Revista Controle & Instrumentação – Edição nº 234 – 2018



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Tecnologias disruptivas mudam a manufatura

 
 
A manufatura tem puxado para cima o uso intensivo de tecnologias e aplicado técnicas de forma nem sempre óbvia para o momento, desde as primeiras ferramentas. E a jornada de uma ideia para um produto acabado vem ficando mais curta a cada evolução tecnológica. A montagem de um produto pode incorporar peças provenientes de dezenas, senão centenas de fornecedores. E hoje, a combinação de tecnologias, pedidos on-line e logística mais fácil torna possível os produtos não precisarem estar apenas nas lojas físicas.
 
 
O Prof. Dr. Guilherme Canuto da Silva da Universidade Federal do ABC – UFABC, nos lembra da definição da palavra manufatura, que vem do latim manus e factus, que pode ser traduzido como feito à mão. Com o início da indústria, o termo manufatura ganhou a ideia de transformação de matéria-prima em produtos seriados. Percebe-se que a tecnologia – antes totalmente dependente das mãos dos artesãos – se transfere para as máquinas e equipamentos industriais e avança para outros espaços. Agora, os desenvolvimentos se concentram na inserção de elementos advindos da Inteligência Artificial (AI), da Internet das Coisas (IoT) e dos Sistemas Ciberfísicos (CPS), para se alcançar o que conhecemos como Indústria 4.0 (I4.0). A expressão “Industrie 4.0” surgiu na Alemanha, em meados de 2011, para caracterizar uma quarta revolução (ou evolução) industrial. Essa evolução busca, além da integração dos elementos já citados, a entrega de um produto capaz de atender às necessidades específicas do usuário final. Nasce então outra expressão: a “customização em massa”. A customização em massa será uma consequência natural do uso de novas tecnologias na manufatura e assim, em algum instante será possível entregar um produto “A” a um determinado usuário “A”, ao mesmo tempo em que se entrega um produto “B” para um usuário “B”. Considerando inúmeros usuários, tem-se então a customização em massa de produtos. Ressalta-se que algumas tecnologias, que tornarão isso possível, já fazem parte do cotidiano de muitos brasileiros. “O que precisamos, agora, é sair da condição predominante de importadores de tecnologia, e partir para o desenvolvimento de novas tecnologias. E isso só se faz com investimento pesado em educação, ciência, engenharia e tecnologia”, pontua.
 
“Mais do que conhecimento, o trabalhador da manufatura avançada precisa desenvolver competências e atitudes. Com a indústria 4.0, as atividades repetitivas serão definitivamente automatizadas. Restarão ao trabalhador humano os aspectos que a inteligência artificial não consegue suprir, como criatividade, disrupção e inovação. Isso envolve uma maior abertura a aprender sempre, pensar fora dos padrões e trabalhar em equipe,” afirma Bruno Gellert, Coordenador do Grupo de Trabalho de Manufatura Avançada da Abimaq – Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos e fundador da Peerdustry, startup que atua na área de manufatura compartilhada.
 
A questão levantada pelo professor Canuto é da maior importância, principalmente porque há potencial para um grande número de empregos ser automatizado por novas tecnologias – e aqui, vale ressaltar estudo da Escola de Economia de Estocolmo, chamado Substituição do Trabalho: da viabilidade tecnológica a outros fatores que influenciam a automação do trabalho, que postula que, embora a tecnologia tenha um potencial considerável para automatizar certas tarefas, é provável que seja muito raro que um trabalho inteiro seja automatizado. Considere-se ainda que a própria natureza do trabalho é susceptível de mudanças e que o trabalho do homem e da máquina podem se tornar colaborativos e muito próximos.
 
