade de famílias de produtos. Acredite! Não são raros os casos em que versões de um mesmo produto não conversam numa mesma rede.
Paulo Rocha: “Pessoal precisa abrir seus protocolos”.
E quanto ao número de redes existentes no mercado? É suficiente? Bom, pelo que foi constatado com os entrevistados dessa edição, o número de redes para controle de variáveis numa planta é mais que suficiente. O mercado estaria, inclusive, saturado de tanto cabo disputando lugar.

Para Paulo Rocha, gerente de sistemas da Rockwell Automation, algumas redes estão evoluindo mais que outras e, dentro de 10 a 15 anos algumas redes tendem a desaparecer. “Algumas redes não irão sobreviver”. Marcelo Coelho, professor do Centro Nacional de Tecnologia em Instrumentação e Controle de Processos - Cenatec/Senai-Santos - também concorda que há um desenvolvimento maior de algumas redes, mas lembra que é preciso saber qual é a real necessidade do cliente e indicar-lhe a melhor opção do mercado. Desta forma, as redes atuais possuem seu mercado definido e, salvo algumas exceções, não teriam uma concorrência assim tão acirrada.
Camargo: desafio da Ethernet é explorar o melhor de equipamentos distintos
É o caso do Foundation e do Profibus PA na área de controle de processo. “O Foundation é mais completo, mas nem sempre é o mais indicado”, disse o professor. Ele destaca ainda que, em alguns casos, o Profibus PA requer módulos do Profibus DP (usado em manufatura) para algumas conexões. “A grande vantagem do Foundation é a possibilidade de ter blocos de controle no próprio barramento descarregando o controlador”, cita. Algumas complexidades do Foundation seriam sanadas pela imensa gama de produtos disponíveis no mercado.

“No futuro haverá uma maneira mais fácil das redes se comunicarem. Vai chegar num momento que não haverá diferença”, acredita Paulo Camargo, que também é diretor de marketing da Siemens. Essa convergência entre redes seria decidida por usuários e fornecedores, mais por força dos primeiros que dos segundos.

Revoluções da Ethernet

Em um primeiro momento, toda a comunidade técnica elogiou os desafios que a Ethernet está vencendo no chão de fábrica. Entretanto, já foi sentido pelo mercado que, mais uma vez, por trás da descida da Ethernet na pirâmide da automação está o amarramento a algum fornecedor ou alguma rede específica.
Usuários devem partir do processo para a tecnologia
Num ponto todo mundo concorda: a proposta de usar Ethernet para integrar equipamentos é interessante, mas estão sendo dados diferentes passos para essa integração (onde mais uma vez, de uma forma ou de outra o usuário pode ficar um pouco “amarrado” a alguns fabricantes). Ainda são necessários alguns ajustes na Ethernet, como a perda de performance e a confiabilidade, mas há investimentos consideráveis nessa rede devido à complexidade que o ambiente de chão de fabrica vem se tornando ao longo dos anos. Um ponto a ressaltar nessa descida da Ethernet, por exemplo, é o fato de CLPs de marcas diferentes não conversarem num mesmo ambiente. “O pessoal precisa abrir seus protocolos”, sinaliza Paulo Rocha, da Rockwell Automation.

Defendendo seu peixe, Rocha chamou a atenção para as evoluções do Ethernet/IP, conceito baseado em ControlNet nascido na Rockwell. Lançado no último Complete Automation, a Ethernet/IP já possui produtos no mercado e trabalha no modelo produtor/consumidor, onde são realizadas configuraçõe para que o consumidor aceite ou não informações do produtor.

Para Paulo Rocha, o maior desafio da Ethernet, assim como qualquer outra rede aberta, é desenvolver protocolos que explore o que há de melhor nos principais produtos de mercado. “Os fabricantes desenvolvem redes explorando o que de há melhor nos seus produtos”, disse ele, lembrando que ninguém desenvolve redes pensando no que há de melhor nos produtos da concorrência. Na sua opinião a Ethernet não é determinística – e nunca será – e prevê que o mercado vai responder a essa descida da rede num prazo de três a cinco anos.

O Profinet, baseado em Profibus, é outra proposta para o controle de instrumentos usando Ethernet. “Há uma preocupação do Profinet para se integrar o velho e o novo”, diz Paulo Camargo.

Marcelo Coelho, do Senai Santos, diz que ainda não viu nada de concreto na evolução da Ethernet para controlar equipamentos. Ele se lembra de uma palestra interessante que viu sobre o Profinet, mas ressalta que tudo que existe ainda é muito novo para emitir algum conceito sobre o assunto. ”Partindo do princípio que chão de fábrica é a conexão entre o processo e um dispositivo, a Ethernet nunca chegará nesse nível", prevê.

A Schneider Electric também possui uma proposta para o uso da Ethernet no ambiente industrial (com exceção é claro, no nível de dispositivos ou sensores e atuadores). Trata-se da Ethernet TCP/IP em Modbus. “A intenção nossa é não ter mais divisões na automação”, disse Fábio Mielli, gerente de marketing da Schneider.
Ethernet industrial: diferentes passos de fornecedores
Para resolver os problemas de determinismo, a Schneider Electric colocou no mercado o Plublisher Subscriber (evolução do Client Server), ferramenta que deixa informações no fieldbus e aprimora a velocidade na Ethernet. Segundo Mielli, a ferramenta possibilita “compensar” as colisões existentes na Ethernet. Além disso o modelo seria “mais elevado” que o produtor/consumidor. No Plublisher Subscriber estão sendo lançados módulos onde separa-se os instrumentos por grupo e estabelece-se quem deve ler de quem”.

A Schneider também está colocando no mercado o módulo TCP/IP Open, onde o usuário conecta qualquer protocolo. O primeiro produto da empresa a contar com esse módulo é o controlador Modicon TSX Premium. Ainda segundo Mielli, existe uma tendência para colocar o módulo TCP/IP Open no restante da linha.
No futuro, redes se intercomunicarão de maneira mais fácil
Enquete

Você acha que existe espaço para a criação de mais um protocolo no mercado?

Paulo Camargo – Não vejo essa necessidade. A criação de uma nova rede está ligada a uma série de dificuldades. O mercado já está bem consolidado.

Marcelo Coelho - Todas as opções que existem no mercado satisfazem 99,99% do mercado. Os protocolos atendem as exigências dos usuários, mas existe uma falta de diretriz.

Paulo Rocha - Essa pergunta me lembra uma discussão sobre VMS e Unix e qual seria o padrão do mercado. Apareceu um tal de Bill Gates com um tal de Windows que se tornou, praticamente, padrão de mercado. Vem coisa nova por aí, com toda a certeza. Em que direção que isso irá acontecer nós não sabemos. Não há esgotamento de possibilidades.

Lúcia Franco - Não. É muito desgastante o lançamento de uma nova rede. Acho que nós teremos melhorias nas redes existentes. Tornando-se até incompatíveis com as primeiras versões, o que algo natural. É o exemplo do Windows. É natural. Veja o caso das placas de PLCs de 15 anos atrás, não serve para os PLCs de hoje. O custo de se criar uma nova rede é muito grande. Pode ser que aconteça, alguém arrume um jeito de facilitar a automação, mas o caminho leva a crer que os investimentos caminharão no sentido de melhorar as redes existentes para melhorar os problemas que temos por aí.
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