Adam Boyle, diretor global de manufatura aditiva da Emerson, em Singapura, tem sob sua responsabilidade um Centro de Manufatura Aditiva, com forte ligação com o treinamento de mão-de-obra no Instituto Politécnico da Nanyang Technological University (NTU) porque acredita que as habilidades para trabalhar com as tecnologias disrup- t i v a s pedem um outro profissional. “Um dos aspectos mais desafiadores da adoção de novas ferramentas e abordagens para a resolução de problemas reside em combater anos de inércia da força de trabalho. Tomemos a manufatura aditiva como um exemplo: as tecnologias aditivas dão liberdades de design que estão mudando profundamente o que é possível e reescrevendo as regras de fabricação. Todo mundo está lutando para descobrir o que isso significa e como implementar essas tecnologias de forma eficaz. Na nossa experiência, os melhores resultados são alcançados através da diversidade. E os politécnicos são uma ótima maneira de infundir novas ideias, mesmo em equipes experientes para despertar a verdadeira inovação”.
 
Entre as mudanças para um futuro próximo, pode existir trabalho humano, trabalho robotizado, trabalho conjunto, incluindo, ainda, Inteligência Artificial, impressão 3D, manufatura aditiva e outras tecnologias. Hoje, podem-se incluir nesse cenário companhias fabless – que não possuem sites de produção – e outras que utilizam apenas a capacidade ociosa de algumas linhas. E tudo isso conectado pela Internet Industrial das Coisas (IIoT). Então, a questão não é o que é IIoT mas sim, como se pode usá-la agora e no futuro.

A PwC realizou um estudo global, em 2016, intitulado “The Essential Eight emerging Technologies”, em que mapeou mais de 150 tecnologias em discussão nas empresas, start-ups, academia e centros de pesquisa e após ampla avaliação quanto a relevância em diferentes indústrias, viabilidade técnica, escalabilidade global e requerimento de investimento, chegou-se a um grupo de 8 tecnologias emergentes, das quais se espera o maior nível de impacto nos negócios nos próximos 3 a 7 anos. As 8 tecnologias são: IoT (internet das coisas), robótica, drones, impressão 3D, inteligência artificial, blockchain, realidade virtual e realidade aumentada.
 
“É um conjunto de tecnologias cada vez mais disponível e acessível para as empresas, podendo promover, em algum grau hoje ou num futuro próximo, a ruptura de modelos de negócio como existem hoje”, afirma Rodrigo Damiano, diretor líder da consultoria de operações, supply chain e iniciativas de Indústria 4.0 na PwC Brasil.
 
E, à medida que a capacidade dos robôs cresce, as empresas serão forçadas a enfrentar uma série de questões, como o impacto que a robótica terá na força de trabalho e sua influência em áreas como volume e gerenciamento de ativos, uso de energia, segurança, etc. A automação da produção é uma realidade e, em termos de robôs, a média global de unidades é de 74 robôs para cada 10 mil funcionários nas indústrias de manufatura – em 2015 a média era de 66 unidades. O Brasil está muito abaixo da média, com 10 unidades de robôs para cada 10 mil funcionários. E, apesar de serem uma oportunidade para melhorar a produtividade na indústria, robôs são vistos como um desafio e um crescente desconforto entre os sindicatos, governos e reguladores – em uma recente pesquisa da PwC sobre consumidores globais, 25% dos entrevistados achava que a robótica teria um impacto negativo na sociedade; no entanto, 58% disse que esse impacto seria positivo.
 
 
O poder transformador da robótica ainda assusta, assim como aconteceu com a mídia digital, o big data e a IoT, tecnologias que estão transformando a forma como vivemos e trabalhamos. A robótica, cedo ou tarde, será incorporada aos negócios e à vida pessoal. Pode parecer que ainda levará muito tempo, porém, é importante lembrar que há décadas a robótica tem entregado mais velocidade, eficiência e produtividade. As dúvidas são maiores quanto à robótica permitir flexibilidade e adaptabilidade. M, a experiência adquirida com o compartilhamento de dados de máquina para máquina pode tornar mais fácil a mobilidade da produção.

E mais: à medida que os fabricantes adotam uma nova geração de robôs colaborativos, pode surgir um novo relacionamento entre homem e máquina, porque eles são cada vez mais projetados para serem seguros, para diminuir a velocidade quando um humano entra no espaço de trabalho e acelerá-la depois. Tudo acontecendo ao mesmo tempo de maneira segura e gerando mais conhecimento.
 
 
 
“A robótica já é uma realidade em muitas empresas. Os próximos passos incluem o uso de robôs industriais autônomos capazes de interagir com seres humanos sem colocar em risco a saúde e a integridade dos mesmos”, pontua o professor Canuto.

A utilização de a robótica também acontece há algum tempo, mas é considerada uma tecnologia emergentes muito por conta do avanço de sua tecnologia na direção de uma robótica colaborativa, eliminando a necessidade de manter os robôs em verdadeiros cercados – que existem para evitar acidentes – e possibilitar que ele trabalhe não apenas ao lado, mas com o ser humano de maneira segura, garantida por sensores. “De modo geral, podemos esperar mais dessas tecnologias nas indústrias de todos os portes”, afirma Rodrigo, que pede atenção para a necessária mudança no perfil do trabalhador. Postos de trabalho vão desaparecer enquanto outros novos vão surgir; então, são importantes a adaptação e a formação das pessoas para novas demandas no ambiente de trabalho, especialmente na manufatura. Porque esse movimento tecnológico pode gerar desemprego se não houver uma movimentação estrutural para desenvolver novas habilidades na mão-de-obra.

A mão-de-obra vem se adaptando aos poucos, já que, há décadas, têm de lidar com a busca de dados nos controles das linhas de processo e máquinas – porque quando se sabe o que os dados significam e de onde vêm, se pode melhorar o processo, qualquer que ele seja. Em grandes empresas, são claros os benefícios de ter cada ponto da instalação conectado para que o gerenciamento esteja em seu estado ótimo e as melhorias possíveis contabilizadas. Mas, toda essa tecnologia de monitoramento de dados IIoT vale a pena para as pequenas e médias empresas?

Todos concordam que existem benefícios possíveis e mensuráveis com a coleta e análise de dados de máquinas, independentemente do tamanho da operação; mas isso não é tão claro quanto à forma de alcançá-los. Talvez, para operações menores, as aplicações em grandes empresas possam parecer intimidadoras. O foco deve ser, então, como a conectividade vai direcionar a competitividade, a visibilidade, a segurança operacional, etc. E é importante ter em mente métricas que ajudem a transformar em melhoria contínua qualquer negócio. Para o fornecedor de qualquer máquina ou equipamento, dados como vibração e temperatura são fonte de melhoria – mas essa é uma oportunidade para o fabricante, nem sempre para um usuário pequeno... um menor custo de manutenção, quem sabe?

E tudo começa na sensorização então, talvez, para começar a investir em tecnologias disruptivas como as que fazem a IIoT, a melhor estratégia seja focar em pontos que tragam benefícios rápidos, mesmo em pequena escala. Conectar um ponto crítico, obter informações desse ponto e tirar daí qualquer economia – porque, se é um ponto crítico, mesmo esse pouco provavelmente será traduzido em muitos Reais. Se bem executada, essa estratégia vai facilitar outros investimentos. Mas é fundamental saber quais perguntas se quer responder, e não apenas ir colocando sensores e ser inundado por dados que não levem a nada. Porque, com os dados certos e boas métricas, é possível melhorar pessoal e processos, incluindo aí o justin- time da logística e a manutenção preditiva, otimizadas pelas tecnologias IIoT.

Ou você pode terceirizar isso tudo.

Além de tecnologias disruptivas, existem novas leituras de movimentos de negócios que são uma forma natural de continuar a trabalhar, como a manufatura compartilhada ou mesmo grandes market places. Esse modelo não chega a ser uma discussão nova e é característica de algumas indústrias como a de eletrônicos por exemplo, que se utiliza muito de fornecedores desenvolvidos especialmente, como faz a IBM e a Qualcomm, mas que também virou prática regular na indústria de cosméticos, ou como as grandes fabricantes de bens de consumo vendem muito de sua capacidade instalada para as marcas próprias de supermercados, especialmente em mercados maduros. Uma grande fabricante multinacional de alimentos por exemplo terceiriza sua produção de ovos de páscoa porque não faz sentido dimensionar sua operação produtiva em função de uma demanda tão sazonal, ainda que grande. Segundo Rodrigo, algumas empresas já terceirizam toda sua produção: porque manter um parque industrial complexo se há possibilidade de desenvolver fornecedor e focar no core business de como desenvolver sabores na indústria de alimentos e coleções de roupas e sapatos na indústria de vestuário, por exemplo?
 
 
Bruno Gellert explica que a manufatura compartilhada é a aplicação dos conceitos de economia compartilhada à manufatura, com algumas adaptações para a realidade da indústria. A Peerdustry tem adotado, em vários casos, o formato de “manufatura na nuvem”, ou seja, vende as peças para o cliente e as produz em sua rede de fornecedores cadastrados, simplificando a relação com o cliente final. Para ele, acima de tudo, é importante entender, projeto a projeto, quais processos industriais precisam ser envolvidos. Por isso, a homologação das máquinas e das empresas é detalhada, para avaliar o nível de precisão, escala, flexibilidade, níveis de segurança e qualidade, entre outros fatores. Isso para assegurar o match perfeito entre cliente e fornecedor. Note-se que a manufatura compartilhada é uma solução interessante mesmo para quem tem um parque produtivo. Por exemplo, na fabricação de peças de reposição. Muitas vezes o custo de importação da peça original é proibitivo, porém, é possível produzir o mesmo componente no Brasil usando a rede de manufatura compartilhada. Outro caso é o desenvolvimento de protótipos ou produtos de baixa escala de produção.

“A base do modelo de negócio da manufatura compartilhada é a smile curve, um gráfico que olha as etapas de um produto, desde o projeto até a venda. Ele tem o formato de um sorriso, porque aponta que a geração de valor está concentrada nas etapas de desenvolvimento e marketing, enquanto que a produção agrega cada vez menos valor ao produto individualmente. Por isso, as empresas com foco em produto se concentram no projeto e no marketing, deixando a produção para empresas especializadas em processos industriais. Estas podem tirar proveito dos ganhos de escala decorrentes da produção de projetos de diversas empresas diferentes, otimizando o seu retorno sobre o capital”, afirma Bruno.

Mas, a manufatura compartilhada não é só um aluguel de capacidade de terceiro. Em geral, o cliente não aluga uma máquina diretamente, mas contrata a hora de máquina parada para produzir o seu projeto. Então, pode-se definir esta relação como prestação de serviço de manufatura, especialmente quando o cliente adquire a matéria prima e o fornecedor apenas aplica o processo industrial.

“O uso compartilhado de máquinas e equipamentos permite que terceiros, internos ou externos de uma organização, produzam com uso de máquinas ociosas. Esse conceito, associado à IoT, permite que se produza mais e com um número ótimo de máquinas. A manufatura aditiva, como o próprio nome sugere, tem como princípio a manufatura de um produto por meio da adição de matéria prima, normalmente em camadas sucessivas. Este tipo de tecnologia permite a manufatura de produtos específicos, complexos e funcionais, o que fundamenta por exemplo, o conceito de customização em massa”, pontua o professor Canuto.

Adam Boyle acredita que a manufatura compartilhada tem o seu lugar. Para o executivo da Emerson, à medida que novas tecnologias são introduzidas, a oportunidade de melhorar a utilização e a propagação de custos de capital e infraestrutura é atraente, particularmente para os pequenos players. “No entanto, a manufatura compartilhada continuará a ser um desafio, uma vez que as empresas maiores procuram estabelecer distâncias competitivas através da vantagem de ser o primeiro e de ter a propriedade intelectual.”

Hoje, além de terceirizar a produção, também é possível reduzir o time-to-market de um novo produto – que pode ser montado com centenas de peças, de diferentes fornecedores, e ter ainda variações determinadas pelo comprador, virtualmente. O tempo da ideia de produto às mãos do usuário, passando pela prototipação, produção e logística, pode ser bem menor com as novas tecnologias – das quais a estrela é a impressão 3D que, em alguns nichos de tamanhos de peças ou tipos de material e aplicação, é tratada por manufatura aditiva.

“A terminologia nesse espaço ainda está evoluindo, mas a manufatura aditiva é essencialmente sinônimo de impressão em 3D. Contudo, os termos podem ajudar a separar as tecnologias de impressão industrial mais adequadas para protótipos daquelas voltadas para a produção de pequenos volumes. O termo manufatura aditiva também vem sendo adotado como a terminologia preferida pelas organizações de padrões; então, acredito que o termo impressão 3D tende a ser menos frequente no espaço industrial”, pontua Adam Boyle.

Segundo Rodrigo, o setor de peças de reposição está sendo o primeiro a ser fortemente afetado com a impressão 3D, o chamado after Market tem uma demanda de consumo mais bem definida e com maior previsibilidade, além do perfil de consumo unitário e específico. É uma nova discussão: a possibilidade de uma manufatura customizada versus a produção em grande escala.

A questão da impressão 3D desafia o movimento de globalização da manufatura e logística, o movimento offshore para mercados emergentes, que buscava locais com menores custos de mão de obra e industrialização. Apesar de ainda existirem alguns desafios como a qualidade com o acabamento fino em alguns tipos de materiais, maturidade e viabilidade técnica e o know-how na impressão 3D, já se percebe um movimento de repatriação dessas manufaturas, para estarem mais perto do consumo, o chamado “near source”. Com a impressão 3D, é possível estar perto do cliente com farms – fazendas de impressão, grande parque de impressoras, sem precisar ter uma fábrica, sem todo o custo de logística de uma operação global.
 
 
“Esse cenário ainda é uma visão para a maioria das indústrias, é algo pontual por conta das questões de escala já que a intenção aqui é ter a capacidade de customizar a peça em qualquer quantidade, com velocidade e qualidade. As principais iniciativas em andamento são com peças de reposição que já têm o perfil para customização e baixa escala. Por enquanto, essa característica – a escala – é um dos principais determinantes para a adoção, além dos outros desafios citados anteriormente. Mas é bom lembrar que as tecnologias evoluem rápido”, frisa Rodrigo.

“Algumas indústrias, como automotiva, linhas aéreas e militar estão mudando para um modelo de negócio com baixos níveis de inventário e para tal, estão buscando instalações ou operações de impressão 3D para produção de peças de reposição”, exemplifica Rodrigo.

Produtos de consumo em massa ainda são pensados dentro da manufatura tradicional. Sem contar que a realidade hoje são impressões 3D com certa limitação de velocidade, dependendo do material utilizado. Então, essa impressão pode não se viabilizar em função do tempo. Como lembra o executivo da PwC, é preciso ter sempre em mente alguns trade offs como custo logístico versus o throughput da produção e working capital, considerando qualidade e o tipo de material. Mas quem atua na área de manufatura tem de estar atento, é algo que em algum momento vai ser realidade para a maioria das indústrias.

Corroborando isso, um levantamento do IDC estima que os gastos globais em tecnologias de impressão 3D atinjam US $ 12 bilhões em 2018. De fato, a manufatura aditiva pode ser a oportunidade de as manufaturas virarem o jogo e repatriarem suas produções, mas é preciso andar rápido. Faz tempo que a China gera tecnologia e, mesmo com reputação de fabricação de grandes volumes, já oferece serviços de prototipagem rápida e fabricação de baixo volume, potencialmente a um custo menor do que os equivalentes ocidentais, com bom acabamento e certificação. Claro que, até certo ponto, isso depende da tecnologia, porém, em geral, as peças impressas apresentam propriedades mecânicas favoráveis quando comparadas com materiais tradicionais. “Essa é uma indústria emergente e é importante trabalhar com empresas respeitáveis que investiram em programas e processos de P & D para garantir testes adequados”, lembra o professor Canuto.

A Ultimaker, por exemplo, é o fabricante de impressoras 3D que a Bosch alemã escolheu para compor seu departamento de manufatura aditiva em diferentes locais de toda a Alemanha, Hungria, China, Índia, Estados Unidos e México, para a impressão de protótipos, ferramentas, gabaritos e dispositivos elétricos – a fim de aumentar a inovação, reduzindo os custos de fabricação e design. Na outra ponta, a chinesa 3ERP é uma empresa certificada ISO9001-2015 pela TÜV que oferece prototipagem rápida e fabricação de baixo volume, fabricando um design acabado em questão de horas.
 
 
Adam Boyle ressalta que mais o rápido é relativo. “Em muitos casos, o tempo de ciclo associado à produção de uma peça usando uma tecnologia aditiva é substancialmente maior do que uma tecnologia mais tradicional. No entanto, as tecnologias aditivas podem compensar seus tempos de ciclo mais longos, através da flexibilidade e da eliminação dos custos de transação. Quando usadas corretamente, as tecnologias aditivas podem eliminar a necessidade de inventário complexo de matérias-primas e cadeias de suprimentos, ferramentas de fabricação e acessórios e, em muitos casos, etapas de montagem. Ao reduzir essa complexidade e todas as interações associadas, o aditivo pode começar a parecer muito rápido”.

A utilização da manufatura aditiva ou impressão em 3D na indústria depende do tipo de fábrica e do escopo de tempo de que se está falando. As tecnologias aditivas geralmente demonstram economias inversas de escala, ou seja, quanto menos unidades de uma determinada peça, mais adequada é a manufatura aditiva. Então, a tendência é que ela se instale em indústrias de menor volume. No entanto, as tecnologias aditivas também aumentam substancialmente a liberdade de design e, à medida que novos produtos são introduzidos com componentes que não podem ser produzidos de qualquer outra forma, haverá a expansão inevitável dessa tecnologia para suportar esses componentes.

“As impressoras 3D estarão localizadas numa produção de resposta rápida, então, uma plataforma de petróleo é um lugar possível; algumas unidades militares já colocam impressoras 3D em navios para esse propósito. No entanto, no estado atual da tecnologia, o uso de tais capacidades de impressão a bordo provavelmente seria melhor relegado para aplicativos não críticos. No curto prazo, parece mais provável que essas tecnologias sejam implantadas para criar uma rede de suprimentos mais efetiva e responsiva. Mas, isso pode mudar à medida que a tecnologia avança”, comenta Adam Boyle, lembrando que a Emerson está sempre atenta a novas tecnologias e progredindo na Indústria 4.0 e nos conceitos de fabricação digital, tanto em suas próprias unidades – através da implantação de tecnologias de manufatura aditiva – quanto em seus clientes – através de todas as tecnologias disponibilizadas pelo seu ecossistema digital Plantweb. Tanto, que foi recentemente reconhecida por seu trabalho neste espaço com o prêmio “Empresa IoT do Ano”, pela IoT Breakthrough, prêmio que reconhece a inovação e liderança da Emerson na condução das tecnologias e estratégias industriais da IoT para clientes nas indústrias de manufatura, incluindo petróleo e gás, alimentos e bebidas, química, ciências da vida, energia, água, águas residuais e outros.

“Há um movimento forte de empreendedorismo digital envolvendo a indústria no Brasil. Fazemos parte de uma rede de startups que oferecem projetos envolvendo IoT, Big Data, Inteligência Artificial e engenharia com apoio de computador, entre outras. Várias soluções brasileiras são únicas no mundo. A vantagem da startup de indústria brasileira é que ela conhece os desafios do nosso parque industrial, que, muitas vezes, é mais antigo que em outros mercados, e consegue oferecer um caminho para a manufatura saltar do 1.0 ao 4.0 rapidamente. Além disso, o programa Startup Indústria da ABDI tem sido fundamental para fortalecer esse movimento”, conta Bruno.

Não dá para não acompanhar as novas tecnologias e suas possibilidades nos diversos setores da sociedade. E assim como as tecnologias são disruptivas, os riscos que as acompanham também. Uma visão dessas interações pode ser encontrada na ideia trabalhada pela PwC de um mundo em versão beta (the world in beta): se tem de pensar qual modelo de negócio faz sentido, e não necessariamente restringir o negócio a tecnologias possíveis para implementá-lo. Rodrigo explica: “a Uber, por exemplo, não teria lançado seu negócio se parasse nas restrições – que ela enfrenta agora. Ela entrou no mercado como se fosse um beta: dá para entrar no mercado com esse modelo? E ir enfrentando e resolvendo os problemas conforme forem aparecendo. Assim é o mundo em que vivemos hoje”.

A PwC não atua somente num segmento de serviço específico, nossa consultoria é pensada e estruturada para atender nossos clientes da Estratégia à Execução, trabalhando tanto para as grandes corporações. Mas, também, para as pequenas e médias empresas.

“O uso ou não de uma determinada tecnologia está relacionado com a necessidade da indústria, e não com a disponibilidade da tecnologia. Portanto, acredito que o alcance depende muito mais da necessidade e de um custo acessível ao investidor. Ensinar isso é um processo natural, para aqueles que se preocupam com a qualidade do ensino de engenharia. Novas pesquisas resultam em novos conhecimentos. Estes por sua vez, podem ser introduzidos em disciplinas específicas dos cursos de engenharia e de tecnologia. É um processo contínuo de melhoria do ensino. Vale lembrar que muitas destas tecnologias já existem; contudo, são utilizadas de forma isolada. O desafio é fazer o uso integrado disso tudo em um mesmo ambiente de manufatura. Daí a necessidade constante em pesquisa, desenvolvimento, e atualização do ensino. Só assim uma nação pode realmente se tornar forte, independente e duradoura”, diz o professor Canuto.

Então, nas próximas décadas, você poderá fazer um desenho em um guardanapo de papel, enviar uma foto dele e ter dúzias de possibilidades de produção em todo o mundo. Mais um dia, e sua peça acabada, fabricada sob suas especificações, será entregue diretamente onde você determinar. Sendo um fabricante que vive nesse mundo hipotético, que tipo de fábrica você escolheria?
 
A PwC fez um trabalho profundo, intitulado “O futuro das spare parts é 3D – um olhar sobre as mudanças e as oportunidades da impressão 3D”, onde conta como, desde a sua criação, há mais de 30 anos, a manufatura aditiva, mais conhecida como impressão 3D, avançou e se tornou uma tecnologia com um mercado que atingiu US $ 5,1 bilhões, em 2015 e que vem crescendo numa em média 30% a.a. nos últimos quatro anos, de acordo com o relatório de 2016 da Wohlers.
A Gartner Research estima que, até 2019, o mercado vai comprar cerca de 5,7 milhões de impressoras 3D anualmente, em comparação com as 500 mil de 2016. Uma razão para esse crescimento exponencial é que a impressão em 3D facilita projetos complexos que não podem ser realizados com tecnologias de fabricação convencionais. Embora a tecnologia tenha amadurecido ao longo dos últimos cinco anos e os custos diminuíssem significativamente, a produção de peças complexas e de baixo volume com impressão em 3D é economicamente viável apenas nos casos em que reduz a complexidade e os custos da cadeia de suprimentos.
Mas, a impressão 3D está prestes a mudar tudo. Essa tecnologia, usada há muito tempo na prototipagem de novos produtos, permitirá que os fornecedores façam e enviem peças sob demanda, e façam isso localmente, perto de onde as peças são necessárias. E, ainda, as empresas podem optar por imprimir suas próprias peças, ignorando os fornecedores completamente.
Em uma pesquisa realizada no final de 2015 com 38 empresas alemãs, os entrevistados concordaram que a impressão em 3D desempenhará um papel importante no negócio de spare parts. A pesquisa pode ser resumida em nove pontos principais:
 
 
 
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